Tratamento cirúrgico é a melhor opção para tratar câncer de próstata avançado, diz estudo
Procedimento é feito no órgão masculino com o objetivo de bloquear produção de testosterona e ter controle do tumor
Brasília|Iasmim Albuquerque*, do R7, em Brasília
Um estudo divulgado pela JCO Global Oncology mostra que o tratamento cirúrgico conhecido como orquiectomia pode ser uma alternativa eficaz para controlar o câncer de próstata avançado em homens.
O procedimento é feito no órgão masculino com o objetivo de aumentar o controle do tumor por um custo benefício menor em relação a outros métodos.
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De acordo com o estudo, estima-se que no Brasil há 71 mil novos casos de câncer de próstata e 16 mil óbitos por ano. O número de pacientes que apresentam a doença em estado avançado chega a 32%.
Segundo o oncologista Fernando Sabino, um dos autores do artigo, o tratamento do câncer em uma fase avançada depende de uma terapia de bloqueio hormonal, que reduz o nível da testosterona, hormônio masculino responsável pelo crescimento do tumor.
A terapia pode ser feita por meio da aplicação de uma injeção a cada 30 ou 90 dias (tratamento químico) ou por meio da orquiectomia subcapsular bilateral (tratamento cirúrgico), realizada para bloquear a produção de testosterona e ter o controle do tumor.
Como funciona a cirurgia
O urologista João Ricardo Alves explica que no procedimento acontece a retirada do testículo ou do miolo do órgão. A cirurgia é considerada simples e exige anestesia local. O tempo de duração é de menos de uma hora e permite que o paciente volte para casa no mesmo dia.
De acordo com Fernando Sabino, o bloqueio da testosterona permite que o homem viva anos com a doença avançada sob controle. Apesar do benefício, o método gera um impacto psicológico nos homens, que preferem o tratamento injetável.
Custo benefício dos métodos
O estudo analisou o impacto econômico do tratamento cirúrgico em comparação com o tratamento químico, com base no banco de dados da doença no SUS (Sistema Único de Saúde) de 1° de janeiro de 2011 a 31 de dezembro de 2021.
De acordo com os dados do levantamento, 90% (246.683) dos pacientes foram submetidos ao procedimento químico, e 10% (27.836), à cirurgia. Os resultados mostraram que enquanto o método injetável custou, em média, US$ 2.698 por paciente, a cirúrgica custou apenas US$ 213.
“Estimamos que, se a castração cirúrgica fosse o padrão, o SUS poderia economizar mais de US$ 622 milhões em 11 anos. Esses recursos poderiam ser realocados para terapias inovadoras que melhoram a vida dos pacientes, como os inibidores de receptor de androgênio (ARPI)”, disse Sabino.
Novo método de tratamento
Em 2017, um tratamento hormonal de nova geração chamado abiraterona, inibidor de receptor do androgênio, demonstrou relevante aumento da sobrevida, redução das complicações relacionadas ao câncer e melhora significativa da qualidade de vida dos pacientes.
Isso quando o método é utilizado em conjunto com o bloqueio hormonal cirúrgico ou químico. Contudo, devido ao custo da medicação, no âmbito do SUS, o acesso à abiraterona é restrito.
“A gente tem uma coisa estranha no Brasil: é como se tivéssemos dois países num só. Quem tem plano de saúde consegue receber o tratamento mais esses comprimidos, e quem está no SUS continua recebendo só o tratamento”, afirma Sabino.
Pelo fato de a saúde pública não ter recurso suficiente para os medicamentos, o estudo reforça a importância de estratégias sustentáveis para otimizar recursos na oncologia, principalmente em países com orçamentos limitados.
“A gente quis comprovar [com o estudo] que se o paciente, em vez de receber uma injeção a cada 90 dias — ou seja, a cada 90 dias, o governo tem que ir lá e comprar uma injeção —, ele pode fazer um único procedimento cirúrgico com um custo só“, exemplifica.
“Então, em vez de gastar com injeção, o governo poderia usar esse dinheiro para comprar o comprimido chamado abiraterona. E oferecer para esses pacientes um tratamento melhor, mais eficaz e mais moderno”, conclui Sabino.
*Sob supervisão de Leonardo Meireles