Avaliação da Educação Básica será em tablets, diz presidente do Inep
Alexandre Lopes explica qual a proposta e como será aplicado o Saeb a partir do próximo ano. Exame será usado como forma de acesso à universidade
Educação|Karla Dunder, do R7
O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira) anunciou nesta semana um novo formato para o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). Para explicar melhor como funcionará e quais os prós e contras, o R7 ouviu Alexandre Lopes, presidente do Inep e especialistas.
O Saeb é um sistema de avaliação de estudantes de escolas públicas e privadas matriculados do 2º, 5º e 9º ano do ensino fundamental e do último do ensino médio. Eles respondem a testes padronizados e questionários socioeconômicos. Na rede privada a avaliação é feita por amostras, mas é obrigatório na pública. E é realizada periodicamente pelo Inep desde os anos 1990.
A proposta desse sistema é saber como está a qualidade e a eficiência da educação no país. Uma forma de monitoramento e aprimoramento de políticas públicas para a Educação.
Nesta semana, o Inep anunciou mudanças importantes: as provas serão anuais e as notas poderão ser utilizadas para o acesso à universidade.
Alexandre Lopes, presidente do Inep, explica que a última aplicação do Saeb seria realizada neste ano, “a reformulação era necessária uma vez que fechamos um ciclo”. Neste ano, a prova será realizada da mesma maneira que nas edições anteriores, em papel.
No entanto, a partir do ano que vem, começa a ser aplicado o novo Saeb, com a avaliação de estudantes do primeiro ano do ensino médio. Ano a ano serão acrescentadas novas séries até que todos os alunos sejam avaliados.
As provas serão realizadas em formato digital a partir do 5 º ano, mas serão aplicadas em papel para os 2º, 3º e 4º anos do ensino fundamental, segundo Lopes, seguindo orientações pedagógicas.
“O Saeb avaliava o sistema educacional, mas funcionava muito mais para gestores balizarem suas decisões, agora, a proposta é que as famílias e as escolas avaliem o que de fato os estudantes estão aprendendo”, explica Lopes.
A meta, de acordo com o presidente do Inep, é que as famílias tenham resultados ano a ano e possam comparar o rendimento da escola com outras da mesma região, por exemplo. “Também funcionará para que os professores saibam em que nível os estudantes chegaram e como vão entregar, possam fazer um planejamento melhor, revisar conteúdos se necessário."
“O Saeb nasce digital e as provas serão aplicadas via tablets, forma mais rápida de realizarmos os testes.” A escolha do modelo digital se deve ao formato das questões, as provas serão adaptativas. “Conforme os estudantes respondem, o sistema busca questões de maior complexidade, o que torna o exame mais preciso, com menos questões e mais rápido.”
A escala de proficiência tem como objetivo mostrar o que de fato o estudante conseguiu compreender daquele conteúdo e como está o processo de aprendizado. “As provas adaptativas serão instituídas em um segundo momento, agora precisamos definir as regras, o sistema e formular um banco de questões.”
Questionado sobre o custo da compra dos tablets, que serão fornecidos pelo MEC (Ministério da Educação), Lopes explica que toda a discussão para a compra dos equipamentos será realizada ao longo do ano.
Sobre o Enem Seriado, o presidente do Inep destaca que é apenas mais uma forma de acesso às universidades. “Nada mais é que a nota do Saeb, os estudantes não precisarão fazer mais uma prova no fim do ano, podem, se quiserem, ingressar direto no ensino superior.” O Enem segue normalmente.
“70% dos estudantes que fazem o Enem não são concluintes do ensino médio, muitos buscam um segundo curso superior ou são universitários que querem mudar de curso”, explica.
Repercussão
Especialistas concordam que as mudanças no Saeb são positivas, mas criticam o momento escolhido para isso.
“Adequar o Saeb à nova realidade trazida pela BNCC (Base Nacional Curricular Comum) é necessário e esperado”, observa João Marcelo Borges, diretor de estratégia política do Todos pela Educação. “Mas a portaria do INEP traz mais dúvidas que certezas: sobre o escopo, os custos e a logística, para não falar do momento em que é publicada. Vinda do mesmo governo que ainda não adiou o Enem, também lança dúvidas sobre as suas reais intenções”.
Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco, “essa é uma proposta interessante, que tenta captar o progresso do estudante ao longo de todo o ciclo, é uma boa direção para pensar o sistema de avaliação e de ingresso na universidade.”
No entanto, destaca que “não parece ser o momento de fazer esse investimento porque é bastante complexo fazer essa agenda, precisamos de um banco de itens muito maior e de uma qualidade muito melhor do que o que temos hoje, eu entendo que o Inep deveria estar dedicado ao Enem de 2020", avalia. "Todos os especialistas sabem que é necessário adiar o Enem, mas não só colocar uma nova data, requer um esforço de coordenação do MEC com os sistemas públicos e privados de educação básica e com as universidades para definir uma nova janela de acesso que seja consistente e viável."
A especialista em monitoramento e avaliação da Fundação Itaú Social, Esmeralda Macana, desta que o novo Saeb "amplia a avaliação e isso é bom, antes era feito só na etapa final dos ciclos e dá oportunidade para que as redes possam acompanhar o progresso dos estudantes, mas não garante, por si só, a qualidade."
Para Esmeralda a educação só avançará se houver um plano estratégico que envolve estados e municípios, a aplicação da BNCC e, principalmente, que as desigualdades sejam reduzidas.