Bons negócios surgem na crise, mas exigem cuidados
Especialistas alertam que momento é bom apenas para quem tem dinheiro guardado
Economia|Fernando Mellis, do R7

É nas épocas de crise que surgem boas oportunidades. Em ano de recessão, essa frase começa a fazer sentido para aqueles brasileiros que têm alguma reserva de dinheiro e planos para o futuro: trocar de casa, de carro ou até mesmo viajar. O momento é de ofertas e negócios atraentes, mas exige alguns cuidados, segundo especialistas ouvidos pelo R7.
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A primeira regra é: não tente complementar suas economias com financiamentos bancários. As taxas de juros subiram nos últimos meses e o negócio que parecia vantajoso poderá se tornar muito caro no fim das contas.
Carros
Isso vale, por exemplo, para quem deseja adquirir um carro novo. As concessionárias estão fazendo inúmeras promoções e facilitando a compra. Mas emprestar dinheiro do banco é um grande erro, segundo o professor Luiz Carlos Lemos, coordenador do curso de administração da Universidade Mackenzie Campinas.
— As taxas de juros praticadas pelos bancos para esse tipo de financiamento são proibitivas. Dependendo da relação que o cliente tenha com o banco, para financiar um carro em 36 meses, a taxa praticada pode elevar o valor financiado em 50% ao longo de três anos.
Lemos lembra ainda que as montadoras não diminuíram o preço tabelado dos carros. As ofertas variam de acordo com a concessionária. Isso pode exigir que o interessado bata muita perna antes de conseguir um valor que caiba no bolso.
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Moradia
O mesmo se aplica aos financiamentos imobiliários. Nunca houve tantas ofertas de imóveis novos e usados por todo o País. O problema é que nem todo mundo tem dinheiro para comprar à vista e aí surge a dúvida: vale a pena emprestar?
Nos últimos meses, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil aumentaram juros para algumas modalidades do financiamento imobiliários e também alteraram algumas condições, como, por exemplo, o percentual mínimo da entrada.
Apesar desse agravante, o economista e conselheiro do Cofecon (Conselho Federal de Economia) Fábio Silva, garante que a hora de comprar imóveis é agora.
— O preço dos imóveis já está subindo menos do que a inflação há algum tempo. Em termos reais, está caindo. O mercado está mais favorável ao comprador, então podem ter descontos bem maiores do que esses indicadores estão mostrando.
Silva se refere ao Fipe/Zap, que acompanha o mercado imobiliário em 27 grandes cidades brasileiras. Em média, os preços subiram 5,1% nos últimos 12 meses, enquanto o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação, está em 8,89%.
Viagem
O ano começou com uma enxurrada de promoções de companhias áreas brasileiras e internacionais. Mesmo com o dólar na casa de R$ 3,20, os preços de passagens para o exterior hoje estão mais baratos do que há um ano e devem continuar baixos, segundo executivos do setor. Já é possível encontrar passagens de ida e volta para os Estados Unidos, por menos de R$ 1.000. Mas o professor Luiz Carlos Lemos faz um alerta.
— Não podemos esquecer que o câmbio foi valorizado. Isso pode ser um problema para quem viaja para fora. É preciso calcular todas as outras despesas em dólar e ver se o passeio é uma boa oportunidade.
Para quem for viajar, vale a mesma regra: nada de se endividar e depois fazer empréstimo no banco. Lembrando que os juros do cartão de crédito no Brasil estão entre os mais altos do mundo — o rotativo chega a cobrar 360,6% ao ano.
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Investimento
Sem carro, sem casa própria e sem viagem. Se você não tem planos de gastar o dinheiro que guardou até agora, a crise também tem um lado bom. O mais importante, segundo economistas, é que ele não fique na poupança. Apesar de ser uma aplicação que não cobra taxas, a remuneração atual perde para a inflação.
A recomendação do conselheiro do Cofecon é que as pessoas procurem comprar títulos públicos, por meio do Tesouro Direto.
— Neste momento, tem duas oportunidades. Uma delas são os títulos pós-fixados, que dado o aumento da Selic [taxa básica de juros da economia], estão rendendo uma média de 13,75% [ao ano]. E para quem tem um horizonte de mais longo prazo, tem aqueles títulos indexados à inflação, que tiveram aumento da taxa real nos últimos tempos.
Esses investimentos cobram Imposto de Renda e taxa de administração. Porém, Lemos diz que ainda assim compensam.
— Tem títulos que estão rendendo mais de 6% ao ano, descontada a inflação. É, sem dúvidas, uma das melhores aplicações que se pode fazer hoje.
