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Apesar da covid, mercado prevê crescimento da economia em até 4,1%

Resultados do 1º trimestre surpreenderam positivamente governo e analistas, mesmo com a inflação e o baixo ritmo da vacinação

Economia|Angélica Sales, do R7

Analistas do mercado acreditam que a chegada de novas vacinas vai contribuir para a retomada
Analistas do mercado acreditam que a chegada de novas vacinas vai contribuir para a retomada

Os resultados econômicos do primeiro trimestre deste ano animaram o mercado a tal ponto que as projeções de crescimento para o PIB (Produto Interno Bruto) – a soma de todos os bens e serviços produzidos no país – de 2021 foram elevadas consideravelmente. Economistas que chegaram a projetar retração no período revisaram suas estimativas para cima. O otimismo tomou conta do mercado. A XP, por exemplo, espera que o PIB local cresça 4,1% este ano, contra expectativa anterior de 3,20%. Esta semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi ainda mais longe e arriscou uma expansão de 5% do PIB em 2021 – a atual estimativa oficial do governo aponta para 3,5%.

As expectativas parecem um paradoxo diante do atual cenário de inflação, alta do desemprego e baixo ritmo de vacinação. Mas economistas e analistas do mercado financeiro afirmam que os mais recentes indicadores divulgados ajudam a entender a razão de tanta confiança.

Um deles foi o balanço positivo do primeiro trimestre trazido pelo Monitor do PIB, apurado pelo Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) e divulgado na semana passada.

Embora o PIB brasileiro tenha recuado 2,1% em março ante fevereiro, na comparação com março de 2020 a atividade econômica avançou 5,2%, segundo o Monitor. Além disso, no fechamento do primeiro trimestre, o PIB teve uma expansão de 1,7% ante o quarto trimestre de 2020. Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, houve um avanço de 1,6%.


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“Todos os modelos de previsões se baseiam em séries históricas. A nossa, por exemplo, começou em 1996. Essas séries ajudam a projetar o crescimento da economia, porque o modelo aprende com o passado e extrapola números para o futuro”, explica Cláudio Considera, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE) e responsável pelo Monitor do PIB . “O problema é que a pandemia causou confusão na série histórica, alterando completamente os modelos de previsão.”

A pandemia acabou, portanto, dificultando o trabalho de projeção econômica, jogando muitas vezes as estimativas para baixo. “Uma das explicações para o resultado do trimestre ter sido favorável é que o ano passado foi muito ruim. Era de certa forma esperado que houvesse alguma recuperação em 2021”, afirma Considera.


Setor de serviços

O pesquisador da FGV lembra, também, que o setor de serviços melhorou muito no trimestre, ainda que continue negativo. O segmento, que gera 68% do PIB, foi o principal responsável pelo desempenho positivo do período. Entre os subsetores, merecem destaque o crescimento de plataformas de streaming (provedoras de conteúdos como séries e filmes) e de instituições financeiras (com o isolamento social e as regras sanitárias, a maioria das pessoas deixou de usar dinheiro e adotou os cartões bancários).


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Registraram queda, segundo Considera, as áreas de educação (um exemplo são os pais que tiraram os filhos de creches particulares por causa da pandemia), saúde (a maioria dos procedimentos ambulatoriais, sem relação com a covid-19, foram adiados para depois da pandemia) e cultura (o movimento em teatros, cinemas e hotéis foi extremamente baixo).

Números do IBC-Br

Um pouco antes do Monitor do PIB, os números do IBC-Br (Índice de Atividade do Banco Central), que busca antecipar as tendências do PIB, calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apontaram alta de 2,3% no primeiro trimestre. Somados, o Monitor e o IBC-BR mexeram com o mercados e as instituições financeiras refizeram os cálculos. “A partir daí, o mercado ficou mais otimista e elevou suas projeções”, afirma Considera. O balanço oficial do IBGE só será divulgado nesta terça-feira (1º).

Para o responsável pelo Monitor do PIB, a elevação da atividade econômica está diretamente ligada ao avanço no ritmo de vacinação contra a covid. “O Brasil não tem saída se não vacinar. O setor de serviços, tão fundamental para o crescimento, se baseia sobretudo na interação social. Seu pleno funcionamento depende da imunização em massa”, diz Considera. “A prioridade do governo neste momento deveria ser comprar todas as vacinas que puder.”

Novas vacinas

Rodolfo Margato, economista da XP, está de acordo. “Todo e qualquer cenário econômico depende de premissas calibradas sobre a vacinação”, diz. Apesar do ritmo lento neste segundo trimestre, especialmente motivado por questões logísticas, Margato acredita que o segundo semestre terá um desempenho favorável no que se refere à imunização da população. “A partir de junho e julho, a chegada de novas vacinas vai certamente movimentar positivamente a economia.”

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A XP foi uma das casas a aumentar a projeção de crescimento para o PIB de 2021. A atual previsão é de 4,1%. Margato também cita o desempenho do setor de serviços no primeiro trimestre como um dos responsáveis pela confiança do mercado. “O comércio varejista caiu menos que o esperado, a despeito da piora da pandemia e da interrupção do auxílio emergencial no período”, pondera. Ele destaca, ainda, os bons resultados da agropecuária e da construção civil. “Em especial obras e reformas menores, desempenho que não se repetiu nas obras de infraestrutura pesada.”

De toda forma, diz o economista da XP, a economia se manteve mais resiliente. “Acreditamos que isso se deve, em parte, ao fato de muitas famílias terem usado sua poupança circunstancial de 2020”, afirma Margato, acrescentando que o termo se refere às economias feitas no ano passado em razão das restrições da pandemia. “Os recursos destinados a viagens ou outro tipo de lazer, por exemplo, não foram usados. Provavelmente essa ‘poupança’ ajudou a suavizar a queda do consumo no primeiro trimestre.”

Mobilidade social

Margato avalia ainda que os índices de mobilidade social têm aumentado bastante. “É uma situação que leva a riscos, mas não trabalhamos com um cenário de terceira onda”, diz. O quadro arriscado pode ser o mesmo que vai movimentar a economia no segundo semestre, pois há uma demanda reprimida justamente dos serviços às famílias (restaurantes, shoppings, teatros e viagens, por exemplo).”Esse pode ser um segmento que vai se destacar, pois atualmente os níveis estão muito aquém da normalidade.”

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O analista da XP lembra que a elevação dos preços internacionais dos commodities também contribuiu para os bons resultados do primeiro trimestre. “Historicamente, essa elevação transborda positivamente sobre a economia brasileira em razão da transferência de renda do setor externo para o Brasil”, explica.

Por fim, outra razão para o otimismo, segundo Margato, é que a economia global também está num processo de recuperação. “Isso com certeza vai impactar positivamente nossos setores exportadores.”

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