Valdemar respondeu todas as perguntas em depoimento à PF, diz defesa
Presidente do PL (Partido Liberal) depôs à Polícia Federal no inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado
Brasília|Thiago Nolasco, da RECORD
A defesa de Valdemar Costa Neto, presidente do PL (Partido Liberal), declarou que todas as perguntas feitas pela Polícia Federal foram respondidas durante o depoimento prestado nesta quinta-feira (22). Valdemar é investigado no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder após a derrota nas eleições de 2022 para o Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"A defesa de Valdemar Costa Neto informa que o Presidente Nacional do Partido Liberal compareceu à Polícia Federal na data de hoje, 22/02/2024, e respondeu todas as perguntas que lhe foram feitas. A defesa não fará qualquer comentário sobre as investigações", disse a defesa de Valdemar, em nota.
O depoimento do presidente do PL ocorreu simultaneamente aos depoimentos do ex-presidente da República Jair Bolsonaro e seus ex-ministros Anderson Torres, da Justiça e Segurança Pública, Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, e Walter Braga Netto, da Defesa.
A estratégia de marcar os depoimentos para o mesmo horário já foi usada outras vezes pela PF em casos que envolvem o ex-presidente. Nos bastidores, a informação é que dessa forma alguém sempre entra em contradição, por dificultar o acesso ao que foi dito por outros investigados.
A PF já tem informações sobre uma reunião que aconteceu no Palácio do Planalto, na qual os alvos das investigações estariam tratando sobre uma minuta que estabeleceria um estado de sítio no país.
As informações foram obtidas por meio da delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, coronel Mauro Cid, e confirmadas pelos investigadores por meio de dados dos dispositivos moveis dos investigados.
Relembre o caso
A Polícia Federal cumpriu 33 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão preventiva em nove estados e no Distrito Federal no dia 8 de fevereiro. A Operação Tempus Veritatis investiga a suposta organização de um golpe de Estado em 2022 em prol do candidato derrotado e ex-presidente Jair Bolsonaro.
Veja os principais pontos da operação
• O coronel Marcelo Costa Câmara e Filipe Martins, ex-assessores diretos de Bolsonaro, foram presos. A PF também prendeu Rafael Martins de Oliveira, major do Exército.
• O coronel Bernardo Romão Corrêa Neto estava em missão em Washington, nos Estados Unidos, quando a sua prisão foi autorizada pelo STF. Ele se entregou às autoridades brasileiras no país e retornou ao Brasil.
• Não havia mandado de prisão contra Valdemar Costa Neto, mas ele foi detido em flagrante por posse irregular de arma de fogo, em 8 de fevereiro. Ele foi solto dois dias depois, em 10 de fevereiro, sob autorização do ministro Alexandre de Moraes, que acatou o parecer do vice-procurador da PGR (Procuradoria-Geral da República), Hindenburgo Chateaubriand, que argumentou que, aos 74 anos, Valdemar não cometeu nenhum ato violento.
• O papel de Valdemar Costa Neto era de "principal fiador dos questionamentos" ao processo eleitoral, segundo a investigação da PF. Ele seria peça-chave do chamado "Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral" do grupo criminoso.
• A arma encontrada com Valdemar seria do filho dele. A PF achou também uma pepita de ouro, que a PF acredita ser originária de garimpo.
• O PL, segundo apontam as investigações da Polícia Federal, foi "instrumentalizado" para financiar e comandar a estrutura de apoio à suposta tentativa de golpe de Estado.
• O partido repassou R$ 1.225.000 ao instituto "Instituto Voto Legal" no segundo semestre de 2022. A organização foi responsável pela elaboração do "Relatório Técnico — Logs Inválidos de Urnas Eletrônicas", divulgado em 15 de novembro de 2022, que questionava a segurança das urnas eletrônicas, especialmente as fabricadas até 2020.
• Com base nesse relatório, foi apresentada pelo PL uma "representação eleitoral para verificação extraordinária" em 22 de novembro de 2022 ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
• Mesmo os investigados tendo ciência da chance remota de sucesso no TSE, a estratégia adotada "teve a finalidade de servir de fundamento para a tentativa de execução do golpe de Estado, que estava em curso", segundo o processo.
• O partido ainda manteria uma casa no Lago Sul, região rica de Brasília, utilizada como comitê de campanha do Jair Bolsonaro, que depois seria frequentada por entusiastas e articuladores do suposto golpe de Estado. O local foi chamado pela PF de "QG do Golpe".