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Com Selic no maior nível desde 2006, ajuste fiscal é chave para reduzir juros, dizem analistas

Copom decidiu manter o ciclo de alta e aumentar em 0,25 ponto percentual, para 15% ao ano

Economia|Giovana Cardoso e Thays Martins, do R7, em Brasília

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Sob gestão de Gabriel Galípolo, Banco Central aumentou mais uma vez a Selic Lula Marques/ Agência Brasil - 08/10/2024

Em meio a um cenário de incertezas políticas no Brasil e no exterior, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu na quarta-feira (18) manter o ciclo de alta da taxa básica de juros, aumentando a Selic em 0,25 ponto percentual, para 15% ao ano. A taxa é a maior desde 2006. Para economistas ouvidos pelo R7, a falta de controle do governo em relação aos gastos públicos foi um fator decisivo para a decisão da autoridade monetária.

Eles alertam que, apesar de o Copom sinalizar que não deve promover um novo aumento na taxa na próxima reunião, para haver queda na Selic será preciso melhorar a política fiscal do país.


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“O Banco Central até sinaliza uma pausa no ciclo de alta, para avaliar os efeitos dos juros elevados até aqui. Mas também deixou claro que, se o cenário não melhorar, não hesitará em voltar a subir os juros”, destaca o economista Augusto Mergulhão.

Para o economista Hugo Garbe, a decisão do Copom reflete a “incapacidade do governo em conduzir de forma responsável a política fiscal do país”. Segundo o especialista, as medidas anunciadas pelo Ministério da Fazenda para controlar os gastos públicos não são suficientes.


“A alta da Selic é uma resposta ao risco crescente de descontrole, em um cenário em que a dívida pública avança, o déficit primário se aprofunda e as promessas de ajuste não se concretizam”, explica.

Selic ao longo dos meses Luce Costa/Arte R7

O que esperar da próxima reunião

A nova taxa de 15% ao ano valerá ao menos até 30 de julho, quando os diretores do BC voltam a se reunir para discutir novamente a conjuntura econômica nacional. O Copom sinalizou que pode interromper o ciclo de alta caso o cenário siga conforme o esperado. A ideia é observar os efeitos dos aumentos já realizados — que demoram a impactar a economia — antes de decidir se novas elevações serão necessárias.


Apesar disso, na visão de Augusto Mergulhão, por enquanto não há espaço para cortes no curto prazo. “Para que haja espaço para corte, o país precisa mostrar avanços claros no controle de gastos, na redução do risco fiscal e na recuperação da confiança. Sem isso, os juros ficam altos por mais tempo — não por vontade, mas por necessidade”, avalia.

“A chave para destravar espaço para juros menores não está só no BC — está, principalmente, na responsabilidade fiscal do governo. Se o governo organizar as contas, cortar despesas e sinalizar compromisso com a estabilidade, o Banco Central pode começar a reduzir juros no futuro. Se não, os juros ficam altos por mais tempo para segurar inflação e expectativas”, completa.


A opinião também é compartilhada por Hugo Garbe. De acordo com ele, o cenário só terá mudanças quando o governo resolver fazer reformas estruturantes.

“Não há taxa de juros que corrija, sozinha, a desfuncionalidade de um governo que finge perseguir metas fiscais enquanto opera em sentido contrário. Em vez de discutir reformas sérias, como a revisão dos gastos obrigatórios ou a reestruturação do pacto federativo, o Planalto insiste em soluções paliativas e populistas que apenas empurram os problemas para frente.”

Decisão “injustificada”

A Selic é o principal instrumento de controle do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Juros mais altos encarecem o crédito, desestimulam a produção e o consumo, e podem frear o crescimento econômico.

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) chamou de “injustificada” a decisão do Copom de aumentar a taxa de juros e que a medida vai prejudicar a economia.

“Não lidávamos com um patamar tão alto desde 2006. A irracionalidade dos juros e da carga tributária já está sufocando a capacidade dos setores produtivos, que já lidam com um cenário conturbado e possibilidade de aumento de juros e custo de captação de crédito. É um contrassenso o Banco Central se manifestar contra o aumento do IOF enquanto decide aumentar a taxa de juros. Aonde se quer chegar?”, questiona o presidente da CNI, Ricardo Alban.

A Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) disse considerar “inadmissível” a decisão Copom. “Cada nova elevação da taxa de juros é um golpe adicional na capacidade de produção e de o país de crescer de forma sustentável.”

Segundo o economista Bernito Salomão, o impacto para os brasileiros serão sentidos nos próximos meses. “O impacto disso para a população, nós vamos observar mais a médio prazo, com a estabilização de alguns preços. Nós esperamos que, com uma taxa de juros desse patamar, a nossa taxa de inflação possa convergir para próximo da meta.”

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