Apenas cinco frigoríficos aderiram ao protocolo ambiental no Cerrado em um ano
Além dos frigoríficos, duas redes varejistas adotaram as medidas
Cidades|Victoria Lacerda, do R7, em Brasília
Um ano após o lançamento do Protocolo do Cerrado, que estabelece critérios para a compra responsável de gado criado no bioma, a adesão da cadeia da carne ainda é muito baixa. De abril de 2024 até agora, apenas cinco frigoríficos passaram a seguir os critérios socioambientais previstos no documento.
Juntas, essas empresas representam 33,6% das áreas com perda de vegetação ligadas à pecuária e 38,8% da capacidade de produção bovina do Cerrado — ou seja, dois terços do bioma seguem desprotegidos por compromissos ambientais.
As informações constam no relatório “Radiografia da Pecuária do Cerrado”, divulgado pela iniciativa Do Pasto ao Prato. O documento também revela que, no setor varejista, apenas o Grupo Pão de Açúcar e o Carrefour aderiram ao protocolo. Com isso, a ampla maioria dos supermercados do país segue comercializando carne sem qualquer tipo de monitoramento da origem do gado.
O relatório foi produzido com base em dados oficiais do PRODES, MAPA e MapBiomas.
Desmatamento e impactos no bioma
Apesar da leve redução nas taxas de desmatamento no ano passado, o Cerrado perdeu, em 2023, a maior área de vegetação nativa dos últimos dez anos, uma extensão similar à do Distrito Federal. A conversão de terras para pastagens segue como o principal motor da destruição ambiental, comprometendo a biodiversidade e o estoque de carbono e os recursos hídricos do país.
O bioma, que abriga mais de um quarto do rebanho bovino do Brasil e possui 225 frigoríficos em operação, é essencial para o equilíbrio ambiental. Oito das doze nascentes das principais bacias hidrográficas do país estão localizadas no Cerrado, que, no entanto, conta com apenas 7,5% de território protegido por unidades de conservação pública.
Além disso, o relatório alerta que, só em 2024, o Cerrado concentrou 25% dos casos de trabalho análogo à escravidão registrados em propriedades ligadas à pecuária.
Monitoramento limitado e desafios
O Protocolo do Cerrado foi lançado para estabelecer um padrão voluntário de monitoramento socioambiental, bloqueando fornecedores em áreas com desmatamento após 2020, uso de mão de obra irregular, embargos ambientais ou sobreposição com áreas protegidas. No entanto, a adesão está longe do ideal.
Segundo a Do Pasto ao Prato, se todos os membros da Abiec — associação que representa 98% das exportações de carne bovina do Brasil — adotassem o protocolo, seria possível cobrir até 65,5% do abate bovino e 68% das áreas com risco de desmatamento no Cerrado.
O relatório também chama atenção para a ausência de monitoramento de fornecedores indiretos, responsáveis pelas fases de cria e engorda do gado. “Rastrear apenas a última fazenda antes do abate oculta boa parte da responsabilidade ambiental”, alerta Dari Santos, coordenadora de impacto do dPaP.
Propostas e caminhos
Para fortalecer a governança da cadeia da carne no Cerrado, o dPaP recomenda:
- Ampliação do uso do PRODES Cerrado, sistema do INPE que cobre todas as formações do bioma;
- Rastreabilidade de fornecedores indiretos;
- Auditorias independentes com publicação dos resultados;
- Transparência nas compras dos frigoríficos e redes de varejo;
- Divulgação obrigatória das Guias de Trânsito Animal (GTAs);
- Adoção do Protocolo do Cerrado por instituições financeiras e entidades do setor, como Abiec e Abras, com cronogramas definidos.
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