Comportamento da inflação nos próximos meses vai definir ritmo da alta da taxa de juros
Reajuste da Selic foi de 0,5 ponto percentual; próxima reunião do Copom será em dezembro
Economia|Do R7
Na segunda alta consecutiva, o Banco Central reajustou em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros, a Selic, para 11,25%, nessa quarta-feira (6). No comunicado, mais uma vez, o Copom (Comitê de Política Monetária), não deixa claro o que esperar daqui para a frente. No entanto, o comitê condiciona novos aumentos ao comportamento da inflação. A próxima reunião do grupo é daqui a 45 dias e será a última com Roberto Campos Neto na Presidência do Banco Central.
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“O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo de aperto monetário serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, diz o comunicado.
Planejador financeiro e especialista em mercado de capitais, Idean Alves projeta uma nova alta antes do fim de 2024. “Acredito que as próximas reuniões devem vir com um tom de cautela, provavelmente mais uma alta, que é a expectativa do mercado, mas sem dúvida pautando que qualquer novo ajuste vai acontecer olhando o filme todo, e não apenas a fotografia do momento”, ressalta.
Isso, segundo ele, não é ruim, já que é um “remédio" necessário. “Temos um BC com postura técnica e precisa, sem dúvida, sendo uma das luzes para a nossa economia, pois apesar de dar um remédio amargo via juros, está fazendo o necessário para o país com base em dados técnicos. Não por acaso o nosso BC foi eleito o melhor do mundo", afirma.
Motivos são internos e externos
Segundo o Banco Central, aumentar os juros é necessário devido à inflação dos últimos 12 meses e às dúvidas sobre a questão fiscal e corte de gastos do governo.
A expectativa é que o governo federal anuncie nesta quinta-feira (7) um pacote de corte de gastos. Pelo comunicado do Copom, essas medidas poderão influenciar na política monetária.
“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária", diz o BC.
Para o assessor de investimentos e líder comercial da Blue3 Investimentos, Leonardo Fernandes, o principal motivo para a alta dos juros é o mercado de trabalho aquecido, que acaba aumentando a inflação. “Esse dinamismo do mercado de trabalho gera mais consumo e, consequentemente, um aumento da inflação, que não está entrando na meta. Então, precisa desse movimento de aumento da taxa de juros para desincentivar o consumo e, consequentemente, frear a inflação."
Reação do mercado
Para o estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital, Marcelo Bolzan, o aumento da taxa de juros já era esperado pelo mercado. Além disso, ele ressalta que o comunicado foi muito parecido com o de setembro. “Achei o tom da ata bem neutro porque foi exatamente na mesma linha da anterior”, diz.
Por isso, ele acredita que o aumento da Selic não deve impactar o mercado. Bolzan afirma que o que pode mexer na bolsa será o pacote de corte de gastos a ser anunciado pelo governo.
“Acredito que o comunicado não vai fazer grande preço porque já era amplamente aguardado pelo mercado. Acredito que um eventual anúncio de um pacote de gastos com mais detalhes pelo governo aí possa, sim, fazer um preço muito maior", afirma.
Segundo Leonardo Fernandes, caso os juros se mantenham altos por muito tempo, será ruim para todo mundo. “Ficar acima dos dois dígitos por mais tempo é sempre ruim para a população e para as empresas. Para a população, porque subir a taxa de juros é para frear o consumo. Para as empresas, porque elas começam a faturar menos", explica.
Indústria reclama
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) disse, logo após o anúncio do Copom, que recebeu com “indignação" a notícia do aumento. “Trata-se de mais uma decisão extremamente conservadora da autoridade monetária. Isso porque o nível em que a Selic se encontrava antes da reunião já era mais que suficiente para manter a inflação sob controle”, disse a entidade.
Presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Décio Lima também criticou a medida. Segundo ele, a decisão “prejudica os pequenos negócios".
A Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) chamou o reajuste de “excessivo” e afirmou que o elevado patamar de juros “inviabiliza uma recuperação sustentável da indústria".