Bolsonaro não vai disputar eleições até 2030
Tânia Rêgo/Agência Brasil - 29.6.2023O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nesta sexta-feira (30), por abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação. Ele realizou uma reunião com embaixadores, em julho do ano passado, na qual levantou suspeitas sobre as urnas eletrônicas e atacou o sistema eleitoral brasileiro.
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No encontro com os diplomatas, o então presidente afirmou que "é impossível fazer uma auditoria em eleições aqui no Brasil". Bolsonaro ainda declarou que o sistema eleitoral do país é falho e "completamente vulnerável". "Aquilo é mais que um queijo suíço, é uma peneira", disse.
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Para dar suporte às críticas, Bolsonaro usou informações de um inquérito da Polícia Federal sobre um ataque cibernético contra o site do TSE, em 2018. A investida criminosa, de acordo com a corte, não pôs em risco a integridade das eleições daquele ano, mas o ex-presidente disse que o episódio havia demonstrado que o sistema de votação não é confiável.
"O invasor teve acesso no TSE a toda a base de dados por oito meses. É uma coisa que, com todo o respeito, eu sou o presidente da República do Brasil, eu fico envergonhado de falar isso aí. O que é comum, né, acontecer em alguns países do mundo, é o chefe do Executivo conspirar para conseguir uma reeleição. Estamos fazendo exatamente o contrário", disse Bolsonaro.
Segundo o ex-presidente, devido ao ataque, as eleições de 2018 não foram "totalmente transparentes", mesmo tendo ele vencido o pleito presidencial. "A Polícia Federal concluiu pela total falta de colaboração do TSE para com a apuração, do que os hackers tinham feito ou não por ocasião das eleições de 2018. E repito: até hoje esse inquérito não foi concluído. Entendo que não poderíamos ter tido eleições em 2020 sem apuração total do que aconteceu lá dentro. Porque o sistema é completamente vulnerável, segundo o próprio TSE, e obviamente a conclusão da Polícia Federal", disse.
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Além disso, Bolsonaro afirmou que a urna eletrônica não é confiável e não permite ao eleitor que confirme se o voto registrado por ele foi de fato computado para o candidato em que votou.
"A documentação do próprio TSE também conclui aqui que não há como fazer uma correspondência entre um eleitor específico e seu voto. Ninguém quer descobrir o voto daquela pessoa, para quem ela escreveu ali ou pra quem ela queria votar, não é isso. Esse sistema aqui é impossível fazer qualquer relação com correlação entre o eleitor e o seu voto", alegou.
"Eu teria dezenas e dezenas de vídeos para passar para os senhores por ocasião das eleições de 2018, onde o eleitor ia votar e simplesmente não conseguia votar. Ou quando ele apertava o número 1, e depois ia apertar o número 7, aparecia o 3, e o voto ia para outro candidato. O contrário ninguém reclamou. Temos quase cem vídeos de pessoas reclamando que foram votar em mim e, na verdade, o voto foi para outra pessoa, nenhum vídeo falando de outro candidato e porventura apareceu meu nome", acrescentou, sem mostrar nenhum vídeo.
Aos embaixadores, Bolsonaro criticou a postura dos ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes, os três últimos presidentes do TSE, que, segundo ele, estariam ignorando sugestões para aprimorar o sistema eleitoral.
"O que nós queremos? Paz, tranquilidade. Agora, por que um grupo de três pessoas apenas querem trazer instabilidade para o nosso país? Não aceitam nada, as sugestões das Forças Armadas, que foram convidadas, são perfeitas. Chegam à perfeição absoluta? Talvez não. Que nenhum sistema informatizado pode dar garantia de 100% de segurança", destacou.
Bolsonaro também reclamou do convite feito pela Justiça Eleitoral para que observadores internacionais acompanhassem as eleições do ano passado. "No Brasil, não tem como acompanhar a apuração. Eu não sei o que vêm fazer os observadores de fora aqui. O que essas pessoas vêm fazer no Brasil? Vão vir observar o quê? Que o voto é totalmente informatizado vem da área de ilegalidade", declarou.
O ex-presidente declarou aos diplomatas que o encontro era para dizer que o governo dele queria "eleições limpas, transparentes, onde o eleito realmente reflita a vontade da sua população". "Nosso objetivo é transparência nas eleições. Quem ganhar, o outro lado tem que se conformar", comentou.
"Eleições são questões de segurança nacional. Nós não queremos instabilidade no Brasil. O Brasil está voando. Isso que está acontecendo é de interesse de todo o povo brasileiro. A desconfiança do sistema eleitoral não tem lado. Nós não podemos enfrentar eleições a mando da desconfiança. Nós queremos ter a certeza de que quem o eleitor votou, o voto vai exatamente para aquela pessoa."
"Nós queremos que o ganhador seja aquele que realmente seja votado. Nós temos um sistema eleitoral que apenas dois países no mundo usam. No passado, alguns países tentaram usar, começaram até a usar esse sistema, e rapidamente foi abandonado. Repito: o que nós queremos são eleições limpas, transparentes, onde o eleito realmente reflita a vontade da sua população", finalizou Bolsonaro.