Zambelli admite encontro com hacker e Bolsonaro, mas nega contrato para invasão de urnas
Deputada disse à PF que o ex-presidente teria pedido a Walter Delgatti que entrasse em contato com o Ministério da Defesa
Brasília|Ana Isabel Mansur e Carlos Eduardo Bafutto, do R7, em Brasília
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) admitiu, nesta terça-feira (14), em depoimento à Polícia Federal, que mediou um encontro entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o hacker da "Vaza Jato" Walter Delgatti Neto. No entanto, a parlamentar negou, em entrevista coletiva depois do depoimento, que tenha contratado o profissional para invadir o sistema de votação das urnas eletrônicas brasileiras.
Zambelli prestou esclarecimentos à PF no inquérito sobre a suposta participação dela em um esquema que inseriu dados falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O R7 entrou em contato com a defesa de Bolsonaro, mas não recebeu retorno até a última atualização do texto.
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"Houve, sim, um encontro, porque ele [Walter] disse que poderia provar que a urna não era confiável. Nesse encontro, o [ex-]presidente pergunta para ele se a urna era confiável, e ele diz que não. E ele disse naquela época que testes de integridade feitos no dia da eleição, com urnas aleatórias, seriam a melhor forma de verificar se a urna era confiável ou não", declarou Zambelli.
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"O [ex-]presidente, ouvindo isso, pediu para que ele falasse com alguém do Ministério da Defesa para explicar como seria esse teste de integridade, e eu deixei esclarecido isso [no depoimento à PF]. Não houve mais nenhum encontro com Bolsonaro. Não houve mais nenhum telefonema intermediado por mim. Tudo isso que ele fala é mentira", completou.
De acordo com a deputada, apesar de ter apontado que as urnas poderiam ser invadidas, Delgatti não pretendia violá-las. "Ele não ia fazer nada, ou seja, ele só disse que essa seria a melhor forma. Ele apontou o erro no fato de que as urnas predeterminadas para o teste não eram aleatórias. Só isso", explicou.
Zambelli também negou que parte do pagamento feito a Delgatti tenha partido diretamente dela. "Agora que o inquérito está sendo concluído, já foi esclarecido que houve o pagamento de R$ 3 mil, através da empresa que eu contratei e o Walter foi subcontratado. O pagamento foi feito em novembro, e já está explicitado no inquérito que esse valor não saiu de mim. Saiu de uma empresa que eu contrato e que subcontratou o Walter. E ele não entregou o serviço", declarou a deputada.
Questionada sobre os motivos que a levaram a confiar em Delgatti, ela declarou que "costuma confiar nas pessoas". "Se eu pudesse voltar no tempo, eu não teria nem sequer tirado a foto com ele em Ribeirão Preto (SP). Mas até os investigadores com quem a gente conversou disseram que o Walter, na conversa, é uma pessoa muito afável, ele convence de que é uma pessoa confiável. É complicado. Eu sou uma pessoa que sempre confia nas pessoas até que se prove o contrário. Então se falar que me arrependo? Me arrependo. Talvez, se pudesse voltar no tempo, eu não tivesse feito nada disso", refletiu.
Zambelli afirmou que, quando conheceu Delgatti, não sabia que ele era hacker. A contratação para que o profissional construísse um site para a deputada foi feita, segundo ela, para ajudá-lo.
"Ele mandou uma proposta para mim, dizendo que precisava trabalhar, cobrou R$10 mil nessa proposta para poder ligar as redes sociais ao site e fazer um belo site, em que as pessoas pudessem me contactar, se cadastrar. E aí eu passei ele para ser subcontratado pela área que cuidava de mídia e de identidade visual. Mas ele nem sequer prestou esse serviço. Se perguntar por que eu confiei… na verdade eu não estava entregando nada para ele que eu não pudesse confiar. Fazer um site não é nada demais. E uma pessoa que está solta, que está, enfim, prestando um serviço, você contrata. Enfim, tem vontade de ajudar. Mas nem isso ele fez. Não teve a capacidade de fazer", respondeu a deputada, que afirmou não saber que Delgatti é o hacker da "Vaza Jato".
"Eu não me lembro [quando soube]. Foi no meio do processo, assim, acho que foi mais para o final do ano passado. Eu recuei [depois que soube], porque eu não tive mais contato com ele depois", completou.
Relembre
A deputada e o hacker foram alvo de uma operação deflagrada pela PF, em agosto, para apurar a invasão do sistema do CNJ com o objetivo de inserir informações falsas sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
A assessoria de Zambelli alegou, à época da operação, que a corporação já concluiu que as transferências feitas ao hacker, que totalizaram R$ 10,5 mil, foram para pagar garrafas de uísque. Além disso, a equipe diz que a corporação não encontrou indícios de que a parlamentar soubesse dos ataques ao sistema do CNJ, nem mesmo sobre as transações entre o então assessor dela e Delgatti Neto.
Delgatti ficou conhecido pelo episódio da "Vaza Jato", quando invadiu telefones de autoridades envolvidas com a Operação Lava Jato.
Em depoimento à PF, ele disse que Zambelli o teria contratado para fraudar as urnas eletrônicas e inserir um mandado de prisão contra Moraes no sistema do CNJ. Para isso, ele teria recebido R$ 13 mil, pagos por assessores da deputada.
No mesmo dia da operação da PF, Zambelli convocou jornalistas para uma entrevista coletiva na Câmara dos Deputados. Ela negou que tivesse contratado o hacker para fazer trabalhos criminosos e afirmou que os pagamentos feitos a Delgatti se referiam a serviços para o site dela.
Ainda segundo a deputada, as remunerações referentes ao trabalho somam R$ 3.000, que saíram de contas pessoais.