Mercado aumenta previsão de inflação para 2023 pela 11ª semana seguida, para 5,90%
O boletim Focus, do Banco Central, também indica a continuidade da taxa Selic em 12,75%, e o dólar estável em R$ 5,25 no fim do ano
Economia|Do R7, com Agência Estado
As expectativas do mercado para as taxas de inflação de 2023 e de 2024, divulgadas na manhã desta segunda-feira (27), tiveram pouca alteração em relação às da semana anterior, segundo as informações do boletim Focus, do BC (Banco Central). A projeção para o IPCA (índice de preços ao consumidor amplo) deste ano subiu marginalmente, de 5,89% para 5,9%, a 11ª alta consecutiva. Um mês antes, a mediana era de 5,74%.
Para 2024, a previsão do mercado para o índice oficial de inflação do país continuou em 4,02% — era de 3,9% há quatro semanas. Para analistas, esse número indica um horizonte cada vez mais relevante para a estratégia de convergência à inflação do BC.
O boletim Focus resume, semanalmente, as estatísticas a respeito de alguns indicadores da economia brasileira, calculadas segundo as expectativas de mercado, coletadas até a sexta-feira anterior à sua divulgação.
Considerando-se somente as 107 estimativas atualizadas nos últimos cinco dias úteis, a mediana para 2023 passou de 5,97% para 5,93%. Para 2024, variou de 4,1% para 4,05%, levando-se em conta 102 atualizações no período.
Atualmente, o foco da política monetária está em 2023 e, com maior peso, 2024. A mediana do Focus para a inflação oficial neste ano está bem acima do teto da meta, de 4,75%, apontando para três anos o período de descumprimento do mandato principal do BC, após 2021 e 2022.
Para 2024, a mediana está acima do centro da meta (3%), mas ainda dentro do intervalo, que vai de 1,5% a 4,5%. Já a mediana para o IPCA de 2025 subiu levemente, de 3,78% para 3,8%, e era 3,5% há um mês.
A projeção do mercado para o índice de inflação de 2026 avançou de 3,7% para 3,75%, contra 3,5% um mês antes. A meta para 2025 é de 3% (margem de 1,5% a 4,5%), e ainda não há um objetivo definido para 2026.
Este mês e os próximos
Após o resultado de 0,76% do IPCA-15 de fevereiro, os economistas do mercado financeiro mantiveram no Focus a projeção de alta do IPCA no mês. A mediana continuou em 0,78%, e era 0,79% há um mês.
Para o índice da inflação de março, a estimativa permanece em 0,65%, contra 0,58% de um mês antes. Um leve avanço do indicador é observado na previsão de abril, de 0,6% para 0,61%, sendo que ele era de 0,55% há quatro semanas. Já a expectativa para a inflação suavizada para os próximos 12 meses cedeu, de 5,7% para 5,65%, e um mês atrás era 5,63%.
Taxa de juros
Neste mês, na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o BC atualizou suas projeções para a inflação no cenário de referência, com estimativas de 5,6% em 2023 e 3,4% em 2024. O colegiado, que manteve a Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, em 13,75% ao ano, ainda inseriu um cenário alternativo, em que essa taxa fica estável por todo o horizonte relevante.
No boletim Focus desta semana, a mediana para a taxa Selic no fim de 2023 continuou em 12,75% ao ano, enquanto, para o término de 2024, manteve-se em 10%. Há quatro semanas, as estimativas eram de 12,5% e 9,5%, nessa ordem.
A projeção da taxa de juros no fim de 2025 continuou em 9%, contra 8,5% de quatro semanas antes. O boletim ainda trouxe a projeção para a Selic para o término de 2026, que cedeu de 8,75% para 8,5%, o mesmo percentual de um mês antes.
Esse resultado está relacionado ao tom conciliatório do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e à redução das críticas do governo Lula ao BC.
Câmbio
O relatório do BC também mostra um cenário de estabilidade para a moeda americana em 2023, com estimativa do mercado para que o dólar continue em R$ 5,25, o mesmo valor apresentado há um mês. Para 2024, a mediana passou de R$ 5,29 para R$ 5,3, repetindo o resultado de quatro semanas atrás.
A projeção anual de câmbio publicada no Focus é calculada com base na média para a taxa no mês de dezembro, e não mais no valor projetado para o último dia útil de cada ano, como era até 2020. Com isso, o BC espera trazer maior precisão às projeções cambiais do mercado financeiro.
Projeção de alta do PIB
Um novo avanço no cenário de crescimento do PIB (produto interno bruto) é previsto para 2023, segundo o Focus. A mediana para a alta do PIB neste ano passou de 0,8% para 0,84%, contra 0,8% há um mês. Considerando-se apenas as 76 respostas nos últimos cinco dias úteis, a estimativa para o PIB no fim de 2023 cedeu de 0,97% para 0,9%.
O PIB de 2022 não faz mais parte do boletim. Para 2024, o relatório Focus mostrou estabilidade na perspectiva de crescimento em 1,5%, a mesma projeção de um mês atrás. Em relação a 2025, a mediana seguiu em 1,8%, contra 1,89% de quatro semanas antes, e a estimativa para 2026 está em 2% há 50 semanas.
Déficit primário e balança comercial
A projeção para o déficit primário em 2023 melhorou nesta semana, de 1,05% para 1,03% do PIB, na comparação com 1,1%, de quatro semanas atrás. Para o déficit nominal deste ano, a mediana continuou em 7,85%, contra 8,45% do PIB há um mês.
O resultado primário reflete o saldo entre receitas e despesas do governo, antes do pagamento dos juros da dívida pública. Já o resultado nominal reflete o saldo depois das despesas com juros.
Em relação ao indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB, a estimativa para 2023 caiu de 61,5% para 61,23% do PIB; era 61,4% há um mês.
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Para 2024, a projeção do rombo primário continuou em 0,8% do PIB, enquanto o déficit nominal previsto variou de 7,17% para 7,2% do PIB. Há um mês, os percentuais eram de 1% e 7,15% do PIB, respectivamente.
No caso da dívida, a estimativa foi mantida em 64% do PIB, ante os 64,39% de quatro semanas antes.
A expectativa dos economistas do mercado financeiro para o superávit da balança comercial em 2023 e 2024 foi reduzida no boletim Focus. Para este ano, a projeção cedeu de US$ 57,85 bilhões para US$ 57,35 bilhões, contra US$ 57,6 bilhões há um mês. Para 2024, a mediana passou de US$ 56,75 bilhões para US$ 54,5 bilhões, dos US$ 52,4 bilhões previstos há quatro semanas.
Em relação à estimativa de déficit em conta corrente do balanço de pagamentos para 2023, a mediana deficitária continuou em US$ 50 bilhões, sendo que um mês atrás era de US$ 46 bilhões. Para o ano que vem, a estimativa foi mantida em US$ 50,25 bilhões, mas era de US$ 45 bilhões há quatro semanas.
Para os analistas consultados semanalmente pelo BC, o ingresso de IDP (investimento direto no país) será mais do que suficiente para cobrir o rombo em transações correntes neste e no próximo ano. A mediana das previsões para o IDP em 2023 permaneceu em US$ 80 bilhões, o mesmo valor esperado há quatro semanas. Para 2024, a estimativa também foi mantida em US$ 80 bilhões, igual à mediana de um mês antes.