Recém-empossado, Galípolo envia carta a Haddad para explicar estouro da meta de inflação
Inflação oficial fechou o ano passado em 4,83%, acima do teto da meta estipulada pelo próprio governo, de 4,5%
Economia|Do R7
Presidente do Banco Central há 10 dias, Gabriel Galípolo deve enviar nesta sexta-feira (10) uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para explicar o estouro da meta de inflação de 2024. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), a inflação oficial do país, fechou o ano passado em 4,83%, acima do teto da meta estipulada pelo próprio governo, de 4,5%.
Leia mais
A variação do acumulado de 2024 superou o limite da meta em 0,33 ponto percentual. O valor estabelecido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) era de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, podendo variar entre 1,5% e 4,5%.
É a oitava vez que a autoridade monetária falha em cumprir a meta desde o início do regime, em 1999.
No ano passado, o Banco Central ainda era comandado por Roberto Campos Neto. Mas, como o IPCA de dezembro só foi divulgado nesta sexta-feira, cabe a Galípolo assinar o texto.
No documento, o novo presidente do BC deve explicar as motivações que ocasionaram a ultrapassagem do limite estabelecido para o IPCA, as providências para garantir a convergência da inflação à meta e o prazo para que isso ocorra.
Esta é a última vez que o cumprimento do alvo de inflação foi feito de acordo com o regime original de metas, adotado no Brasil em 1999. Esse sistema considerava o IPCA acumulado no ano-calendário. Se a inflação ficasse acima ou abaixo do intervalo de tolerância, o presidente do BC deveria escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda para explicar as razões do descumprimento, as providências para garantir a convergência e o prazo para que isso acontecesse.
A partir deste ano, passa a valer um novo sistema de meta contínua, com centro de 3%, apurada com base na inflação acumulada em 12 meses. Se ela ficar acima ou abaixo do intervalo de tolerância (1,5% a 4,5%) por seis meses consecutivos, considera-se que o alvo foi perdido. Nesse caso, também caberá ao BC divulgar as razões para o descumprimento, as providências e o prazo para a convergência, também por meio de carta aberta.
Nas duas últimas vezes que o BC descumpriu a meta de inflação, a carta aberta do presidente da autarquia ao ministro da Fazenda foi publicada no mesmo dia da divulgação do IPCA de dezembro.
Campos Neto foi presidente que mais descumpriu meta de inflação
Os dados de inflação divulgados na manhã desta sexta confirmam que Campos Neto foi o presidente do BC que mais descumpriu a meta na história do regime.
Desde o início da gestão dele, em 2019, o IPCA superou a meta três vezes: em 2021, quando escalou até 10,06%, a terceira maior taxa do Plano Real; em 2022, quando ficou em 5,79%; e, agora, em 2024.
Entre os quatro predecessores de Campos Neto que trabalharam sob o regime de metas, Armínio Fraga (1999-2002) perdeu o alvo duas vezes. Henrique Meirelles (2003-2010), Alexandre Tombini (2011-2016) e Ilan Goldfajn (2016-2019), uma vez cada.