EUA: veja principais exportações do Brasil neste ano e possíveis impactos com novas taxas
Com o risco econômico, especialistas defendem diálogo e diplomacia para resolver impasse
Economia|Do R7

Um relatório da Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) revelou que o comércio entre Brasil e Estados Unidos alcançou US$ 41,7 bilhões no acumulado de janeiro a junho de 2025 — um crescimento de 7,7% em relação ao mesmo período de 2024. Segundo o documento, esse é o segundo maior valor da série histórica, mantendo os EUA como o segundo maior parceiro comercial do Brasil em bens.
O levantamento também apresentou os dez principais produtos exportados pelo Brasil. Destacaram-se os semiacabados de ferro e aço (+15,9%), o café não torrado (+38,8%) e aeronaves (veja lista completa abaixo).
Mesmo com o anúncio de aumento tarifário por parte dos EUA, o comércio bilateral seguiu em alta no primeiro semestre. Alguns setores mantiveram ou até ampliaram suas vendas, especialmente os onde o Brasil ocupa posição dominante no mercado global — como aeronaves, carne, café e sucos. Por outro lado, áreas como celulose e máquinas já apresentaram queda nas vendas. “O anúncio de aumento tarifário no segundo semestre preocupa”, conclui o relatório.
Principais produtos exportados aos EUA no 1º semestre de 2025
- Óleos brutos de petróleo — US$ 2,3 bilhões
- Produtos semiacabados de ferro ou aço — US$ 1,9 bilhão
- Café não torrado — US$ 1,1 bilhão
- Aeronaves — US$ 1,04 bilhão
- Ferro-gusa — US$ 865 milhões
- Óleos combustíveis — US$ 830,6 milhões
- Carne bovina — US$ 791,2 milhões
- Sucos de frutas — US$ 743,2 milhões
- Celulose — US$ 718 milhões
- Instalações e equipamentos de engenharia civil — US$ 592,1 milhões
- Demais produtos — US$ 8,9 bilhões
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Produtos com queda nas exportações
Entre os dez principais produtos exportados, oito registraram queda nas vendas, e todos, exceto petróleo bruto e óleos combustíveis, estão sujeitos às novas tarifas.
- Açúcares e melaços: −51,6%
- Óleos brutos de petróleo: −24,5%
- Instalações e equipamentos de engenharia civil: −23,6%
- Celulose: −14,9%
- Manufaturas de madeira: −14,0%
- Motores de pistão: −7,6%
- Óleos combustíveis: −6,6%
- Partes e acessórios de veículos: −5,6%
- Geradores elétricos giratórios: −3,6%
- Armas e munições: −1,8%
Exportações industriais
As exportações industriais brasileiras para os EUA alcançaram um recorde de US$ 16 bilhões no primeiro semestre de 2025 — alta de 8,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Com isso, os EUA se consolidaram como principal destino da indústria brasileira, à frente do Mercosul (US$ 11,5 bi), União Europeia (US$ 10,8 bi) e China (US$ 9,7 bi).
Dos dez principais produtos exportados aos EUA, oito pertencem à indústria de transformação. Apesar do crescimento, o setor industrial ainda apresenta déficit na balança comercial com os EUA: US$ 3,7 bilhões — aumento de 55,6% em relação ao primeiro semestre de 2024.
Impactos e negociações
O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, Claudio Bier, afirma que os efeitos negativos já começaram a ser sentidos.
“Temos empresas de madeira que exportam até 95% da produção para os Estados Unidos. Algumas vão fechar, outras já deram férias coletivas. Hotéis que recebiam importadores americanos estão vazios porque os compradores não vieram. O impacto já é real.”
Flávio Roscoe, presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, alerta que o cenário pode piorar caso o Brasil adote medidas retaliatórias.
“Se houver retaliação, haverá aumento de custo para tudo o que é importado dos EUA. Ou teremos que comprar de outras origens, muitas vezes em condições piores ou mais caras. E ainda há o risco de tréplica: o Brasil sobe tarifas aqui e os EUA sobem mais lá”, explicou.
Agronegócio em alerta
As tarifas de Trump também podem comprometer a receita do agronegócio brasileiro, provocar desequilíbrios de mercado e pressionar os preços pagos aos produtores. O alerta é do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
Produtos mais expostos às tarifas:
- Suco de laranja
- Café
- Carne bovina
- Frutas frescas (manga e uva)
Segundo o Cepea, o suco de laranja é o mais sensível à nova política tarifária. Hoje, já há uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada; com a sobretaxa de 50%, o custo de entrada nos EUA aumentaria significativamente, comprometendo a competitividade do produto brasileiro. Os EUA importam cerca de 90% do suco que consomem, sendo que o Brasil responde por 80% desse total.
“Essa instabilidade ocorre justamente em um momento de boa safra no estado de São Paulo e no Triângulo Mineiro. São 314,6 milhões de caixas projetadas para 2025/26, um crescimento de 36,2% frente ao ciclo anterior. Com o canal norte-americano em risco, o acúmulo de estoques e a pressão sobre os preços internos tornam-se prováveis”, afirma a pesquisadora Margarete Boteon, da Esalq/USP.
Quanto ao café, os EUA são os maiores consumidores mundiais e importam cerca de 25% da produção brasileira — especialmente da variedade arábica. Como os americanos não produzem café, um aumento no custo de importação comprometeria toda a cadeia local, desde torrefadoras até redes de varejo.
“A exclusão do café do pacote tarifário não é somente desejável, é estratégica — tanto para a sustentabilidade da cafeicultura brasileira quanto para a estabilidade da cadeia de abastecimento norte-americana”, defende o pesquisador Renato Ribeiro, do Cepea.
Carne bovina
Os EUA são o segundo maior destino da carne bovina brasileira, atrás somente da China (que responde por 49% das exportações). Empresas americanas compram 12% do total, com volumes recordes entre março e abril — acima de 40 mil toneladas/mês. Isso pode ter sido uma antecipação, diante do temor de tarifas. Os principais estados exportadores são São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Frutas frescas
A manga é a fruta mais afetada, já que a janela crítica de exportação começa em agosto. Há relatos de postergação de embarques devido à indefinição tarifária. A uva, cuja safra relevante para os EUA se inicia em setembro, também está em alerta.
Antes do tarifaço, a expectativa era de crescimento nas exportações de frutas frescas, impulsionado pela valorização cambial e aumento da produção. Agora, produtores lidam com incertezas e risco de queda de preços.
Diplomacia como saída
Diante do cenário, especialistas e autoridades defendem o caminho da negociação.
A economista Carla Beni, da FGV, destacou a tradição diplomática do Brasil. “Mesmo com a Lei da Reciprocidade, o primeiro passo é o diálogo. O segundo, acionar organismos internacionais. E só então pensar em retaliações”, disse à Record News.
Alfredo Cotait Neto, presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil, reforça: “Bater de frente com os EUA seria um desastre total.”
O professor Hugo Garbe lembra que o Brasil depende mais economicamente dos EUA do que o inverso. “Não temos estrutura para um embate direto. A diplomacia precisa ser estratégica e focar na redução das tarifas.”
Para o mestre em finanças Hulisses Dias, da Universidade de Sorbonne, qualquer sinal de insegurança pode afastar investidores estrangeiros. “É preciso evitar retaliações diretas. O ideal seria buscar medidas que pressionem setores estratégicos americanos sem prejudicar a economia brasileira.”
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