‘Não serve para nada’: por que é tão difícil ensinar matemática no Brasil?
Adolescentes não entendem como usar os conteúdos e perdem o interesse na matéria; o Brasil tem nota baixa no Pisa
Educação|Pedro Marques, do R7
O resultado do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de 2022 deixou claro que o Brasil ainda tem muito o que fazer para melhorar a qualidade de sua educação.
O desempenho em matemática, leitura e ciências foi estável — algo visto como positivo pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Por outro lado, isso significa que sete de cada dez brasileiros de 15 anos não sabem resolver questões simples de matemática, como converter moedas ou comparar distâncias.
E, para reverter esse quadro, muitos obstáculos precisam ser superados, de acordo com especialistas. “O processo de ensino de matemática não deixa de refletir os problemas da educação no Brasil”, afirma Célio Tasinafo, diretor pedagógico do colégio Oficina do Estudante, da unidade Taquaral, localizada na região metropolitana de Campinas.
O maior desafio, porém, é a forma como o conteúdo é ensinado. “Há uma cultura de transmissão de conteúdos desvinculados da realidade dos estudantes”, diz Tasinafo.
Por isso, os alunos não conseguem entender a importância de aprender matemática no dia a dia, avalia o professor. “Enquanto predominar entre os adolescentes a ideia de que os conteúdos ensinados ‘não servem para nada’, não haverá qualquer estímulo para que se dediquem aos estudos”, acrescenta.
Segundo Tasinafo, existem novas metodologias de ensino que estimulam os alunos a entender como usar conhecimentos básicos de matemática no dia a dia. As técnicas de ensino, entretanto, não são aplicadas, por causa da formação deficitária dos professores.
Nesta terça-feira (5), o ministro da Educação, Camilo Santana, disse que vai acabar com as licenciaturas por EAD (educação a distância), em uma tentativa de atenuar esse problema.
Mapeamento
Outro desafio, segundo o Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), é a escassez de avaliações em larga escala sobre a aprendizagem de matemática dos estudantes. De acordo com o estudo "O Cenário do Ensino de Matemática no Brasil: O que Dizem os Indicadores Nacionais e Internacionais", essas informações são importantes para “subsidiar políticas públicas na área”.
A expectativa, segundo o Iede, é que o Brasil tenha, nos próximos anos, mais informações sobre a aprendizagem de seus estudantes da disciplina, já que, em 2022, o país aderiu ao TIMSS (Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências).
“Trata-se de uma importante avaliação internacional, que, a cada quatro anos, investiga como estudantes do 4º ano (com idade entre 9 e 10 anos) e do 8º ano (entre 13 e 14 anos) do ensino fundamental estão em ciências e matemática”, afirma o instituto.
Tal avaliação existe desde 1995 e é aplicada pela Associação Internacional para a Avaliação do Desempenho Educacional (IEA, na sigla em inglês), a mesma organização responsável pelo PIRLS (Estudo Internacional de Progresso em Leitura).
Fuvest: conheça as escritoras que compõem as primeiras listas de obras obrigatórias só com mulheres