Meninas aprendem a valorizar a cor, o cabelo e as suas raízes
Instituto Alana/DivulgaçãoNo dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, comemorado neste sábado (25), o R7 conta a história de uma professora que se viu diante de uma situação de racismo e hoje cuida de uma escola comunitária que valoriza a cultura negra no Rio Grande do Sul.
A explosão de raiva de uma aluna em sala de aula mexeu profundamente com a professora Pérla da Silva dos Santos. Coordenadora de uma escola municipal no bairro da Restinga, em Porto Alegre, foi acionada para resolver um problema com uma aluna. A menina perdeu a paciência com as provocações rascistas que vinha sofrendo de um colega de sala.
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"Ao conversar com a menina para entender o que estava acontecendo, ela contou que o menino fazia gestos e implicava com sua cor de pele e cabelo", conta. "Quando ela me disse: 'eu tive de deixar a sala e ele ficou lá' doeu porque eu sabia o que ela estava passando."
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Grupo de dança de mães e filhas da comunidade
Instituto Alana/DivulgaçãoPara ajudar as alunas negras como ela, Pérla passou a conversar com as meninas na hora do recreio. A ideia era trabalhar a autoestima, valorizar o cabelo e a cultura afro.
"Uma chamou a outra e o grupo foi crescendo, ganhamos uma sala na escola e aos poucos os pais passaram a participar do grupo também." Além dos debates, a professora passou a desenvolver oficinas sobre turbantes — sua história e confecção— e aulas de dança afro.
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Mesmo com o engajamento da família e o crescimento das atividades do grupo, a prefeitura suspendeu as atividades extras nas escolas da rede. "Participei de uma palestra na Escola da Ponte, em Portugal, e quando voltei recebi a notícia, fiquei arrasada, adoeci, não conseguia sair da cama."
A tristeza durou até a professora receber a ligação de uma mãe dizendo: "o projeto não vai morrer, vamos continuar fora dos muros da escola", conta emocionada.
Turbantes, iorubá e tradições em uma escola
Instituto Alana/DivulgaçãoAtualmente, o " Movimento Meninas Crespas : a valorização do cabelo crespo como resgate da identidade negra " já tem sede própria e se transformou em uma escola comunitária bilíngue. "Unimos a educação formal com as tradições afro, ensinamos iorubá, criamos uma biblioteca comunitária com livros sobre cultura negra e de autores negros, além do grupo de dança."
A iniciativa foi uma das finalistas da última edição do Desafio Criativos da Escola, organizado pelo programa Criativos da Escola, do Instituto Alana. "É um movimento de valorização de iniciativas de estudantes e escolas que mudam a sua realidade", explica Gabriel Salgado, coordenador do programa.
Para o Instituto é importante reconhecer as iniciativas, contar essas histórias e premiar as ações como uma forma de incentivo. "São projetos muito potentes e inspiradores, em 5 anos já recebemos mais de 6 mil ações e este ano teremos mais novidades." As supresas serão apresentadas no próximo semestre.