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Haddad e Campos Neto participam da 1ª reunião do Conselho Monetário Nacional

Ministro e presidente do Banco Central vão se encontrar após tensão criada pelas críticas do governo federal aos juros

Economia|Johnny Negreiros, do R7*

Presidente do BC tem sofrido pressões do governo Lula por causa dos juros
Presidente do BC tem sofrido pressões do governo Lula por causa dos juros

Na manhã desta quinta-feira (16), o CMN (Conselho Monetário Nacional) se reúne pela primeira vez neste ano e na gestão do governo Lula. O encontro acontece em meio à pressão do petista pela redução da taxa de juros, atualmente no maior patamar dos últimos seis anos.

O conselho é o órgão superior do Sistema Financeiro Nacional e tem a responsabilidade de formular a política monetária e do crédito, para a estabilidade e o desenvolvimento econômico e social do país.

Será também o primeiro encontro do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, após a tensão criada pelas críticas do governo federal aos juros. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, também faz parte do conselho. 

Normalmente, o grupo tem discussões protocolares, com o objetivo de alinhar o Banco Central com as intenções do governo federal.


No entanto, a reunião desta quinta-feira tem contornos de decisão. Isso porque ela pode selar a trégua entre Lula, representado por seus ministros, e Campos Neto. Além disso, é possível que a alteração na meta de inflação do órgão seja discutida.

Lula contra BC

Nas últimas duas semanas, Lula criticou o Banco Central e até fez ataques pessoais a Campos Neto.


“Este país está dando certo? Este país está crescendo? O povo está melhorando de vida? Não. Então eu quero saber de que serviu a independência. Eu vou esperar esse cidadão [Roberto Campos Neto, presidente do BC] terminar o mandato dele para a gente fazer uma avaliação do que significou o Banco Central independente", disse.

O chefe do Executivo discordou da decisão do BC de manter a taxa Selic em 13,75%. O atual patamar é alto, em comparação ao de outros países. A Selic representa os juros da economia brasileira. Quando ela aumenta, tomar empréstimo em um banco fica mais caro, por exemplo.


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Nesse contexto, Lula questionou a autonomia da autarquia. Desde 2021, o Banco Central tem maior liberdade para tomar suas medidas, sem depender diretamente do presidente da República.

Para Pedro Raffy, professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, bancos centrais autônomos “tendem a ser melhores, em geral”.

A política monetária%2C que é a política que trata de juros%2C fica independente da vontade política. Então%2C não haveria interferência por parte do presidente da República e de ministros na determinação da taxa de juros visando somente ao crescimento econômico em detrimento do controle da inflação

(Pedro Raffy, professor de economia da Universidade Mackenzie)

Já Antônio Lacerda, professor em economia política da PUC-SP e ex-presidente do Cofecon (Conselho Federal de Economia), defende a autonomia do Banco Central. 

"A autonomia deve supor a execução da política econômica do governo, e também deve ser autônomo relativamente às pressões do mercado financeiro", afirma Lacerda.

Lula também afirmou que a atual meta de inflação, fixada em 3,25%, estaria baixa demais. Esse número é usado como objetivo do Banco Central. Ou seja, a autarquia deve, através da Selic, fazer a inflação do Brasil chegar perto do nível da meta.

A ideia do governo Lula é que, com maior meta de inflação, maior pode ser a alta de preços. Nessa teoria, produtos mais caros representariam crescimento da economia brasileira.

Dessa forma, Campos Neto passou a sofrer pressão do PT, partido de Lula, e aliados. Em entrevista na segunda-feira (13), o presidente do BC disse estar dialogando com o governo petista, mas reafirmou posição contra a alteração da meta de inflação.

Antônio Lacerda defende a tese de que a ferramenta deveria passar por mudanças. “Todo regime de metas de inflação deve ser aperfeiçoado: a meta em si, exageradamente apertada mesmo para a realidade atual dos países desenvolvidos (todos com inflação muito mais elevada do que a meta estipulada para o Brasil), assim como a sistemática de buscar atingir a meta no ano corrente; a falta de análise das causas da inflação, que tem sido muito mais influenciada por fatores de oferta do que de demanda etc”, contrapôs o economista.

Porém, nesta terça-feira (14), Haddad negou que esse assunto será discutido na reunião desta semana. Vladimir Fernandes Maciel, coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, acredita que o governo vai evitar confronto.

“Seria muito arriscado para o governo tentar fazer tudo isso de uma vez; só agora já está dando muito ruído, eu acho que não é da natureza do Haddad buscar esse tipo de situação de confronto. Acho que ele vai ser mais negociador. Mas isso não significa que não venha no futuro a voltar a esse assunto de novo”, avalia Maciel.

CMN

O Conselho Monetário Nacional foi criado em 1964, na esteira de reformas econômicas. Nesse mesmo ano começou a ditadura militar, que se encerraria em 1982.

“De lá para cá, a composição do CMN passou por várias mudanças. Já teve como integrantes vários ministros, incluindo representantes de bancos como o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. No período mais recente optou-se pela composição atual”, detalha Pedro Raffy.

*Estagiário do R7, sob supervisão de Ana Vinhas

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