Sem oxigênio, governo do AM sugere uso de vala no interior
Orientação é citada em ação civil pública do Ministério Público Estadual que pede envio de cilindros ao município de Itacoatira
Cidades|Do R7, com Agência Estado
O governo do Amazonas orientou uma prefeitura do interior do Estado a abrir valas para enterrar seus mortos por não ter previsão de chegada de cilindros de oxigênio em nenhuma cidade do interior. A orientação é citada pelo Ministério Público Estadual, que entrou com uma ação civil pública neste sábado (16) para obrigar o Estado a enviar oxigênio para o município de Itacoatira, a 269 quilômetros de Manaus.
A Justiça já acatou o pedido. "Se o Estado não enviar o oxigênio ao hospital local de Itacoatiara-AM em quantidade suficiente, como já comprovado, teremos a morte de pelo menos 77 pessoas simultaneamente por insuficiência respiratória, devido à falta do material", afirmou o juiz Rafael Almeida Cró Brito. O prazo é de 12 horas e a multa é de R$ 20 mil por hora de descumprimento.
Segundo o MP, o secretário de Interior da Susam (Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas), Cássio Espírito Santo, chegou a oferecer câmaras frigoríficas ao prefeito da cidade, Mario Jorge Abrahim, orientando a abrir valas no cemitério local, uma vez que não há previsão para o fornecimento de oxigênio para o município.
A reportagem entrou em contato com o governo do Estado questionando se há planejamento para o envio de oxigênio ao interior, mas não obteve resposta. Dos 63 municípios do interior, apenas 11 têm hospitais, os outros só contam com postos de saúde.
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Nenhum dos hospitais do interior tem leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). De acordo com a promotora de Itacoatiara, Marcelle Arruda, neste sábado há 74 pacientes com covid-19 no Hospital José Mendes, o único da cidade, recebendo oxigênio.
"Ontem (sexta) quatro foram a óbito porque faltou oxigênio e tememos que todos possam morrer entre hoje (sábado) e amanhã (domingo) se não chegar oxigênio", disse. A demanda atual é de 150 cilindros por dia. Metade disso está sendo usada hoje, o resto está vazio.
Além de subscrever a ação civil pública, a promotora entrou neste sábado pela manhã com uma solicitação de urgência ao governo estadual frisando a iminente morte dos pacientes.
"Todas as promotorias das comarcas do interior estão entrando com ações, estamos desesperados, é urgente que parte das doações ou compra de oxigênio do governo do Estado seja para Manaus e para o interior também. Há seres humanos morrendo aqui e sem esperança alguma", disse a promotora Lilian Almeida, de Macapuru, município a 100 quilômetros de Manaus.
Segundo ela, a demanda diária atual é de 160 cilindros por dia, e hoje só há 44. A expectativa é que ao longo do dia todas as promotorias locais entrem com ações semelhantes.
Diversas ações do Ministério Público do Estado já cobravam a ausência de leitos de UTI nos hospitais do interior, onde, desde o início da pandemia, são improvisadas UTIs. Pacientes de mais gravidade têm sido transferidos para a capital.
Também na ação deste sábado foi pedido que essas transferências voltem a ser feitas, especialmente agora que estão vagando leitos de pacientes de Manaus transferidos para outros Estados.
Em Parintins, município a 466 quilômetros de Manaus, a situação é parecida. Na sexta (15), o prefeito da cidade anunciou que na segunda-feira, 18, devem começar a chegar equipamentos da Alemanha comprados pela prefeitura para montar uma usina de oxigênio, que será feita no único hospital público da cidade, Jofre Cohen. Segundo a assessoria da prefeitura, só há oxigênio para os 80 pacientes internados até mais dois dias.