Os reservatórios das hidrelétricas atingiram o menor nível para o mês de setembro dos últimos três anos. De acordo com dados do SIN (Sistema Interligado Nacional), no domingo (22), os reservatórios estavam com 56,1% da capacidade, 24% abaixo do registrado na mesma data em 2023, quando o nível era de 74,3%. O número de 2024 só não é pior que o de setembro de 2021 (38,8%). A situação colocou o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) em alerta, especialmente com o aumento do consumo de energia previsto para o mês. Além disso, governo estuda o retorno do horário de verão e prevê bandeira vermelha nas contas de luz até o fim do ano.Houve uma queda no nível dos reservatórios em todas as regiões do país. No Sudeste/Centro-Oeste, o volume chegou a 48%, um nível que só era esperado para o final do mês.Essa região inclui o sistema de Furnas, responsável por 40% da energia consumida no Brasil. O sistema abrange 21 hidrelétricas ao longo de 800 km do Rio Grande, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais.O subsistema Sul, que abrange as bacias dos rios Capivari, Iguaçu, Jacuí, Paranapanema e Uruguai, está com os reservatórios em 57,4% da capacidade. O subsistema Nordeste registra um volume de 50,8%.Os números, embora esperados para o período de estiagem, acendem um alerta para possíveis quedas ainda maiores nos níveis dos reservatórios nos próximos meses. Parte do Brasil enfrenta a pior seca dos últimos 44 anos.Atualmente, a bandeira tarifária vermelha, no patamar 1, está vigente até 30 de setembro. A bandeira para outubro deve ser divulgada no dia 27.No ano passado, o governo havia decidido pela bandeira verde em outubro devido aos níveis mais elevados dos reservatórios em setembro. No entanto, desta vez, a conta de luz pode continuar com bandeira vermelha até o fim do ano, segundo o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa.“Há uma grande tendência que a bandeira permaneça entre vermelha e amarela até o fim do ano. A bandeira tarifária é acionada para fazer frente aos custos futuros do sistema no próximo mês. Essa equação é bastante complexa e leva em conta muitas variáveis”, disse durante o Seminário Nacional dos Consumidores de Energia.Com a estiagem afetando mais da metade do território nacional, o governo avalia o retorno do horário de verão, que foi extinto em 2019. Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, informou que o ONS recomendou essa medida por “prudência”. A questão está sendo discutida internamente com o governo e com setores que podem ser afetados pelo retorno da medida, e uma decisão deve ser anunciada nos próximos dias.A proposta ganha força porque cerca de metade da energia consumida no Brasil vem de usinas hidrelétricas, e a falta de chuvas reduz o nível dos reservatórios. Além disso, com o aumento das temperaturas, o uso de eletrodomésticos como ar-condicionado e ventiladores cresce, pressionando ainda mais o sistema elétrico.O estudo do ONS prevê que a economia de energia durante os horários de pico com a adoção do horário de verão seria em torno de R$ 400 milhões ao longo de todo o período, o que corresponderia a uma redução de aproximadamente 2,5 gigawatts na demanda de energia.Advogada e analista de relações governamentais no setor elétrico, Fernanda Chiaradia da Silva explica que em períodos de seca e baixos níveis dos reservatórios é necessário acionar as usinas termelétricas, o que encarece a energia. A bandeira vermelha, além de refletir esse custo maior, também serve para educar o consumidor, sinalizando a necessidade de economizar e racionalizar o consumo.“A bandeira vermelha funciona como um alerta: estamos enfrentando um problema, e o consumidor precisa reduzir o uso de energia”, ressalta.Ela também menciona que o retorno do horário de verão pode ser uma ferramenta para influenciar o comportamento dos consumidores, ajudando a diminuir a demanda de energia nos horários de pico.“O aumento na conta de luz está diretamente ligado aos custos de geração de energia. Com os reservatórios baixos, há maior acionamento das termelétricas, o que eleva os custos. O governo, nesse momento, tem sinalizado que quer garantir o fornecimento de energia, mesmo que isso signifique utilizar fontes mais caras”, afirma.Nese contexto, a especialista acredita que o horário de verão pode ajudar a redistribuir a demanda em um momento crítico dos reservatórios hidrelétricos. “Sou a favor. Nesse novo cenário, o horário de verão permite que aproveitemos mais a energia eólica e solar, reduzindo a necessidade de acionar as termelétricas.”