Economia El Niño deve reduzir geração de energia e potencial exportável de Belo Monte em 2024

El Niño deve reduzir geração de energia e potencial exportável de Belo Monte em 2024

Usina do Pará é a maior hidrelétrica 100% brasileira e pode sofrer com falta de chuvas, pois não tem reservatório de acúmulo de água

Reuters
Usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará

Usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará

Reuters / Bruno Kelly - 15.07.2021

O potencial de geração de energia elétrica da usina hidrelétrica de Belo Monte deverá ser afetado pelo El Niño no início de 2024, segundo previsão da Norte Energia, concessionária responsável pelo empreendimento. O padrão climático também poderá diminuir o potencial exportável de energia para países vizinhos, caso provoque uma redução mais prolongada das chuvas na região Norte.

Os primeiros meses do ano são justamente o período em que Belo Monte explora mais sua capacidade. A maior usina 100% brasileira é uma hidrelétrica a fio d'água, sem reservatório de acumulação de água. A geração de energia costuma ser mais forte no primeiro semestre e cai drasticamente na segunda metade do ano, devido à sazonalidade das vazões do rio Xingu.

Ela chega a ficar com as máquinas praticamente paradas no segundo semestre, lógica de operação que já foi criticada por especialistas.

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"Evidentemente que a gente espera no primeiro semestre que a nossa geração não seja tão boa quanto foi em 2021, 2022 e em 2023", diz Franklin Miguel, diretor de regulação e comercialização da Norte Energia. A concessionária tem como sócias grandes empresas do setor, como Eletrobras, Cemig e Neoenergia, além de fundos de pensão e as autoprodutoras de energia Vale e Sinobras.

"De forma consistente, a usina tem aumentado a produção dela. Agora, para o ano de 2024, é esperada uma redução", acrescenta o executivo, sem citar números, justificando que as estimativas ainda são "muito preliminares".

A potência da usina

Instalada no sudoeste do Pará, na bacia do rio Amazonas, Belo Monte tem 11.233,1 MW (megawatts) de capacidade instalada, o que a coloca como a segunda maior usina do Brasil, atrás apenas de Itaipu Binacional.

Ela é um ativo relevante para o SIN (Sistema Interligado Nacional), representando 6% de toda energia produzida, mas uma possível diminuição em sua geração não acende um alerta tão grande no país, devido ao forte crescimento das usinas eólicas e solares.

No ano passado, a hidrelétrica fechou o ano batendo recorde de geração, alcançando 37.138 GWh (gigawatts-hora), 17% acima do registrado no ano anterior.

Segundo Miguel, os efeitos do El Niño devem afetar o vertimento turbinável, diminuindo o potencial de energia de Belo Monte que poderia ser exportada para países vizinhos.

"Todo ano, desde que a usina entrou em operação comercial, temos vertimento turbinável da ordem de 750 megawatts médios. Para 2024, por causa da hidrologia, ele pode ser reduzido para 300, 400 megawatts médios", calcula.

Neste ano, o Brasil passou a aproveitar o vertimento turbinável das hidrelétricas, energia que antes era 'desperdiçada', para vender à Argentina e Uruguai, tendo importantes ganhos financeiros com as operações.

De janeiro a agosto deste ano, a exportação de energia das hidrelétricas rendeu R$ 781 milhões para os geradores da fonte, segundo dados divulgados nesta semana pelo governo.

Os valores arrecadados com essas operações são rateados entre as todas usinas participantes do MRE (Mecanismo de Realocação de Energia), uma espécie de 'condomínio' das hidrelétricas, criado para mitigar o risco de geração dessas usinas, por meio do compartilhamento de ônus e bônus.

"Estamos estimando um resultado, só de exportação para a Norte Energia, em torno de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões neste ano", comenta o executivo.

Alta de custos

Um terceiro impacto do El Niño já é sentido por Belo Monte e está associado à alta dos custos que a hidrelétrica teve com compras de energia neste segundo semestre, devido à necessidade de balancear o portfólio.

Segundo o diretor da Norte Energia, o El Niño trouxe chuvas intensas no Sul e elevou a geração da usina de Itaipu. Com isso, a binacional tem alocado mais energia para o MRE, de quem Belo Monte compra energia, a uma tarifa muito mais elevada que a dos outros geradores hidrelétricos.

"Todas as outras usinas, quando colocam energia no MRE, recebem tarifa de R$ 16, exceto Itaipu, que coloca a R$ 60", conta. Ele explica que essa tarifa, chamada "TEO Itaipu", é mais cara devido a particularidades do empreendimento, como custos operacionais diferentes dos demais geradores.

"Nós compramos energia de todos os geradores [no MRE], mas tem um mix de Itaipu e dos outros, aí a tarifa que estamos comprando acaba ficando um pouquinho mais cara do que o previsto."

A elevação 'dos custos MRE' afeta especialmente Belo Monte em virtude de sua sazonalidade ser mais acentuada do que de outras usinas que também passam por essa situação, como as do Rio Madeira.

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