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R7 Brasília

Relatório aponta que general Cid usou estrutura da Apex para negociar joias nos EUA

Agência, ainda, afirma que pai do ex-ajudante de ordens recebeu corretor que transportou os objetos de Orlando para Miami

Brasília|Do R7


General foi exonerado do cargo em janeiro de 2023 Reprodução/Alesp

O relatório da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) apontou a “prática de delitos e graves desvios de conduta” durante a gestão do general Mauro Lourena Cid à frente do escritório. No documento, a empresa atesta que o pai do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizou a estrutura da instituição para receber o corretor de imóveis que transportou as joias, no âmbito do suposto esquema de venda ilegal de presentes presidenciais. Além disso, a Agência atestou a presença de funcionários fantasmas e uma “resistência explícita de Cid ao resultado eleitoral” de 2022.

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As investigações foram realizadas por técnicos da empresa, que está localizada nos Estados Unidos. Ao todo, 16 pessoas foram ouvidas e documentos internos foram analisados. Segundo as apurações, Cid utilizou o celular funcional para tirar as fotos obtidas pela Polícia Federal, que mostram o reflexo no general com um dos presentes supostamente desviados.

Veja os principais pontos descobertos:

Uso da estrutura para receber joias presidenciais

Celular e computador funcional

Já demitido do cargo, o general utilizou o celular funcional para compartilhar fotos das joias e objetivos de artes atribuídos ao ex-presidente Bolsonaro. A constatação foi feita a partir de mensagens obtidas pela Polícia Federal. Cid deixou o cargo no dia 3 de janeiro de 2023, e as imagens teriam sido enviadas um dia depois. Segundo depoimentos, o militar tirou as fotos no gabinete que ocupava como chefe do escritório. O mesmo aparelho celular, segundo o relatório, continuou a ser usado até o dia 7 de fevereiro, inclusive para conversar com o filho, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, coronel Mauro Cid.


Reflexo de rosto em caixa de joias 'denunciou' pai de Mauro Cid Reprodução/Polícia Federal

O celular foi devolvido, mas os dados foram apagados de maneira irregular por um servidor. Já o notebook funcional, só foi entregue em 17 de janeiro. “Em ambos os casos, foi contrariado o procedimento padrão de devolução e apagamento dos dados de equipamentos da ApexBrasil, que devem ter sua integridade atestada e seus dados apagados por uma empresa prestadora de serviços de tecnologia contratada da Agência”, disse o relatório.

Crachá e Wi-fi

O documento também afirma que o general manteve o crachá de acesso ao prédio da instituição até o dia 9 de janeiro. Três dias antes, Cid recebeu um e-mail com uma senha para conectar com a rede Wi-fi do local.


“O relatório da Comissão concluiu que ficou comprovada a presença de Mauro Cid no EA [escritório] semanas após a sua demissão, tempo suficiente para agir conforme seus interesses e afastar qualquer evidência.”

Corretor no gabinete oficial

Um exame feito na agenda do general mostrou que em 1º de agosto de 2022, ele recebeu no gabinete o corretor de imóveis Cristiano Piquet, da Piquet Realty, que confessou à PF ter transportado uma mala de joias do ex-presidente Bolsonaro de Orlando para Miami, cidade onde fica o escritório da Agência.


Segundo a Apex, depoimentos revelaram ainda a frequência de pessoas alheias aos negócios da instituição no gabinete, sem registro em agenda. Depois da sua exoneração, o general esteve no escritório acompanhado da mulher e do filho Mauro Barbosa Cid, tendo ficado trancados na antiga sala por algumas horas.

‘Resistência explícita ao resultado eleitoral’

Os depoimentos colhidos pelos técnicos da Apex também mostraram que o general manifestava repetidamente aos funcionários uma convicção de que “mesmo após eleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tomaria posse e de que ele continuaria em seu cargo à frente do escritório”. Na avaliação da comissão, tal expectativa pode ser lida a partir da ruptura institucional que, na ocasião, articulava-se em setores militares e que culminou na tentativa golpista de 8 de janeiro de 2023.

LEIA MAIS: Colega de Bolsonaro, cargo no exterior e aposentadoria de R$ 42 mil: veja quem é o pai de Mauro Cid

O documento também afirma que no dia 3 de dezembro de 2022, Cid visitou o acampamento montado em frente ao QG do Exército, em Brasília. Ele estava acompanhado por dois funcionários, apontados como os “os servidores mais próximos do general”.

Agenda de “baixo perfil”

A análise da agenda também apontou, segundo o documento da Apex, que Cid “jamais fez proposições voltadas à exportação ou captação de investimentos. Não solicitou relatórios, tampouco avaliou resultados”. Segundo relatos unânimes, o general aprovava todas as propostas levadas a ele, sem aprofundar conteúdos, sugestões ou reparos.

Anexo consular

As investigações internas mostraram que escritórios da Apex em Miami ganhou a condição diplomática de “anexo consular”. Na prática, ela dá aos dirigentes do escritório benefícios e imunidades concedidas a diplomatas, como, por exemplo, maiores facilidades para obtenção de vistos. “A direção da ApexBrasil já iniciou tratativas junto ao Ministério das Relações Exteriores para rever esse status”, ressaltou o relatório.

Funcionário fantasma

As apurações da Comissão a contratação do médico de Jair Bolsonaro, que segundo relatos colhidos, foi imposto à equipe, contratado pela sede em Brasília e expatriado por meio de instrumentos de excepcionalidade em abril de 2022. Segundo o relatório, o médico não desenvolvia nenhuma atividade profissional que mantivesse ligação com o cargo de assessor, e nem frequentava as dependências do escritório. “O fato configura uma contratação fraudulenta.”, afirma.

Foto com o então presidente Bolsonaro, Mauro Cid e o médico Ricardo Camarinha durante em 2021 Reprodução/Redes Sociais/@ricardo_camarinha

Falta de controle

Os fatos constatados pela agência apontam para “a negligência do general Lourena Cid em suas funções à frente do [escritório de] Miami”. Entre os pontos identificados, estão a desobediência às Instruções Normativas da Agência sobre home office e teletrabalho, a falta de controle de frequência ou acesso ao escritório.

Próximos passos

As conclusões obtidas no relatório vão ver enviadas para o STF (Supremo Tribunal Federal), TCU (Tribunal de Contas da União) e a PF (Polícia Federal). Por meio de nota, a diretoria da Apex decidiu fazer uma “uma intervenção no escritório de Miami, designando temporariamente para seu comando servidora da Agência qualificada e experiente, com a missão de avaliar todos os aspectos de sua funcionalidade operacional e negocial e propor completa reestruturação. Este trabalho encontra-se em fase de conclusão”, concluiu.

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