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'Querem me prender, me prendam, estou cansado', diz sócio da Kiss

Elissandro Spohr, antigo proprietário da boate, chorou em depoimento nesta quarta e afirmou que pensou em se matar

Cidades|Fabíola Perez, do R7, em Porto Alegre (RS)

O sócio da boate Kiss Elissandro Spohr, o primeiro dos réus a ser interrogado pelo tribunal do júri, chorou em seu depoimento nesta quarta-feira (8) e afirmou que pensou em se suicidar após a tragédia que tirou a vida de 242 pessoas, em 2013. Ele afirmou estar "cansado". “Querem me prender, me prendam. Eu estou cansado”, disse.

Após revelar como passou de músico para empresário que administrava a boate, ele se emocionou ao contar como foi o dia da tragédia. Ele relatou que estava do lado de fora da boate quando um funcionário correu para avisá-lo sobre o fogo, que tentou entrar e já havia uma multidão correndo para fora. “Eu não sabia o que fazer. Eu disse pra alguém ‘Me leva pra delegacia’, eu disse: 'Tá pegando fogo na boate, tá morrendo gente: eu não sei o que fazer'. Ela me perguntou: ‘Os bombeiros estão lá?’, e eu disse: ‘Estão’".

Elissandro Spohr, sócio da boate Kiss em 2013 e réu em julgamento
Elissandro Spohr, sócio da boate Kiss em 2013 e réu em julgamento Elissandro Spohr, sócio da boate Kiss em 2013 e réu em julgamento

Ele contou que vomitou quando foi informado de que havia 30 mortos no incêndio, e que o sofrimento aumentou conforme os números foram sendo atualizados. Nos dias seguintes, recebeu de amigos mensagens que sugeriam que se suicidasse e pensou em fazê-lo, segundo seu relato. 

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A primeira vez que Spohr chorou em seu depoimento foi ao falar do sucesso que a boate alcançou. “Quando se fala da Kiss, se lembra da parte ruim, e às vezes quando o cara lembra da boa também causa uma coisa porque também teve uma parte boa”, disse ele ao recordar as ideias que teve para a casa noturna. Relatou que o sucesso começou quando ele criou um evento às quintas-feiras chamado Quinta Absoluta. "Foi tudo perfeito. A Kiss começou a ter um sucesso."

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Ele iniciou seu depoimento pouco depois das 18h, falando sobre suas origens. “Sou natural de Santa Rosa, morei em outras cidades, como Chapecó, Santa Rosa. Voltei para Santa Maria, seguia trabalhando com transporte e pneu, tocava, eu era músico e, no meio do caminho, vim a ser proprietário da boate Kiss.”

Após Spohr se emocionar pela segunda vez, a sessão foi suspensa por 40 minutos. No retorno, o réu respondeu a mais algumas questões do juiz. O advogado de defesa do então sócio da Kiss, Jader Marques, informou que não faria perguntas ao réu, o mesmo procedimento adotado pela acusação. 

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Ao deixar a sessão, a promotora Lúcia Helena Callegari afirmou que já havia se preparado para não fazer questões, considerando que Marques adotou procedimento semelhante em outros julgamentos. Segundo ela, trata-se de uma estatégia baseada na jurisprudência de tribunais superiores de que o réu não poderia "escolher" perguntas para responder. Dessa forma, se respondesse a perguntas da defesa, também teria de falar ao Ministério Público. 

Problemas na Kiss

Spohr relatou, em seu depoimento ao juiz Orlando Faccini Neto, como foi instalada na boate a espuma de isolamento acústico, que, na noite da tragédia, ajudou a propagar o fogo.

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Ele contou que uma vizinha reclamava de forma persistente do barulho. “Tentei de tudo para resolver, cheguei a oferecer para ele que ela ficasse em um apartamento e pagaria um outro apartamento só para não ter um incômodo para ela.”

Spohr contou que recorreu ao engenheiro Samir Samara para conversar sobre o isolamento acústico e recordou que foi chamado ao Ministério Público. “Levei o Samir comigo lá. Samir disse que estava cheio de trabalho e que me indicaria um engenheiro [Miguel Angelo Pedroso]. A gente não botou espuma em toda a boate por conta do Pedroso. Ele disse ‘Eu não trabalho com espuma’, Samir dizia que tinha que fazer um tratamento acústico e ele me deu uma opção de fazer com tijolo na época.”

Spohr disse que Pedroso recomendou que ele fizesse uma parede de pedra. “Ele me deu umas explicações ótimas e eu comprei a ideia e disse ‘É isso’. Eu fiz uma parede de pedra, rosa, de ponta a ponta.” Segundo Spohr, o projeto foi feito por Pedroso. “Ele foi o engenheiro que ia lá acompanhar a obra.” O plano inicial de colocar espuma em toda a obra acabou alterado para instalar apenas sobre o palco.

Banda e pirotecnia

À pergunta se a banda teria informado sobre os artefatos pirotécnicos, Spohr disse que não se lembra de ter sido pedido autorização. “Eu não me lembro disso. Eu teria pelo menos analisado. Acho que eu não deixaria. Eu não deixaria. Sem a minha autorização. Acredito que eles achavam que esse treco não pegava fogo.”

Segundo Spohr, a banda Gurizada Fandangueira já havia tocado na Kiss antes da noite da tragédia algumas vezes. “É possível que nesse palco novo tenha sido a primeira vez. É possível que com as espumas ali tenha sido a primeira vez. Talvez essa vez do dia tenha sido a segunda vez que eles tenham tocado nesse palco.”

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