Brasileira recebe mesma distinção que Einstein: 'surpreendente'
Professora da Universidade de Chicago, Angela Villela Olinto tornou-se membro da Academia de Artes e Ciências
Educação|Karla Dunder, do R7
A brasileira Angela Villela Olinto tornou-se membro da Academia de e Artes e Ciências dos Estados Unidos, reconhecimento semelhante foi concedido a Albert Einstein e Nelson Mandela. A professora da Universidade de Chicago e decana da divisão de física da instituição também foi convidada a participar da Academia Nacional de Ciências.
Em entrevista ao portal R7, Angela conta como foi uma das pioneiras na pesquisa da astropartículas e a primeira mulher a dar aula no departamento de Física na Universidade de Chicago.
"Foi surpreendente ser membro das duas academias praticamente ao mesmo tempo, o reconhecimento dos colegas é sempre o mais difícil", conta Angela. "As academias têm uma grande importância porque influenciam os investimentos do Congresso, poderei dar a minha opinião e contribuir de outras maneiras além da pesquisa."
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Formada em Física pela PUC - RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Angela fez doutorado em Física pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). "Quando estudei no Brasil, no início dos anos 80, a turma era pequena, mas éramos em três alunas e uns oito homens, mas tive aulas com professoras", lembra.
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O susto veio no MIT. "Foi um choque quando cheguei nos Estados Unidos para estudar, estava em uma sala com 60 homens e mais uma estudante, que desistiu, então fui a única mulher a terminar o doutorado." Angela conta que nos anos 80 o Instituto não contava com nenhuma professora na área de física.
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Já na faculdade Angela passou a pesquisar física de partículas e, no doutorado, se interessou pela astrofísica. "Do pós-doutorado em diante, me dediquei a construir este novo campo que reúne as duas áreas de meu interesse anterior", diz uma das pioneiras do estudo das astropartículas.
Abrindo novos caminhos
"Estudamos novas formas de energia, buscamos entender melhor as partículas e como interagem em especial os neutrinos, que vêm de fontes astrofísicas distantes do sistema solar", resume. Angela também observa os buracos negros e galáxias e a energia que produzem.
O estudo dos neutrinos têm chamado a atenção da comunidade científica. Em 2015, Arthur B. McDonald, da Queen's University, do Canadá, e Takaaki Kajida, da Universidade de Tóquio, Japão, levaram o Nobel da Física por terem descoberto a massa dos neutrinos.
Com suas pesquisas, Angela foi a primeira mulher a dar aulas na divisão de ciências físicas e matemática da Universidade de Chicago. "Não é fácil lidar em um ambiente majoritariamente masculino, tem sempre aqueles que acham que você não deveria estar ali, mas sempre fiz boas parcerias e os resultados foram positivos."
Em 2018, além das aulas e pesquisa, a brasileira assumiu o posto de decana ou diretora do departamento. "A parte administrativa me possibilitou contratar mais mulheres, não quer ser a única ou a última, mas aposto na diversidade, pessoas de outros países, com visões diferentes trazem novas experiências o que é ótimo para o ambiente e para a ciência."
NASA
"Quando você se dedica à pesquisa, acaba em lugares que nem imagina" um deles foi a criação de um dos maiores laboratórios de observação de partículas energéticas contruído na Argentina, o Observatório Pierre Auger. Angela participou fornecendo o apoio teórico para as observações e pesquisa.
"Embora seja um laboratório muito grande, não suficiente para a nossa pesquisa, sugerimos ampliar para um projeto espacial, mas que ficaria muito caro em 2010", explica. Para não perder uma década em pesquisa, os cientistas contaram com o financiamento da Nasa, agência espacial dos Estados Unidos para a criação de balões com telescópios para observar os feixes de luz na atmosfera e raios de alta energia.
O projeto EUSO-SPB ("Observatório espacial do universo em um balão de superpressão", em português), foi desenvolvido com 80 pessoas de 13 países. O balão de alta pressão, tem a dimensão de um campo de futebol, o primeiro foi lançado em 2017 e no próximo ano, em 2023, o segundo ficará 100 dias no espaço enviando dados.
O telescópio para este segundo balão está em fase de produção e deve mandar 50 milhões de imagens por segundo. "A proposta é mostrar os resultados e provar que é possível fazer o projeto espacial." Essa pesquisa segue até 2030.