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Ameaça nuclear: Os riscos que corremos sem acordo EUA-Rússia

Com saída de Tratado sobre Mísseis Nucleares de Média Distância, o Pentágono informou iniciará logo testes de armamentos para desafiar Rússia

Internacional|Cristina Charão, do R7

Já são mais de 70 anos desde Hiroshima, mas a ameaça nuclear segue
Já são mais de 70 anos desde Hiroshima, mas a ameaça nuclear segue

Quando, em 1987, os EUA e a Rússia anunciaram a assinatura de um acordo de controle de armas nucleares, o mundo respirou aliviado. A Guerra Fria parecia terminar junto com o permanente temor de um confronto entre as duas potências.

Mas desde sexta-feira (2), com o anúncio de que os norte-americanos abandonaram o tratado, soa um alarme global: o planeta está de novo sob a ameaça nuclear?

“Sim”, diz Cristian Wittmann, professor de Direito Internacional da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e membro da Campanha Internacional pela Abolição de Armas Nucleares (ICAN, sigla em inglês). “A saída dos EUA e a falta de qualquer ação por parte da Rússia para a manutenção do acordo nos levam a crer que haverá uma nova corrida armamentista com foco, principalmente, no arsenal nuclear.”

Esta previsão parece ser, inclusive, para o curtíssimo prazo. Logo após anunciar que estava abandonando, unilateralmente, o Tratado sobre Mísseis Nucleares de Média Distância, o Pentágono informou que os EUA iniciarão nas próximas semanas os testes de armamentos desenhados especificamente para desafiar a Rússia.


Em outras palavras: mísseis terra-ar de média e longa distância capazes de carregar ogivas nucleares, exatamente o mesmo tipo de equipamento proibido até agora pelo acordo.

Conhecido pela sigla em inglês INF, o tratado previa que nem os norte-americanos, nem os russos poderiam manter na Europa mísseis de lançamento terrestre, com alcance de 500 km a 5.000 km.


Arsenal mundial

Segundo a Ican, hoje nove países são responsáveis por um arsenal de mais de 14 mil ogivas nucleares.


Juntos, EUA e Rússia possuem cerca de 12.700 bombas atômicas. Destas, 1.800 estão sempre em estado de alerta, ou seja, prontas para serem usadas.

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“A simples existência destas armas implica o risco de uma detonação atômica e um risco para a nossa existência”, alerta Wittmann.

O encerramento do tratado entre Rússia e EUA amplia estes riscos porque acaba incentivando outros países com arsenais nucleares a retomarem ou acelerarem seus programas, numa verdade corrida armamentista.

“Com este movimento, russos e norte-americanos reforçam o argumento de que armas nucleares são boas para a segurança nacional, o que estimula outros atores a produzir mais delas”, comenta o especialista.

Sem surpresas, apenas medo

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O rompimento do acordo pelos EUA não pode ser considerado uma surpresa. Desde que assumiu a Casa Branca, Donald Trump ameaçava o mundo com esta possibilidade.

Tecnicamente, o INF impedia que houvesse qualquer ataque nuclear no continente europeu e na Ásia sem a possibilidade de aviso prévio. Além disso, funcionava também como um freio dos programas nucleares das duas maiores potências militares do mundo.

Porém, nos últimos anos, os países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), acusavam a Rússia de estar desenvolvendo armas deste tipo. Vladimir Putin negou esta possibilidade até 2017, quando anunciou ter produzido o 9M729, um míssil com alcance de 500 km.

“O uso de armas nucleares já completou 70 anos”, diz Wittmann, lembrando que o aniversário da Bomba de Hiroshima acontece nos próximos dias. “Já passamos da idade da 'aposentadoria compulsória' destas armas, mas elas ainda estão aí e ainda são uma ameaça permanente.”

Alternativas de controle

'Não existem mãos seguras', diz especialista
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Sem o INF, a única ferramenta internacional disponível para conter a ameaça de ataques com bombas atômicas é o Tratado para a Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).

“O problema é que o TNP gerou a sensação de que existem países bons e países ruins para terem armas nucleares”, comenta Cristian Wittmann. “Só que não existem mãos seguras para estas armas.”

Esta lógica faz com que disputas pela desnuclearização sempre apontem tanto para a manutenção do arsenal das grandes potências, quanto o acirramento das relações com países como o Irã ou a Coreia do Norte.

É por esta razão que o mundo comemorou a assinatura do Tratado pela Abolição de Armas Nucleares, em 2017 — conquista que rendeu à Ican o Nobel da Paz daquele ano.

Porém, a entrada em vigor deste acordo depende da sua ratificação em pelo menos 50 países. Wittmann diz que a expectativa é que isto aconteça até o fim do ano. Apesar do cenário ser, neste momento, muito preocupante.

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