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Boate Kiss: entenda por que júri foi anulado e quais são os próximos passos

Tragédia que deixou 242 mortos e 636 feridos em 2013 completou dez anos na semana passada. No momento, não há ninguém condenado na esfera criminal

Cidades|Do R7

Fórum de Porto Alegre, onde foi realizado julgamento do caso da Boate Kiss, em 2021
Fórum de Porto Alegre, onde foi realizado julgamento do caso da Boate Kiss, em 2021 Fórum de Porto Alegre, onde foi realizado julgamento do caso da Boate Kiss, em 2021

A tragédia da Boate Kiss, que deixou 242 mortos e 636 feridos em um incêndio em Santa Maria (RS), completou dez anos na última semana e é marcada pela demora em responsabilizar envolvidos no caso. Ninguém está condenado criminalmente pelas mortes, já que o julgamento que ocorreu em 2021 foi anulado em agosto do ano passado.

Dois ex-sócios da Kiss, um músico e um produtor da banda que tocava naquela noite tinham sido condenados pela tragédia e pegaram penas que variam entre 18 e 22 anos de prisão. As defesas, no entanto, recorreram da decisão e apontaram diversas falhas em relação à escolha dos jurados e à comunicação entre eles e o juiz que teriam prejudicado o direito dos réus.

Os argumentos foram aceitos pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que determinou a anulação do julgamento. Dois dos três desembargadores que integram o colegiado citaram problemas como:

• o sorteio excessivo de jurados — 25 —, sendo que apenas sete são mantidos para o júri;

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• a realização de um dos sorteios fora do prazo legal, a menos de dez dias úteis da data da instalação da sessão;

• o acesso por parte do Ministério Público ao banco de dados Consultas Integradas, o que permitiu que a acusação impugnasse dezenas de possíveis jurados que já tinham visitado parentes ou amigos no sistema prisional — o banco de dados não é acessado pela defesa dos réus;

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• uma reunião realizada entre o juiz do caso e os jurados sem a presença das partes envolvidas e que não foi registrada em ata.

O Ministério Público, por outro lado, afirma que o julgamento seguiu as regras. Com base nesse argumento, a Promotoria entrou com recursos para tentar reverter a anulação do julgamento. As defesas ainda deverão se manifestar sobre os recursos, que seguirão para o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e STF (Supremo Tribunal Federal). Não há previsão para que esses recursos sejam julgados, mas eles são hoje a principal esperança do Ministério Público para manter as condenações dos quatro réus.

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"O MPRS reitera a sua convicção na lisura de todo o júri popular, realizado de forma imparcial, sem intercorrências, não tendo ocorrido nenhuma nulidade e tendo sido respeitado o devido processo legal. A sociedade, de forma isenta e soberana, deu a resposta justa e adequada aos graves fatos ocorridos em 27 de janeiro de 2013. Deste modo, tal resposta deve ser respeitada”, afirma o Ministério Público. 

A realização de um novo julgamento é outra possibilidade, defendida inclusive pelos advogados dos réus. “O direito existe, a Justiça existe, e eu tenho certeza que eles vão para um novo júri e vão ser absolvidos", disse Tatiana Borsa, que defende o vocalista Marcelo dos Santos, um dos quatro réus.

Anos de espera

Apesar de a investigação sobre as responsabilidades ter sido relativamente rápida — quatro envolvidos se tornaram réus por homicídio com dolo eventual ainda 2013 —, o processo se dividiu em seis e passou pelas fases de recurso, até chegar ao tribunal do júri, em 2021.

Antes disso, as famílias já discordavam do fato de representantes do poder público em Santa Maria e de órgãos de fiscalização, como os bombeiros, não terem sido denunciados criminalmente por terem permitido à Kiss funcionar de forma irregular, com a falta de uma saída de emergência adequada, por exemplo. Apenas dois bombeiros responderam a processos administrativos e pegaram penas pequenas.

Em dezembro de 2021, com o julgamento dos quatro réus do processo criminal, os dois ex-sócios da boate, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, foram condenados, respectivamente, a mais de 22 anos e 19 anos de prisão. Também foram condenados o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, que tocava naquela noite na boate, Marcelo dos Santos, e o produtor de eventos da banda, Luciano Bonilha, que acendeu o artefato pirotécnico que Marcelo segurava. Ambos pegaram pena de 18 anos.

Luciano, Elissandro, Mauro e Marcelo, réus em julgamento do caso Kiss
Luciano, Elissandro, Mauro e Marcelo, réus em julgamento do caso Kiss Luciano, Elissandro, Mauro e Marcelo, réus em julgamento do caso Kiss

Segundo a investigação, o artefato fez uma espuma instalada no teto da boate pegar fogo, o que liberou um gás tóxico que fez com que a maioria das 242 vítimas morresse asfixiada. O Ministério Público afirmou também que a casa estava superlotada.

Famílias

O julgamento durou dez dias e é considerado o maior da história do Rio Grande do Sul. Oito meses depois, porém, o TJ (Tribunal de Justiça) do Rio Grande do Sul anulou o julgamento, o que causou revolta nas famílias das vítimas, que esperam há anos por um desfecho do caso.

“Dez anos depois, ninguém foi responsabilizado nem punido. Ninguém não, pois os familiares e amigos ainda estão condenados a viver com a dor da injustiça”, afirma a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria.

Imagens mostram o interior da boate Kiss

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