Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

'Vou destruir todo mundo', ameaçou pastor Arilton após ser preso em caso do MEC

Arilton Moura, suspeito de participar de esquema de corrupção e tráfico de influência no MEC, faz ameaça se família for prejudicada

Brasília|Alan Rios e Renato Souza, do R7, em Brasília

O ministro Milton Ribeiro em reunião com o pastor Arilton Moura, de camisa azul-clara
O ministro Milton Ribeiro em reunião com o pastor Arilton Moura, de camisa azul-clara O ministro Milton Ribeiro em reunião com o pastor Arilton Moura, de camisa azul-clara

O pastor Arilton Moura, suspeito de participar de esquema de corrupção e tráfico de influência no Ministério da Educação, afirmou, em ligação interceptada no dia da prisão, que ia "destruir todo mundo" caso sua família fosse prejudicada. A conversa entre ele e a advogada foi gravada nas investigações da Polícia Federal que apuram as suspeitas que envolvem o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro.

Arilton Moura e Gilmar Santos, apontados como lobistas que atuavam no MEC, foram presos, mas liberados após habeas corpus. Moura ligou para a advogada e informou que estava na PF, manifestando preocupação com os familiares. Ouça:

“Doutora, já estou aqui na Polícia Federal com o pessoal. Eu preciso que você ligue para minha esposa, acalme minha esposa, porque se der algum problema com minha menininha eu vou destruir todo mundo", disse. A advogada pede a ele que fique tranquilo, informa que falou "bastante" com Victoria, filha dele, e confirma que vai conversar também com a mulher.

O R7 procurou a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e questionou se, na avaliação da entidade, há alguma ilegalidade na interceptação de conversas entre cliente e advogado, como no caso do diálogo do pastor Arilton Moura com a representante legal, mas ainda não obteve resposta.

Publicidade

Segundo a investigação, o pastor teria cobrado R$ 100 mil de um empresário em troca da realização de um evento da pasta em um município de São Paulo. Em agosto do ano passado, o religioso conseguiu fazer com que um empresário de Piracicaba (SP) conversasse com o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro para pedir a ele a realização de evento do MEC na cidade de Nova Odessa (SP).

Como condição para fazer a viagem, Arilton solicitou ao empresário a compra de passagens aéreas para ele e três pessoas. Os bilhetes aéreos custaram quase R$ 24 mil e foram pagos pela Secretaria Municipal de Finanças de Piracicaba. Além disso, o religioso cobrou a transferência de R$ 100 mil a título de "auxílio a obras missionárias desenvolvidas pela sua igreja".

Publicidade

Outra movimentação suspeita veio da apuração que o ex-ministro conversou com Arilton para vender um carro à família dele mesmo após ter denunciado o pastor à Controladoria-Geral da União. De acordo com investigação da Polícia Federal, a filha do pastor, Victoria Camacy Amorim, comprou o automóvel da esposa de Ribeiro, Myrian Pinheiro. O pagamento, no entanto, foi feito por Arilton, que transferiu R$ 60 mil ao ex-ministro pela negociação.

Outros áudios

Publicidade

Em outras ligações interceptadas, há indícios de que o ex-ministro já tinha informações de que seria alvo da operação. A esposa de Milton Ribeiro disse, no dia da prisão, que ele "estava sabendo" do que aconteceria.

Em outro áudio divulgado mais cedo, de uma conversa por telefone entre Milton Ribeiro e a filha, o ex-ministro diz que recebeu uma ligação do presidente Jair Bolsonaro (PL) em que o chefe do Executivo levantou um temor de que Ribeiro fosse alvo de uma operação da Polícia Federal.

"Hoje o presidente me ligou... Ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? [...] Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão... Em casa, sabe... É muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios", disse o ex-ministro.

A filha então responde: "Eu não sei se ele tem alguma informação... Eu tô te ligando do meu... Eu tô te ligando do celular normal, viu, pai?". Em seguida, Ribeiro diz: "Então depois a gente se fala".

O MPF (Ministério Público Federal) apontou possível interferência de Bolsonaro nas investigações sobre o caso e pediu que fosse enviada parte dos autos ao STF (Supremo Tribunal Federal). O juiz Renato Borelli, autor do mandado de prisão contra Ribeiro, atendeu ao pedido feito pelo MPF e enviou o material ao Supremo. O caso será relatado pela ministra Cármen Lúcia.

Vazamento “proposital”

Advogado do presidente Bolsonaro, Frederick Wassef reclamou de que trechos do inquérito da Polícia Federal e de decisões da Justiça Federal contra Ribeiro tenham vazado, visto que o caso tramita sob sigilo de Justiça, e cobrou a abertura de uma investigação pela divulgação do material.

"Estão vazando propositalmente um material que tramita em segredo de Justiça. Isso tramita entre Judiciário Federal e Ministério Público Federal. Quem está vazando isso? Tem de ser aberta investigação para apurar essa ação criminosa e irresponsável visando atingir a imagem do presidente da República. Autoridades que deveriam ser os fiscais da lei e zelar por esse sigilo estão propositalmente vazando para criar esse tsunami midiático.”

Wassef ainda diz que o chefe do Executivo "nada tem a ver com essa história" e que ele "está sendo vítima de mentiras e calúnias". "Se porventura alguém estiver usando o nome do presidente de forma indevida, sem seu conhecimento e autorização, isso não pode ser deturpado, distorcido, tirado de contexto para tentarem responsabilizar o presidente da República", ponderou.

Defesa

Após o envio do processo ao STF, o advogado do ex-ministro, Daniel Bialski, questionou o pedido para prisão do cliente, feito pela 15ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal. No entendimento dele, se havia, de fato, alguma pessoa com foro privilegiado citada na ação (como é o caso do presidente da República), o processo deveria ter sido remetido imediatamente ao STF.

"Causa espécie que se esteja fazendo menção a gravações/mensagens envolvendo autoridade com foro privilegiado, ocorridas antes da deflagração da operação. Se assim o era, não haveria competência do juiz de primeiro grau para analisar o pedido feito pela autoridade policial e, consequentemente, decretar a prisão preventiva", afirmou o advogado, que frisou que vai pedir a anulação de todos os "atos e decisões tomadas" no âmbito do processo.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Moura. O espaço está aberto para manifestação.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.