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Mortes e acidentes com carros automáticos reacendem debate sobre formação de condutores

Casos como o da criança de 4 anos morta na frente de escola e de ator mirim atropelado reforçam discussão sobre treinamento específico voltado a esse tipo de veículo

Cidades|Márcio Pinho, do R7

Carro invade escola e mata criança na zona sul de São Paulo
Carro invade escola e mata criança na zona sul de São Paulo Carro invade escola e mata criança na zona sul de São Paulo

A morte de uma criança de 4 anos atropelada após uma motorista que errou na condução de seu carro automático invadir uma escola, na semana passada em São Paulo, é mais um episódio de uma série de acidentes relacionados a esse tipo de veículo que vêm preocupando especialistas e autoridades.

A motorista afirma ter pisado no pedal errado e acelerado o veículo. Trata-se de uma imperícia na condução do carro automático, assim como o uso de marchas de forma equivocada e que teria motivado o atropelamento do ator mirim Gustavo Corasini, de 12 anos, em agosto. Nesse caso, a motorista teria engatado a ré por acidente e atingido o ator e um amigo dele, Eduardo Delfino, de 13 anos, que morreu no acidente.

A confusão com as marchas também teria sido a causa para outra motorista invadir uma padaria e ferir três pessoas em abril, ainda em São Paulo, quando manobrava o veículo: ela não teria notado que ele estava na função D (de “drive”, dirigir em inglês). Ao tentar parar o carro rapidamente, a motorista teria pisado no acelerador, aumentando o estrago.

Segundo especialistas ouvidos pelo R7, esses casos não são isolados e retratam o risco que envolve a condução de carros automáticos no Brasil, onde os motoristas, de forma geral, não fazem uma preparação específica.

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De acordo com Lucio Machado, especialista em segurança de trânsito e perito em acidentes, o condutor brasileiro “não está preparado para dirigir veículo automático” em razão da formação pautada no uso do carro manual e com foco grande em ações que serão cobradas no exame, como a realização de balizas. Ele acredita que deveria haver uma exigência de treinamento específico e uma observação na CNH (Carteira Nacional de Habilitação) para atestar que a pessoa foi capacitada no uso da sistema automático. Machado ressalva que o processo, no entanto, precisa envolver uma grande mudança de paradigma, começando pelo treinamento dos instrutores das autoescolas.

Na tentativa de avançar na regulamentação, autoridades têm levado o tema para as casas legislativas. O senador Eduardo Gomes (PL-TO) apresentou em 2021 um projeto de lei que prevê que pessoas que desejarem conduzir apenas carros automáticos poderão ter essa habilitação específica na CNH e fazer exame de direção veicular com esse tipo de veículo. O projeto, no entanto, ainda não tramitou no Senado.

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O especialista Lucio Machado afirma que a discussão sobre novas regras não avança porque há um problema cultural. “As pessoas acham que é só mais um argumento para autoescola ganhar dinheiro. Ninguém leva pelo lado da necessidade”, afirma.

Casos

Além de trocar de pedal e de usar o câmbio na posição errada, o motorista pode incorrer em outras práticas que levam a riscos. Pessoas que conduzem em regiões de serra fazem percursos de descida sem reduzir a marcha do veículo para o uso do freio motor. Deixam o veículo em marcha alta, no automático, e utilizam apenas o pedal de freio para reduzir a velocidade do carro, o que desgasta o sistema de frenagem e pode causar acidentes.

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“Parte das pessoas migra para o carro automático achando que é mais fácil conduzir, que basta usar os pedais para acelerar e frear, mas é mais complexo do que isso”, ressalta Lucio Machado.

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Para Paulo Mafra, dono de uma autoescola para habilitados em São Paulo, a falta de treinamento e de experiência no uso desse tipo de veículo favorece o erro no uso dos pedais. Segundo ele, muitas vezes o motorista fica nervoso ao ver que está cometendo algum erro e não consegue parar o veículo.

Ele também se diz a favor de uma formação específica em carros automáticos. “Se em uma família todos os carros são automáticos, teria que ter uma diferenciação na formação para esse público”, diz.

Ele cita o caso dos Estados Unidos, em que há categoria na habilitação voltada à condução de automáticos. Mafra diz que, no Brasil, apenas casos específicos preveem a formação específica, como o caso de pessoas com deficiência (PCD).

Uma diferença é que, nos Estados Unidos, os carros são majoritariamente automáticos. Já no Brasil, ainda prevalece o sistema manual. Mas essa realidade está mudando aos poucos e a venda de carros automáticos no Brasil bate recordes praticamente todos os anos.

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