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PIB deve cair com tragédia no RS, mas recursos do governo podem frear queda, dizem economistas

Perdas podem chegar a até 0,5 ponto percentual da economia nacional; governo estima injetar R$ 50 bilhões para ajudar a região

Economia|Clarissa Lemgruber e Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília

Economistas veem perdas de até 0,5 ponto percentual no PIB Comunicação/MPA

O PIB (Produto Interno Bruto) nacional pode cair de 0,2 a 0,5 ponto percentual por causa da tragédia no Rio Grande do Sul, segundo economistas ouvidos pelo R7. Investimentos do governo, que devem chegar a R$ 50 bilhões, devem ajudar amenizar a queda, de acordo com os especialistas. O estado representa cerca de 6,5% da economia do país e sofre com enchentes desde o fim de abril. Até o último boletim da Defesa Civil, divulgado neste sábado (11), 136 pessoas haviam morrido e 141 estavam desaparecidas devido às chuvas no estado.

Segundo José Luiz Pagnussat, mestre em economia pela UnB (Universidade de Brasília), ainda é cedo para calcular o tamanho do impacto, mas a estimativa é que o rombo possa chegar a até 0,5 ponto percentual do PIB.

“As perdas na produção com a enchente são significativas e afetam diretamente o PIB, mas há os efeitos indiretos, como a insuficiência de insumos para continuar e ampliar a produção”, afirmou.

Em valores finais, o PIB — soma de todos os bens e serviços finais produzidos no país — produziu R$ 10,9 trilhões no ano passado, acima dos R$ 9,9 trilhões de 2022. Com base nesse cálculo, os prejuízos para o país com as enchentes estariam na casa dos R$ 54,5 bilhões.


O economista Fernando de Aquino, membro da comissão de política econômica do Cofecon (Conselho Federal de Economia), também falou sobre os impactos negativos para a economia nacional. Segundo ele, estimativas preliminares apontam perdas de 0,2 a 0,3 ponto percentual do PIB.

“A gente teve perdas econômicas significativas, sobretudo na questão da infraestrutura. Tivemos a inviabilização de utilização de várias estradas, aeroportos, destruição de infraestrutura agropecuária e perda da capacidade produtiva”, exemplificou.


Recursos do governo devem amenizar queda do PIB

Os economistas avaliam que parte dessa perda vai ser compensada com a injeção de recursos anunciada nesta semana pelo governo federal para a reconstrução do estado.

“O tamanho do investimento capitaneado pelo governo federal, seja em gastos orçamentários, créditos e outras fontes de recursos, é que vai determinar o tamanho da recuperação da economia gaúcha e do PIB nacional. A reconstrução de pontes, estradas, casas, infraestrutura produtiva, entre outros, vai gerar empregos e aquecer a economia”, explicou Pagnussat.


Nessa quinta (9), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que vai enviar R$ 50,9 bilhões para a recuperação dos municípios e das famílias atingidas pelas enchentes. O pacote de ações do Executivo deve atender 3,5 milhões de pessoas, entre trabalhadores assalariados, beneficiários de programas sociais, empresas e produtores rurais.

Aquino afirma que os recursos federais, somados aos estímulos privados, devem reduzir a perda final líquida, gerando emprego e renda, tanto no Rio Grande do Sul quanto no restante do país.

“Todos esses gastos públicos e privados vão estimular muito a economia. Em parte, estimulam a economia do Rio Grande do Sul, gerando empregos na construção civil, por exemplo, mas também de outros estados, com insumos que serão vendidos para os municípios gaúchos”, explicou.

“A perda, se estiver corretamente estimada entre 0,2 e 0,3 ponto percentual, será menor do que isso no final das contas. Pelo menos parcialmente ela vai ser reduzida”, completou.

Prejuízos das enchentes

Os prejuízos no estado chegam a R$ 7,5 bilhões entre danos no setor público, privado e em moradias. A estimativa é da Confederação Nacional de Municípios, que atualiza o dado diariamente de acordo com o relato das regiões afetadas. Os dados parciais indicam um prejuízo de pelo menos R$ 811 milhões para a agricultura, R$ 63 milhões para a pecuária e R$ 151,7 milhões para a indústria.

Presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja do RS), Irineu Orth explica que, antes das chuvas, ainda faltava colher no estado em torno de 25% da área de soja, principalmente na metade sul do estado.

“No geral, faltava colher em torno de 1,5 a 1,6 milhão de hectares. Se essa região produzisse a média do estado, representaria entre 4,5 e 5,5 toneladas. Quando as chuvas deram uma trégua, a maioria dos produtores começou a colher o que estava em condições, mas a soja saiu com cerca de 18% a 20% de umidade, com grãos avariados de 20% a 55%”, explica.

Orth explica que, na prática, quem colhe 100 sacos terá um aproveitamento como soja comercial de apenas 30% a 40%. “Nós calculamos que a perspectiva de colheita no estado do Rio Grande do Sul era de 22 a 23 milhões de toneladas. Com a perda e os impactos das chuvas, não devemos atingir 20 milhões”, afirma.

O presidente da associação acrescenta que até mesmo a soja já colhida pode representar prejuízo, já que alguns armazéns também foram afetados.

“Alguns armazéns estão embaixo d’água ou com muita umidade nos grãos. Alguns silos estouraram devido à umidade que inchou os grãos, ou seja, mesmo os grãos colhidos, podem ser perdidos neste cenário”, disse.

Falta de ração para animais

No caso da avicultura, por exemplo, a Organização Avícola avalia que vai ocorrer uma redução da oferta, mas não desabastecimento. Em 2022, o Rio Grande do Sul tinha a produção de 178 milhões de cabeças de galináceos, segundo o IBGE.

Até o momento, a Organização Avícola não faz projeções dos impactos das chuvas, pois estão “focados em desobstruir as estradas e acessar as granjas com suprimentos”. “Estamos com quase 90% da produção efetiva. Ainda não temos uma estimativa de impactos em números, mas não haverá desabastecimento, apenas uma ligeira redução na oferta”, informaram.

A Associação dos Criadores Suínos também enfrentam dificuldade nas estradas para levar rações aos animais. Segundo a entidade, grande parte das fábricas de ração está concentrada no Vale do Taquari, uma das áreas mais afetadas pelas enchentes.

“Isso afeta diretamente a logística de fornecimento de alimentos e a retirada dos animais das propriedades, causando o acúmulo que afeta todo o fluxo de produção. Os frigoríficos também estão sendo afetados pela dificuldade de acesso, o que agrava ainda mais o problema. O prejuízo será expressivo”, afirma Valdecir Folador, presidente da associação.

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