Acirramento de crise na Venezuela obriga reunião do Grupo de Lima
Com a presença de Juan Guaidó e do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, 14 países terão reunião em Bogotá, na Colômbia, nesta segunda-feira (25)
Internacional|Giovanna Orlando, do R7
O Grupo de Lima se reune nesta segunda-feira (25), em Bogotá, capital da Colômbia, para discutir a crise política e humanitária na Venezuelae o aumento da violência, desde os confrontos de sábado relacionados à tentativa da oposição do governo Nicolás Maduro furar o bloqueio das forças venezuelanas e fazer entrar caminhões de ajuda humanitária nos país.
Entre os convidados, líderes de 13 nações, como Argentina, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Chile, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Brasil e Peru. Um convidado ilustre, porém, despertou a curiosidade para a reunião: o líder da oposição e autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó.
Na Colômbia desde a sexta-feira (22), quando atravessou a fronteira de helicóptero para buscar a ajuda humanitária retida no país vizinho, Guaidó já se reuniu com o presidente da Colômbia, Ivan Duque, e com o presidente chileno, Sebastian Pinera, quando posaram e discursaram juntos na frente das toneladas de mantimentos e medicamentos bloqueados na Colômbia e proibidos de entrar na Venezuela pelo presidente chavista Nicolás Maduro.
A reunião vai discutir a crise humanitária na Venezuela, que foi acentuada no sábado (23), depois da recusa violenta em deixar a ajuda humanitária entrar pelas fronteiras com o Brasil e Colômbia. Apesar da reunião contar com boa parte dos países da América Latina e Canadá, o grupo não tem poder político, como explica Paulo Velasco, professor de política internacional da UERJ.
Reunião do Grupo de Lima aumenta pressão sobre Maduro
Para o especialista, a reunião não vai trazer declarações muito diferentes das já dadas pelo grupo anteriormente, que considera o governo de Nicolás Maduro ilegítimo e reconhece Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela (exceto México, que apoia Nicolás Maduro, e Uruguai, que adota uma posição mais cautelosa sobre a situação da presidência do país).
“Na reunião, o Guaidó tem legitimidade porque ele é reconhecido como presidente da Venezuela por 11 dos 13 países presentes e mais de 50 países já o reconheceram. Eles estão dialogando diretamente com quem eles concordam ser o presidente”, conta.
Porém, a discussão do grupo gera maior pressão para Nicolás Maduro, que se mantém irredutível quanto a dialogar com a oposição e organizar novas eleições. “Eu não vejo a figura do Maduro se curvando ao grupo de Lima. Ele tem apoio dos militares, da Rússia e da China. Mas isso, sem dúvidas, gera uma pressão, já que o grupo tem visibilidade”, esclarece.
Mike Pence participa de reunião
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Além de Guaidó, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, também é uma presença importante.
Donald Trump desaprova publicamente a liderança de Maduro, e foi o primeiro presidente a reconhecer Juan Guaidó como presidente, minutos depois da autoproclamação.
Para Velasco, a presença norte-americana confirma a posição do país como opositor e dá maior respaldo para o grupo.
"Os Estados Unidos têm uma postura à margem das questões latino-americanas, mas nas questões da Venezuela eles são bem ativos. A ida do Pence reforça a vontade de pressionar o Maduro e exigir a sua saída. Mas também dá mais combustível as críticas do Maduro, que chama todos os países opositores de ‘fantoches dos Estados Unidos’ e ‘marionetes do Trump’, e ele pode usar isso como argumento para deslegitimar a reunião."
Intervenção militar não está sobre a mesa
Uma das questões descartadas, porém, é uma intervenção militar direta na reunião. Apesar de ser atentada o tempo todo, o especialista acredita que essa é a hipótese mais remota.
"A ideia é intimidar o Maduro, mas ninguém está realmente disposto a pagar o preço mais alto por esse tipo de intervenção. Nenhum país quer entrar em um confronto militar contra a Venezuela", esclarece.
O cenário só poderá ser cogitado caso o quadro político se complique muito. “Se tiver repressões muito violentas ou uma situação de guerra civil velada, o que não é o caso. O que temos é uma crise humanitária seríssima, mas Maduro não vai se arriscar a dar um passo em falso e perder o apoio dos aliados”, finaliza.