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Tarifaço: países devem exercer multilateralismo, mas diálogo é fundamental, dizem especialistas

Para eles, tensão institucional no Brasil e cenário internacional instável dificultam avanços nas negociações com os EUA

Economia|Do R7

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LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA

  • Tarifas dos EUA impactam setores-chave da economia brasileira, como café e carnes.
  • Especialistas recomendam diálogo e negociações multilaterais para resolver a situação.
  • Necessidade urgente de crédito e apoio às empresas afetadas pelo novo cenário econômico.
  • As articulações internacionais são essenciais para diversificar mercados e aumentar a competitividade.

Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

Exportações aos EUA já recuaram com tarifa de 10%, em vigor desde abril, antes mesmo do tarifaço Divulgação/Porto de Santos/Arquivo

As tarifas impostas pelo governo de Donald Trump a produtos brasileiros passaram a valer nessa quarta-feira (6), atingindo setores estratégicos da economia, como o de café, frutas e carnes. Mesmo assim, o governo federal e empresas tentam negociar o fim da cobrança ou ao menos o afrouxamento da medida.

Segundo especialistas, essa é a estratégia mais recomendada, especialmente em um momento de instabilidade global. O advogado Pedro Calmon Filho, especialista em Direito Marítimo e sócio do PCFA & Associados, afirma que o diálogo direto entre lideranças é a forma mais eficaz de buscar uma solução.


“O Brasil acertou ao instituir seu comitê negociador e colocar o vice-presidente Geraldo Alckmin à frente. Trouxe autoridades com o conhecimento técnico e o tato diplomático necessários para lidar com o tema. Apesar disso, é difícil imaginar os Estados Unidos cedendo, principalmente diante do viés político e ideológico que permeia a questão do tarifaço”, avaliou.

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Esse ponto também é mencionado por Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX e especialista em crédito. Ele destaca que a tensão institucional no Brasil e o cenário internacional instável dificultam avanços nas negociações com os EUA. E reforça que articulações multilaterais devem ser consideradas.


“O diálogo direto entre os países deve sempre ser priorizado, especialmente em momentos de tensão. Relações comerciais de longo prazo se constroem com confiança mútua e clareza nos interesses. No entanto, diante de um tarifaço com impacto imediato sobre setores estratégicos da economia brasileira, é fundamental que o país também explore articulações multilaterais, busque acordos com novos parceiros e diversifique seus canais de exportação.”

Pedro Calmon também defende o multilateralismo, especialmente diante do risco de produtos originalmente destinados aos Estados Unidos deixarem de ser exportados e precisarem ser absorvidos pelo mercado interno.


“Isso aumentaria a oferta e poderia provocar uma redução nos preços, o que, à primeira vista, beneficiaria o consumidor. No entanto, esse cenário pode ser prejudicial, já que a queda nos preços pode levar à venda abaixo do custo de produção, gerando prejuízo aos produtores e comprometendo futuras safras.”

Guto Ferreira, sócio da Brain Cenários Políticos e Econômicos, destacou que o perfil do presidente americano, com forte experiência em negociações, deve ser levado em consideração.


“Nem Lula nem a maioria dos líderes políticos brasileiros têm um perfil semelhante ao de Trump nesse aspecto. O presidente americano está claramente se aproveitando da situação criada por Eduardo Bolsonaro para extrair mais valor dessa negociação. Estamos presenciando a redefinição do futuro das relações econômicas globais. Se Trump conseguir dobrar o mundo, o protecionismo poderá se tornar o novo padrão. Se o multilateralismo prevalecer, os Estados Unidos tendem a ser substituídos pela China como modelo econômico global”, analisa.

Gustavo Assis, CEO da Asset Bank — instituição financeira de crédito e investimentos personalizados —, defende que as negociações ocorram entre lideranças com capacidade de tomada de decisão rápida.

“Além disso, articular-se em blocos econômicos, buscar apoio em organismos internacionais e construir alianças comerciais com outros mercados estratégicos pode gerar maior poder de barganha e acelerar soluções concretas”, explica.

Assis também ressalta a necessidade de múltiplas frentes de atuação diante do avanço do protecionismo norte-americano.

“O setor produtivo não pode ficar refém apenas da diplomacia tradicional. É preciso combinar estratégias para proteger nossa competitividade e garantir acesso a financiamento de forma estruturada.”

Cenário interno

Internamente, especialistas apontam a necessidade de crédito e programas de apoio às empresas afetadas como medidas urgentes. Para Richard Ionescu, o crédito bancário segue escasso, especialmente diante dos juros elevados e da maior seletividade dos bancos.

“Isso cria um desafio duplo para empresas que precisam de fôlego financeiro para enfrentar o novo cenário. Nesse contexto, ganham relevância os fundos estruturados, que oferecem soluções de crédito mais adequadas à realidade de empresas médias e grandes”, afirma.

Segundo ele, modelos com garantias reais, previsibilidade de fluxo de caixa e governança robusta devem continuar ganhando espaço.

Gustavo Assis complementa que, além da taxa de juros elevada, o câmbio volátil e a retração no comércio internacional comprometem a liquidez justamente no momento em que o governo estuda planos emergenciais para redirecionar produtos a novos mercados.

“Nesse cenário, os Fundos de Direitos Creditórios (FIDCs) ganham destaque como uma alternativa de financiamento mais ágil e personalizada. A dificuldade de acesso ao crédito pode prejudicar o setor produtivo e exportador. Por isso, os FIDCs seguem ganhando espaço, ao oferecerem estrutura sob medida, garantias reais e maior previsibilidade nos fluxos financeiros”, conclui Assis.

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