Sistema agroflorestal do Pará vira exemplo de sustentabilidade antes da COP30
Cooperativa fundada por imigrantes japoneses em 1929 se destaca na produção de produtos diversificados, como cacau, dendê e açaí
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Em um terreno de 15 hectares, no nordeste do Pará, o engenheiro agrônomo e produtor Armando Tamotsu Mineshita cultiva dez espécies frutíferas que asseguram a subsistência de sua família. Entre elas estão cacau, pimenta-do-reino, açaí, cupuaçu, banana, pitaya, baunilha e limão.
O diferencial do produtor é o uso do sistema agroflorestal, estratégia de cultivo que permite o desenvolvimento conjunto de diferentes espécies, aproveitando o mesmo espaço de forma integrada.
O cacau, por exemplo, prefere meia-sombra e encontra ambiente ideal sob as copas altas do dendê, enquanto o açaí melhora a fertilidade do solo com a grande quantidade de resíduos e folhagens que produz.
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Mineshita explica que utiliza o modelo agroflorestal adensado, diferente do sistema tradicional de monocultura.
“No início do plantio, o espaçamento utilizado foi de 5 x 5 metros para cacau e pimenta-do-reino, e 5 x 10 para açaí. A adubação é feita com calcário, esterco de galinha e complementada com cloreto de potássio”, detalha.
A poda é realizada duas vezes por ano. “Este tipo de consórcio favorece a vida microbiana no solo, mantém temperatura estável e agradável para a colheita na sombra e reduz a necessidade de mão de obra na limpeza da área e na adubação”, relata.
Renda durante o ano inteiro
Para o produtor, o sistema tem outra vantagem: a oferta de renda durante todo o ano.
“Começamos o ano, de janeiro a março, com colheita da pupunha. Quando termina, temos a banana, depois o cacau. Quando acaba o cacau, temos o açaí. Todo mês temos um pouco de dinheiro da colheita para subsistência”, conta.
A adoção do sistema agroflorestal, segundo Mineshita, também o ajudou a enfrentar a crise climática vivida pelo país no último ano, marcada por uma seca prolongada que prejudicou produtores em várias regiões.
“Os meus amigos que plantaram só na monocultura [um único cultivo] praticamente perderam 100% do que tinham, devido à seca. Aqui, com todo esse sistema, quase não sentimos [impacto]”, lembra.
Pesquisa, renda e meio ambiente
Mineshita é um dos cooperados da Camta (Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu), localizada a cerca de quatro horas de Belém (PA). Fundada em 1929 por imigrantes japoneses, a cooperativa surgiu com o desafio de adaptar cultivos tropicais ao solo e ao clima amazônicos.
Atualmente, reúne mais de 600 famílias e registra faturamento anual superior a R$ 124 milhões.
O diretor-presidente da Camta, Alberto Oppata, afirma que o sistema agroflorestal prospera graças à força do cooperativismo.
“Quem adquire o nosso produto está agregando esse valor, dando condições para que um agricultor familiar tenha vida digna e sobreviva com condições melhores”, ressalta.
Segundo Oppata, cerca de 10% dos cooperados da Camta são japoneses, e outros 50% são descendentes. A instituição atua no processamento de diversos produtos, incluindo polpas de frutas.

Ele destaca ainda que a cooperativa incentiva os associados a adotarem o sistema agroflorestal, contribuindo para a redução do desmatamento da floresta primária.
“A disseminação do sistema tem promovido a melhoria na qualidade de vida das comunidades envolvidas, sendo a cultura do cacau responsável pela base econômica regional”, pontua.
Outro cooperado, Ernesto Suzuki, também compartilha sua experiência. Para ele, a estratégia de cultivo representa maior segurança, pois, quando uma cultura sofre adversidades, o produtor ainda dispõe de alternativas.
“Estamos nesse sistema agroflorestal desde 2008. Foram feitas várias pesquisas, porque a gente não podia cultivar qualquer outra espécie. E agora, nos últimos três anos, estamos expandindo o experimento”, explica.
Suzuki garante que as pesquisas e a vivência em sua propriedade “têm mostrado que é possível trabalhar dessa forma”, conciliando menor impacto ambiental e geração de renda.
Exemplo para o mundo

Com a proximidade da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), marcada para novembro, Oppata conta que a Camta deve receber delegações estrangeiras interessadas em conhecer o trabalho da cooperativa.
O secretário de Agricultura de Tomé-Açu (PA), José Alírio Tavares, afirma que as expectativas para o evento são altas. “O grande legado [da COP30] é transformar esse município. Temos muito potencial a explorar”, diz.
O repórter viajou a convite da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras)
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