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Reajuste de salários, isenção de IR e bolsas de pesquisa elevam custos da União em mais de R$ 37 bi

Despesa pode aumentar em mais R$ 20 bilhões se considerar estimativa de aporte financeiro para o programa Desenrola Brasil 

Brasília|Bruna Lima e Plínio Aguiar, do R7, em Brasília

Lula anuncia reajuste dos servidores em reunião com lideranças sindicais
Lula anuncia reajuste dos servidores em reunião com lideranças sindicais Lula anuncia reajuste dos servidores em reunião com lideranças sindicais

As medidas anunciadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) elevam a despesa da União em mais de R$ 37 bilhões ao ano. Os cálculos, feitos pela reportagem por meio de estimativas de especialistas e da própria equipe econômica do Executivo, levam em conta o aumento do salário mínimo, o reajuste do pagamento de servidores, a isenção do Imposto de Renda (IR), além dos incrementos nos valores das bolsas de pesquisa. 

O valor de R$ 1.320 para o salário mínimo foi proposto pela equipe de transição do governo Lula. À época, o grupo técnico estimou aumento de R$ 7,7 bilhões ao ano com a atualização, que foi a seguida pelo presidente. A medida começa a valer a partir de maio. 

Nos cálculos do Banco XP, o reajuste do salário mínimo a partir de maio deve impactar em R$ 5,2 bilhões em 2023. A instituição também calculou incremento de R$ 10 bilhões às despesas da União neste ano com o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda.

Além da alteração do mínimo, que atualmente é de R$ 1.302, Lula anunciou na quinta-feira (16) que a isenção do Imposto de Renda subirá para R$ 2.640 também a partir de maio. A faixa de isenção atual do IR é de R$ 1.900.

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Leia também: Governo propõe reajuste de 7,8% no salário de servidores públicos federais

Considerados os 12 meses, as estimativas da XP de custos são de R$ 7,8 bilhões para o mínimo e R$ 16 bilhões relativos à isenção do IR. A promessa feita por Lula era a isenção para quem ganhasse até R$ 5.000, e ainda há a previsão de que essa faixa seja contemplada, mas de forma gradual. Em uma simulação, a XP calcula que a perda de arrecadação acumulada em quatro anos de governo seria de R$ 470 bilhões, caso todos os que recebem até R$ 5.000 estejam isentos ao fim de 2026. 

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"A proposta de elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda é viável apenas com mudanças estruturais significativas", avalia o economista da XP responsável pela análise, Tiago Sbardelotto. Ele ressalta ser necessário implementar a medida de forma gradual para reduzir custos, mas também reforça a necessidade de ações compensatórias, "como a tributação de lucros e dividendos, a criação de uma nova faixa com alíquota mais elevada e a instituição de um limite para doações".

Reajuste salarial e bolsas de estudo

Nesta sexta-feira (17), o governo federal propôs a representantes de sindicatos um reajuste salarial de 7,8% para todos os servidores públicos federais a partir de 1º de março. A proposta também inclui um aumento de R$ 200 no vale-alimentação dos funcionários públicos da União. Nesse caso, o benefício seria reajustado em 43,6%, passando dos atuais R$ 458 para R$ 658.

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O impacto nas contas públicas com o reajuste dos salários dos servidores é de R$ 11,2 bilhões ao ano. Os valores destinados a esses pagamentos foram previstos na aprovação do Orçamento de 2023, assim como o mínimo fixado em R$ 1.320. 

No caso dos aumentos nas bolsas de pesquisa, o cálculo é de um aporte de R$ 2,4 bilhões ao ano em recursos do Ministério da Educação e do Ministério da Ciência e Tecnologia. O reajuste varia entre 25% e 200% para as bolsas de graduação, pós-graduação, iniciação científica e na bolsa-permanência em todo o país. Os novos valores vão vigorar a partir de março deste ano.

Despesas e dívida pública

Somando todos esses incrementos anunciados, o governo federal gastará mais R$ 37,3 bilhões ao ano. A conta não inclui o programa Desenrola Brasil, que prevê financiamento para pagamento de dívidas com desconto a pessoas que recebem até dois salários mínimos. A iniciativa é uma promessa de campanha de Lula, que aguarda lançamento. 

A estimativa é que o Tesouro Nacional precise entrar com aporte de R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões para um fundo garantidor ao programa. Se confirmado, os gastos da União com as novas ações podem ultrapassar os R$ 57 milhões. 

Os anúncios ocorrem em um momento em que o Executivo lida com um déficit nas contas públicas que, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está na casa dos R$ 300 bilhões. Oficialmente, o número anunciado pelo governo é de R$ 231,5 bilhões. No entanto, Haddad incluiu na conta desonerações autorizadas pelo governo Bolsonaro nos últimos 15 dias do ano passado (em torno de R$ 20 bilhões), além da perda de arrecadação dos estados com as mudanças nos cálculos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Leia também: 'Desenrola', programa do governo Lula para renegociação de dívidas, 'não resolve', apontam especialistas

"Na prática, a renúncia é tudo o que o governo perde de arrecadação tributária. O governo concedeu uma isenção nos combustíveis, por exemplo, e perdeu imposto federal e paralelamente tem que justificar que essa renúncia está sendo suportada por um remanejamento de outra verba, que não será impactada e não cria mais despesas", explicou o economista e advogado Alessandro Azzoni, que também é conselheiro deliberativo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

"Já os custos entram como despesas correntes, de custeio. Obviamente, acaba aumentando as contas públicas. E aí entra a questão do déficit público. Tem que ter uma contrapartida também. Por exemplo, no ano passado, quando o governo concedeu o auxílio de R$ 600, ele tirou de lucros da Petrobras e da venda da Eletrobras para sustentar a medida", completou, alertando para a necessidade de o governo remanejar recursos. 

A reportagem acionou o Ministério da Fazenda para saber como o governo pretende remanejar os recursos para não aumentar a dívida pública. Até a publicação desta matéria, não houve resposta, e o espaço segue aberto para a manifestação. 

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