“Dilma escuta meus conselhos” sobre política, diz médico da presidente
Em entrevista ao R7, Roberto Kalil fala dos palpites que já deu à mulher que dirige a República
Eleições 2014|Érica Saboya, do R7
Cardiologista da presidente Dilma Rousseff desde que ela era ministra-chefe da Casa Civil, Roberto Kalil Filho já se tornou mais do que o médico da petista. Ele afirma já ter estabelecido com ela certa relação de amizade que lhe permite dar palpites sobre as decisões políticas da presidente. E afirma ter certeza de que o esforço não é em vão: “Claro que ela escuta”.
Chefe do Centro de Cardiologia do hospital Sírio-Libanês e diretor do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas), Kalil atende outros nomes de destaque na política brasileira, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador José Sarney (PMDB-AP) e o ex-governador José Serra (PSDB-SP).
Kalil recebeu a reportagem do R7 no dia 1º de agosto, em São Paulo, para uma conversa exclusiva na qual falou sobre o programa Mais Médicos, sua facilidade de trânsito entre a classe política e a relação com a presidente Dilma.
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Leia abaixo a segunda parte da entrevista que Kalil concedeu ao R7:
R7 – O senhor se aproveita dessa proximidade para dar suas opiniões aos políticos?
Roberto Kalil Filho- Tento ajudar. Dou palpite sim.
R7 – Há boatos de que o senhor teria indicado nomes de ministros, como o do atual chefe da pasta de Saúde, Alexandre Padilha. O sr. confirma?
Kalil Filho - Não, eu não me meto em coisas políticas. Eu, na verdade, dou palpite em coisa técnica, sou médico. Eu não sou político, não tenho cargo político e não pretendo ter. Ponto. Sou independente. Então eu me sinto no direito, como brasileiro, se estou tomando café com a presidente da República, de criticar, sim, o que eu acho que tem que criticar e eu critico mesmo.
R7 – O senhor já falou para ela sua opinião sobre o programa Mais Médicos?
Kalil Filho - Ela conhece isso desde que ela entrou na Presidência. Várias vezes eu comentei com ela e com o ministro [Padilha] que era completamente contra a maneira com que estava sendo feito. [...] Que o Brasil talvez precise de mais médicos em regiões carentes, isso é outra história, mas a maneira que foi feito eu critiquei, pronto. Eu acho que o que faltou ao governo foi conversa. Graças a Deus, neste momento, a coisa mudou bastante, existem vários canais de comunicação.
R7 – Faltam médicos no Brasil?
Kalil Filho - Faltam. Tem regiões que não têm médicos. Mas, tem estudos mostrando que, pelo número de vagas que têm nas faculdades de medicina, a médio prazo, não faltariam médicos. Então falta temporariamente, na minha opinião [...]. Eu, particularmente, não sou contra o médico estrangeiro vir se for para suprir. Mas queremos que ele seja qualificado. É simples resolver o problema. O Revalida [prova do Ministério da Educação para validar o diploma de médicos que estudaram fora do País] é feito uma vez por ano, [então, que se] faça seis vezes por ano. O Brasil precisa de cérebros, de cientistas. Se o médico for um gênio, que ele fique no País. É bom para a nossa medicina, mas que ele entre nas regras.
R7 - A presidente Dilma escuta suas opiniões?
Kalil Filho - A presidenta da República, eu tenho admiração a ela. Porque é uma pessoa que transmite seriedade. E ela é uma pessoa dura, eu sou assim, então eu me identifico com ela. E é claro que escuta, claro que escuta. [...]
R7 - O senhor assumiu a direção do Incor em meio a uma crise administrativa. Como está a situação agora?
Kalil Filho - Peguei o Incor numa situação de crise, o Incor é uma das maiores instituições de cardiologia do mundo. Nós estamos conseguindo, com a ajuda dos governos federais, estaduais e agora municipal, melhorar as chamadas filas. Fizemos várias inovações e esse último ano e meio foi muito proveitoso.
R7 - A relação que o senhor tem com os políticos ajudou na sua nomeação para o cargo?
Kalil Filho - Na minha escolha não, foi concurso público técnico concorridíssimo. O que ajuda é minha proximidade para resmungar. Dentro do direito, dentro da lei, consegui verbas para uma instituição como o Incor que atende milhares e milhares de pessoas carentes por dia. Isso ajuda. Não vou falar que não ajuda, claro que ajuda.
R7 - O senhor se considera um espiritualista. É possível conciliar fé e ciência?
Kalil Filho - Eu sou católico e tive a bênção de estar com o papa na sexta-feira passada [Kalil mostra no celular a foto que tirou do pontífice e garante que o encontro não teve relação com a presidente Dilma], mas me considero espiritualista, sim. Eu acredito em destino, mas claro que a gente tem que fazer o que pode. Que tem destino tem, alguém rege isso aí.