Mesmo sob pressão, Banco Central mantém taxa básica de juros em 13,75%
É a sexta vez seguida que a Selic é mantida nesse patamar, o maior desde o início de 2017
Economia|Do R7
Sob pressão do governo federal pela redução da Selic, o Copom (Comitê de Política Monetária), do BC (Banco Central), decidiu nesta quarta-feira (3) manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. É a sexta vez seguida que a Selic é mantida nesse patamar, o maior desde o início de 2017. A taxa ficará vigente por ao menos 45 dias, quando os diretores do BC voltam a se encontrar para discutir novamente a conjuntura econômica nacional.
"O ambiente externo se mantém adverso. Os episódios envolvendo bancos no exterior têm elevado a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até o momento, requerendo contínuo monitoramento. Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente", afirma o BC em nota.
Com a manutenção dos juros no maior nível dos últimos seis anos, o Banco Central virou alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da equipe econômica. Na segunda-feira (1º), em um ato unificado das centrais sindicais pelo Dia do Trabalho, Lula voltou a criticar o atual patamar da Selic.
"A gente não pode viver mais num país onde a taxa de juros não controla a inflação. Ela controla, na verdade, o desemprego nesse país, porque ela é a responsável por uma parte da situação que vivemos hoje", disse.
Apesar da desaceleração dos preços indicada pela prévia da inflação de abril, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), de 5,36% para 4,16% no acumulado de 12 meses, a inflação de serviços manteve um patamar alto em abril.
Para o economista Pedro Raffy Vartanian, professor do mestrado profissional em economia e mercados e da graduação em economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é primordial o controle da inflação.
"Ainda que a taxa de juros real esteja em patamares elevados, o Copom toma decisões analisando o cenário futuro da inflação. A taxa de juros atual terá efeito apenas na inflação de 2024, e o objetivo do Banco Central do Brasil é justamente levar a inflação para o centro da meta. É o princípio fundamental de um regime de metas para a inflação", afirma.
Ele explica que o impacto de uma taxa de juros elevada se dá diretamente sobre a atividade econômica: taxas de juros elevadas prejudicam a atividade econômica, ao passo que reduções na taxa de juros poderiam estimular a economia.
"Entretanto, entende-se que preços estáveis são importantes para um crescimento econômico sustentado, e, diante disso, busca-se primordialmente o controle da inflação, ainda que isso acarrete custos indesejáveis de curto prazo em termos de redução do crescimento econômico", avalia Vartanian.
Conter a inflação
Os embates consideram que a taxa Selic é o principal instrumento de política monetária para conter a inflação. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam novas opções de investimento pelas famílias. Como consequência, os juros mais altos inibem o crescimento da economia.
Para os analistas do mercado financeiro, a Selic só passará a cair no segundo semestre. Eles avaliam que o primeiro corte acontecerá no dia 20 de setembro, quando a taxa cairá 0,25 ponto percentual, dos atuais 13,75% para 13,5% ao ano.
Até o fim deste ano, são esperadas outras duas quedas, e a taxa básica de juros está projetada para finalizar 2023 em 12,5%, com baixas de 0,5 ponto percentual nas reuniões do Copom de novembro e dezembro.
O economista Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, afirma que o Copom foi bastante duro em um comunicado e manteve a palavra quase de lei nas últimas reuniões do Comitê: vigilância.
"Além disso, adotou um tom forte ao afirmar que não hesita em retomar o ciclo de ajuste, caso veja como necessário, já que o preocesso de desinflação é custoso. [O presidente do BC] Roberto Campos Neto e todo o time do Copom seguem vigilantes para, além de realizar o processo desinflacionário com sucesso, ancorarem a expectativa de inflação no médio prazo", afirma Alves.
O Copom anteviu que o processo desinflacionário tende a ser mais lento. "A decisão de hoje provavelmente deixará o ânimo dos políticos à flor da pele, já que boa parte da base aliada pedia um corte de juros 'de qualquer jeito', e mais uma vez um Copom sinalizou que vai ser técnico, e que não cederá as pressões políticas", conclui o economista.
Entenda a taxa básica de juros
A taxa básica de juros é a mais baixa da economia e funciona como uma forma de piso para os demais juros cobrados no mercado. A Selic é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais.
Em linhas gerais, é a taxa Selic que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo a empresas ou consumidores em forma de empréstimos ou financiamentos. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram dos consumidores são sempre superiores à Selic.
A taxa básica também é o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam alternativas de investimento.
Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando o Copom reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.