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Ameaças de Kim Jong-un chegam ao limite após quase 6 anos no poder

Para especialistas, qualquer erro agora pode levar a conflitos armados

Internacional|Do R7*

Em 2017, Kim Jong-un realizou 12 testes de mísseis
Em 2017, Kim Jong-un realizou 12 testes de mísseis

Prestes a completar seis anos como líder da Coreia do Norte, o ditador Kim Jong-un tem uma coleção de discursos agressivos e vive ameaçando países vizinhos sobre o potencial de seus armamentos. De acordo com especialistas ouvidos pelo R7, no entanto, essas declarações explosivas estão chegando a um limite e agora qualquer erro de interpretação pode fazer com que países como Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos decidam aplicar retaliações drásticas contra o governo norte-coreano.

Para o coordenador do curso de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, Alexandre Uehara, as ameaças de bombardeios com armas nucleares atingiram uma espécie de prazo de validade e os conflitos podem chegar à militarização.

— A capacidade da Coreia do Norte de atacar os Estados Unidos ainda é questionável. A gente sabe que existe o potencial com base nos testes que foram feitos, tanto de ogivas nucleares quanto dos foguetes, só que nós não temos ainda a convicção de que essas ogivas seriam de um tamanho que possa ser comportado por um foguete.

Conforme explica Peterson Silva, especialista em Segurança Nacional e Internacional, conflitos, guerras e terrorismo pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP), a principal dúvida que se tem é se o risco de as armas norte-coreanas caírem nas mãos erradas justifica uma intervenção militar na região.


— Não precisa ser especificamente uma bomba nuclear. Hoje em dia, uma das maiores preocupações dos serviços de inteligência é de alguém combinar um elemento radioativo com um explosivo convencional ou uma dinamite, utilizar essa somatória de componente radiológico com explosivo e detonar essa bomba em cidades como Barcelona ou Londres. Isso não teria a envergadura de uma explosão nuclear, mas causaria um impacto maior na sociedade no sentido de causar pânico. Seria muito mais desastroso.

Na última segunda-feira (28), a Coreia do Norte disparou um míssil que voou sobre o Japão e aterrissou em águas do Pacífico, na costa da região de Hokkaido, localizado no norte do pais. Autoridades japonesas reprovaram o novo teste e, em resposta, o presidente americano Donald Trump, elevou o tom do discurso e afirmou que Washington poderia responder com "fogo e fúria".


Mas segundo o professor Silva, a verdade é que não interessa para ninguém, inclusive em termos de economia mundial, que haja uma instabilidade grave na Ásia.

— A Coreia do Norte está em uma região muito populosa, a China está ali também, com 1 bilhão de habitantes. Os grandes centros nervosos do comércio asiático estão ali ao redor. Para o comércio internacional, principalmente na região asiática, tudo depende da estabilidade das relações, da estabilidade do porto de Xangai, dos portos de escoamento de petróleo. Muito mais do que uma rota, ela é uma região de importância econômica para o mundo. As economias ali da região perderão muito se houvesse realmente uma grande instabilidade da Coreia do Norte.


Até para os Estados Unidos, que é um dos adversários do regime de Kim Jong-un, as relações diplomáticas se tornariam mais complexas, sobretudo economicamente, diz o coordenador do curso de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco.

Para o setor de produção de armas, a elevação da tensão poderia até ser útil, mas para os demais, Uehara explica que seria negativo, já que ele perderia uma opção de para exportação de produtos.

— O interesse americano de um setor pode ser de ter esse conflito, mas uma guerra entre esses atores, com o impacto de estabilidade, seria muito mais prejudicial para a economia americana do que os benefícios eventuais da venda de armamentos. Porque você teria ali pelo menos o conflito entre três potências mundiais em instabilidade, provocando até a interrupção de fluxos comerciais.

Pressão interna

Além dos fatores externos, a situação da população norte-coreana também é um agravante da crise que envolve a população do país.

Depois dos últimos ataques de Pyongyang, a Coreia do Norte foi alvo de várias sanções comerciais e o principal impacto disso é a falta de produtos importados.

Por isso, de acordo com Peterson Silva, é preciso olhar de perto como o discurso de ameaça de Kim-Jong Un pode fazer com que o povo se torne mais unido. O objetivo não é, necessariamente, entrar em guerra, mas mostrar ao povo que o país segue forte.

— É um discurso que mobiliza as massas em locais que as pessoas não estejam totalmente alinhadas com o núcleo central do poder. Então esse discurso também tem uma audiência interna de mobilizar toda sua sociedade para uma ameaça externa. Nada mobiliza mais as massas do que o perigo iminente de uma guerra. Esse discurso de estar preparado para enfrentar os inimigos ajuda a manter a população lado do governo em função das consequências das sanções econômicas e da falta de perspectiva e qualidade de vida.

*Caíque Alencar, do R7

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