7 pontos-chave para entender os ataques da Turquia no norte da Síria
Entenda por que os turcos atacaram os curdos na região, os interesses internacionais e outras questões desse novo capítulo da guerra na Síria
Internacional|Fábio Fleury, do R7
Nesta quarta-feira (9), a Turquia iniciou uma pesada ofensiva por bombardeios e invasão terrestre contra posições dominadas por milícias curdas no norte da Síria. Os ataques aconteceram após os EUA se retirarem da região e são mais um capítulo na longa guerra civil que já dura mais de 8 anos.
Abaixo, listamos sete pontos importantes para entender o ataque turco e como ele se insere no contexto da guerra na Síria.
Por que a Turquia está atacando os curdos no norte da Síria?
A Turquia iniciou ataques aéreos e terrestres contra milícias curdas no norte da Síria porque deseja diminuir a influência das milícias curdo-sírias Unidades de Proteção do Povo (YPG), que dominam a região até a semana passada eram apoiadas pelos Estados Unidos.
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Oficialmente, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan afirma que deseja libertar a região de "influências terroristas" e criar o que ele chama de "corredor de paz", uma faixa de 32 km de largura e 480 km de comprimento ao longo da fronteira síria, do rio Eufrates até o Iraque.
A ideia de Erdogan é controlar esse território para realocar cerca de 2 milhões de refugiados sírios que entraram em seu país durante os 8 anos da guerra civil na Síria. Além de sufocar movimentos nacionalistas curdos, já que as YPG são aliadas do PKK, o Partido Trabalhista do Curdistão, considerado terrorista pela Turquia.
Quem são os curdos e o que é o Curdistão?
Os curdos, cerca de 30 milhões de pessoas, são muçulmanos de origem sunita, considerados a maior nação sem um Estado no mundo. A terra natal deles, o Curdistão, é uma região de cerca de 500 mil km², dividida entre quatro países: Irã, Iraque, Síria e Turquia.
Há quase 100 anos, alguns grupos curdos lutam para fazer do Curdistão uma nação independente. O território foi dividido entre esses países por tratados na década de 1920, após o fim do Império Otomano e a formação da Turquia.
A porção iraquiana do Curdistão se tornou autônoma do governo central do Iraque na década de 1970 e consolidou sua autonomia após o fim da Guerra do Golfo, em 1991.
Por que a saída dos EUA foi tão crucial?
Os EUA eram aliados das YPG porque estas ajudaram imensamente no combate ao Daesh no norte da Síria. Com ajuda especialmente logística dos norte-americanos, que forneciam armamentos e apoio aéreo, as milícias ajudaram a praticamente acabar com a influência dos jihadistas na região.
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Com o anúncio do presidente norte-americano Donald Trump no último fim de semana, de que iria retirar a presença militar na região, os curdos ficaram expostos ao ataque turco, que era iminente.
Em poucos dias, Erdogan iniciou os bombardeios e, em seguida, uma invasão por terra na região, com o objetivo de destruir as posições das YPG.
Quais são os riscos dessa saída para a paz na região?
Além de trazer a guerra para uma região que estava relativamente controlada, a ofensiva turca pode ter um efeito colateral: o retorno do Daesh como uma força militar e, portanto, uma ameaça.
Sem o apoio logístico norte-americano, os curdos afirmaram que não teriam mais como manter campos de prisioneiros capturados do Daesh. Cerca de 15 mil homens que estão nesses locais podem ser libertados nos próximos dias, reforçando ainda mais o portencial problema jihadista.
Qual a situação nas demais regiões da Síria?
Atualmente, a maior parte dos conflitos na Síria acontece no norte do país, na disputa entre turcos e curdos. O restante do território sírio está quase totalmente sob o domínio de forças leais ao presidente do país, Bashir al-Assad.
Que outros países estão envolvidos no conflito?
A guerra na Síria é um dos conflitos mais complexos da história recente. Diversas nações apoiam algumas das facções envolvidas. Assad tem, formalmente, o apoio do Irã e da Rússia. O presidente russo, Vladimir Putin, se mostrou favorável à invasão turca, promovida por Erdogan, que também é seu aliado.
O governo iraniano, por sua vez, se mostrou desconfortável com a ofensiva da Turquia e pediu que o país respeite a soberania territorial da Síria caso saia vitorioso.
Nos EUA, Trump defendeu sua decisão de retirar os militares da Síria, mas foi criticado tanto pelo partido Democrata quanto por alguns membros de seu próprio partido, o Republicano. Para muitos, a decisão expõe o país como um aliado "pouco confiável" no cenário mundial.
Quais os efeitos desta guerra tão longa para a Síria?
O que começou como protestos e uma rebelião civil em março de 2011, como parte da chamada "Primavera Árabe", se transformou em um conflito sangrento e que já matou mais de 500 mil pessoas nos últimos 8 anos e forçou o deslocamento de mais de 12 milhões, segundo a Acnur, a agência da ONU para refugiados.
De acordo com os relatórios da agência, mais de 5 milhões de sírios precisaram deixar o país por causa da guerra e outros 6,5 milhões fugiram para outras regiões dentro da própria Síria.
Além dos deslocamentos, a guerra na Síria destruiu cidades inteiras, patrimônios históricos, ampliou a influência do Daesh no Oriente Médio, destruiu boa parte da infraestrutura do país e comprometeu a infância de milhões de crianças.