Pais buscam apoio de professores particulares na pandemia
Profissionais da educação e famílias relatam as dificuldades de aprendizagem enfrentadas pelos estudantes com as aulas online
Educação|Alex Gonçalves, do R7*
Com as aulas remotas devido ao isolamento social causado pela pandemia de covid-19, estudantes enfrentam o desafio de continuar aprendendo. O R7 ouviu depoimentos de pais, professores e profissionais da área sobre desafios enfrentados no dia a dia e o que estão fazendo para superar as dificuldades.
Pesquisa recente da Seduc (Secretaria de Estado da Educação de São Paulo) apontou que estudantes regrediram no aprendizado de português e matemática em um ano de pandemia. Outro estudo realizado pelo Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária) em parceria com o Unicef (Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância) apontou que 5 milhões de crianças e adolescentes estão sem escola.
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Diante desse cenário, as famílias têm procurado ajuda de professores particulares.
A professora de educação infantil Isadora dos Reis Souza trabalhava em uma escola antes da pandemia, mas teve de mudar sua rotina. Sem carteira assinada, ela tem dado aulas particulares de matemática e tem auxiliado no processo de alfabetização de crianças. “Após a pandemia, eu tive de me adaptar, tenho duas horas de aula com um único aluno por dia."
Para ela, os pais buscam as aulas de reforço principalmente porque percebem que a atenção e de dedicação dos filhos durante as aulas são baixas. “As crianças ficam muito tempo sem frequentar as aulas online, muitas vezes por problemas técnicos, como a dificuldade de acesso à internet, ou por motivos pessoais.”
Renata Souza, mãe da Ana Clara de 6 anos, conta que tem receio de levar a sua filha para a escola mesmo sabendo que a instituição de ensino segue todos os protocolos de higienização contra a covid-19. “Sou mãe e ainda moro com meus pais que são do grupo de risco e eles não tomaram a 2ª dose da vacina, por isso eu tenho muito medo de levar minha filha para a escola no atual cenário da pandemia.”
A mãe de Ana Clara aponta outro problema em relação à educação da filha: a dificuldade de acesso da menina às aulas remotas. “Saio para trabalhar e ela fica com meus pais que não entendem de tecnologia, não sabem mexer no celular nem no computador e em alguns momentos ela acaba perdendo o conteúdo das aulas”, explica. “Na próxima semana, uma professora virá em casa para dar aulas de reforço para a Ana Clara.”
Na visão da pedagoga Juliana Barbosa, as famílias buscam complementação escolar "porque a aprendizagem das crianças é um processo multidisciplinar, não basta pensarmos só nas disciplinas regulares, é necessário apresentar informações sobre o meio ambiente, tecnologia e política", avalia. "Também é necessário trabalhar as emoções e autoestima das crianças, principalmente aquelas que vivem na periferia."
Fabiana Medeiros mora no Jardim São Luís, bairro localizado no extremo sul da capital paulista, uma região de alta vulnerabilidade social, está preocupada com o desenvolvimento do filho sem as aulas presenciais. “Com a pandemia, ficou tudo mais difícil dentro de casa, ele não tem como aprimorar a criatividade dele e as lições que a escola passa não desenvolvem tanto.”
Fabiana contava com o apoio da Orpas (Obras Recreativas, Profissionais, Artísticas e Sociais), instituição que desenvolve o projeto Escola de Talentos que ensina português, matemática e artes tecnológicas para as crianças de 4 a 14 anos no contraturno da escola para aprimorar o rendimento dos alunos.
No entanto, com a pandemia, as aulas presenciais da organização também foram suspensas. Daniel Farias, fundador da Orpas, explica que os “pais não se sentem confortáveis e priorizam a segurança”. No entanto, ele demonstra preocupação com o desenvolvimento das crianças nesta fase de ensino remoto na região. “Existem famílias que possuem mais de três crianças e um único aparelho celular”, explica. “Isso sem mencionar a dificuldade para acesso à internet em algumas regiões e bairros." A instituição tem oferecido atendimento assistencial como doação de cestas básicas e só deve retomar as atividades presenciais no próximo semestre.