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R7 Brasília

Veja mensagens obtidas pela PF sobre negociação de cartão de vacinação falso de Cid e familiares

Ex-ajudante de ordens teria afirmado que profissionais 'esqueceram de colocar' dados da mulher dele no sistema do SUS

Brasília|Rafaela Soares e Gabriela Coelho, do R7, em Brasília

Bolsonaro, Cid e mais 15 pessoas foram indiciadas
Bolsonaro, Cid e mais 15 pessoas foram indiciadas Geraldo Magela/Agência Senado/Geraldo Magela/Ag�ncia Senado

O ex-ajudante de ordens do governo Bolsonaro Mauro Cid articulou com contatos de dois estados para conseguir falsificar o registro de vacinação dele e da família. A informação aparece no relatório final da Polícia Federal sobre a investigação da inserção de dados falsos no sistema de SUS (Sistema Único de Saúde). Cid chegou a alegar, como mostra uma das conversas obtidas pelos investigadores, que teriam esquecido de colocar os dados da mulher dele no programa (veja prints das conversas abaixo).

Etapa 1 - Falsificação do cartão de vacinação da Covid-19

Segundo o relatório, Cid procurou o sargento Luiz Marcos dos Reis para obter o documento já preenchido com as supostas doses aplicadas na mulher, Gabriela Santiago Cid.

Divulgação/Polícia Federal

A partir do pedido, o militar enviou um arquivo com o nome "cartão arquivo de vacinação" da Secretaria de Saúde de Goiás. O documento afirmava que Gabriela havia recebido as doses nos dias 17 de agosto e 9 de novembro de 2021.

Divulgação/Polícia Federal

Por meio da geolocalização do celular, a PF confirmou que a mulher de Cid estava em Brasília nas duas datas. O cartão foi assinado e carimbado pelo médico e sobrinho do militar, Farley Vinicius de Alencar.


Divulgação/Polícia Federal

Registros de conversas obtidas pela PF também mostram que o médico afirmou que copiou o lote das vacinas de um cartão de vacinação de uma enfermeira.

Etapa 2 - Tentativa de inserir dados falsos no sistema Conect SUS

No segundo momento, Cid procurou o segundo-sargento do Exército Eduardo Crespo Alves para colocar os dados falsos no sistema do Ministério da Saúde. Em transcrições, Crespo afirma que a ação estava em andamento. A ideia era subir os dados pelo sistema do Rio de Janeiro.


Divulgação/Polícia Federal

No dia 24 de novembro de 2021, o militar manda outra mensagem para Cid afirmando que uma pessoa não identificada não estava conseguindo colocar os dados porque o lote da vacina não foi enviado para a região.

Cid diz que o suposto responsável esqueceu de cadastrar a suposta aplicação da vacina em sua esposa. Em outra troca de mensagens, ex-ajudante de ordens afirma que Gabriela teria sido vacinada em Brasília.


Divulgação/Polícia Federal

Com a dificuldade para colocar os dados, Cid e Marco dos Reis solicitam mais uma vez a ajuda do médico Farley Vinicius de Alencar. Desta vez, a ideia era enviar cartões de vacinação em branco, para que colocassem o lote dos imunizantes que estava no Rio de Janeiro.

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A iniciativa acaba demorando muito, já que Cid e a família iriam viajar para os Estados Unidos. Crespo chega a pedir desculpas ao ex-ajudante de ordens pela demora, mas Cid afirma que já teria conseguido por "com outros contatos".

Etapa 03 - Outros contatos e inserção de dados falsos no sistema do SUS

A tentativa bem sucedida de realizar a fraude no sistema foi iniciada pelo ex-militar Ailton Barros. Em novembro, Barros pediu para Cid checar se um código havia sido enviado para o celular da esposa. Segundo a PF, a chave seria da conta gov.br de Gabriela.

Mensagens Cid
Mensagens Cid Divulgação/Polícia Federal

Ailton repassou a numeração, e dados da operadora de celular mostram que a conta da mulher de Cid foi acessada pelo IP de Marcelo Fernandes de Holanda, localizado no Rio de Janeiro. A PF localizou no celular dele um print com informações de Gabriela na plataforma do Ministério da Saúde.

Mensagens Cid
Mensagens Cid Divulgação/Polícia Federal

O relatório mostra diversas conversas entre o ex-militar e o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Em uma delas, Ailton Barros afirma que acredita "que pelo menos uma delas [tentativas para inserir os dados] deverá dar bingo aqui do Rio".

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Dias depois, foi registrado no sistema que Gabriela teria recebido a primeira dose da vacina dia 25 de agosto de 2021 e a segunda em 15 de outubro de 2021. Os imunizantes teriam sido aplicados em posto médico sanitário de Xerém, no município de Duque de Caxias (RJ).

Divulgação/Polícia Federal

Os dados só foram inseridos no sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações em novembro do mesmo ano.

Etapa 04 - Filhas e entrada nos Estados Unidos

As filhas de Cid e o próprio militar também constam no sistema como imunizados contra a Covid-19. A PF encontrou indícios de que a aplicação não teria acontecido, já que mensagens mostram que a rotina da família em Brasília permanecia normal. 

Mensagens Cid
Mensagens Cid Divulgação/Polícia Federal

A PF elenca uma conversa de Cid com o contato "Liliane Cid", possivelmente sua cunhada, sobre possíveis exigências para viagens. O ex-ajudante de ordens da presidência chega a afirmar que não iria tomar as vacinas. "Eu não vou tomar, nem as crianças. As vacinas ainda estão em fase de teste. 'Tô' fora", afirma. 

Divulgação/Polícia Federal

Cid voltou a ser irônico com a fala de Bolsonaro relacionando a vacina com a possibilidade do paciente virar um jacaré. Uma delas, em um grupo que a PF acredita ser formado por familiares, o militar afirma que não vai ser cobaia humana. 

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