Ricardo Barros agendou reunião em ministério, diz sócio da Belcher
Emanuel Catori negou, contudo, que reunião tratasse de vacinas
Brasília|Isabella Macedo e Sarah Teófilo, do R7 Brasília,
O sócio da Belcher Farmacêutica, Emanuel Catori, afirmou à CPI da Pandemia, nesta terça-feira (24), que a reunião que participou no Ministério da Saúde foi marcada pelo deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara. Em resposta aos questionamentos do relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), Catori disse que a reunião com o ministro Marcelo Queiroga foi marcada por Barros, mas que não foi tratado de vacinas no encontro.
Calheiros pediu ao depoente para que ele fizesse uma cronologia sobre a negociação com a farmacêutica CanSino e a oferta do imunizante Covidencia ao Ministério da Saúde. Segundo Catori, Belcher e CanSino estabeleceram um termo de confidencialidade em 6 de abril, e a carta de autorização para que a Belcher representasse o laboratório chinês se deu no dia 19 daquele mês. O relator destacou, em seguida, que a reunião no Ministério da Saúde, realizada no dia 15, aconteceu já com um vínculo entre as empresas para a venda da vacina. O depoente contestou que não poderia falar sobre o imunizante por ter apenas a carta de confidencialidade, que não se caracterizava como um contrato como representante da CanSino.
“Não é um contrato, mas já o coloca na questão sobre a qual iria tratar com o ministro, que disse que as negociações estavam em aberto, inclusive com a presença do deputado Ricardo Barros na audiência, o líder do governo. Aliás, a audiência tinha sido marcada para ele. E ele, adicionalmente, levou à vossa senhoria. É uma contradição muito grande no início do depoimento”, avaliou Renan Calheiros.
Questionado sobre a relação com a CanSino e com o Ministério da Saúde, Catori usou a prerrogativa de se manter em silêncio. Perguntado sobre qual empresa teria sido a facilitadora empresarial, ele negou que Barros fosse um "facilitador político" no contato com o Ministério da Saúde. Os senadores destacaram ainda a participação de Ricardo Barros na reunião com uma fotografia que mostra o líder do governo, sem paletó — detalhe ironizado por Aziz —, ao lado do ministro Queiroga.
“Olhem à vontade como está o 'Ministro' Ricardo Barros. É o próprio ministro ali, sem paletó, se sentindo em casa, não é? 'Quem manda aqui sou eu'. Aí, tira o paletó numa audiência com o ministro [da Saúde]. Todos vocês com paletó, e ele se sentindo como se estivesse... Ali quem manda é ele, está vendo?”, pontou Aziz.
Contradições
Em análise elaborada pela equipe do relator, a contradição sobre a reunião foi destacada com a celeridade com que a Belcher foi recebida. “Enquanto o MS recusava contatos com a Pfizer, priorizava atendimento a Ricardo Barros, Belcher, CanSino, Covaxin, Precisa, etc.”, aponta a síntese da equipe de Calheiros.
A rapidez das tratativas também foi citada pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), em relação à assinatura da carta de intenção de compra com a pasta. “Entre a apresentação do pedido ao Ministério da Saúde, que se deu exatamente no dia 27 de maio, e a emissão da carta de intenções, houve apenas sete dias. Se o mês de maio teve 31 dias, então, oito dias entre o pedido junto ao Ministério da Saúde e a emissão da carta de intenção de compras. [...] E aí, portanto, houve uma rapidez muito grande, de apenas sete dias”, disse a senadora.
A equipe de Renan Calheiros também apontou outras discrepâncias durante o depoimento de Catori, como a afirmação de que ele não tinha qualquer relação com os empresários Luciano Hang, Carlos Wizard e Alan Eccel. Porém, ele participou de uma “live” com os empresários, que afirmaram estar “tratando com farmacêuticas do mundo todo”.
Outra questão apontada pelo gabinete do senador é o valor de US$ 17 do imunizante Covidencia, que é 70% mais caro do que o produto da Janssen, que custa US$ 10 — ambos têm em comum o fato de serem de dose única. Segundo Catori, o preço mais alto da CanSino se dá por já incluir custos de logística, fretes e outros.