Logo R7.com
Logo do PlayPlus

Após 98 dias detida pela imigração, brasileira relata 'rotina de presídio'

Lucimar de Souza, libertada na última terça (9) após um juiz considerar sua prisão pela imigração norte-americana 'ilegal', falou com exclusividade ao R7

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Lucimar de Souza passou 98 dias detida pela imigração norte-americana
Lucimar de Souza passou 98 dias detida pela imigração norte-americana

Uma "rotina de presídio". É com essas palavras que a brasileira Lucimar de Souza, 49, define os 98 dias que passou detida por autoridades da imigração nos EUA, até ser libertada na última terça-feira (9), depois que um juiz federal definiu que sua prisão foi realizada de maneira ilegal.

Mineira de Governador Valadares, Lucimar vive em Everett, no estado de Massachusetts, na região metropolitana de Boston, há 16 anos. É casada com um cidadão norte-americano e tem um filho de 10 anos, Anthony, que também tem cidadania americana. Ela conversou com exclusividade com o R7 e contou sobre o que viveu desde o dia 30 de janeiro, quando foi presa.

A prisão

Naquele dia, Lucimar e sua advogada foram ao escritório da USCIS (sigla em inglês para Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA), agência que cuida dos pedidos de cidadania dentro do território norte-americano. Na entrevista, elas foram informadas que o órgão considerava o casamento dela um motivo válido para solicitar a residência permanente.


Assim que saiu da sala, Lucimar foi cercada por cinco agentes da ICE (sigla para Agência de Imigração e Alfândega), que faz a investigação e detenção sobre imigrantes ilegais e os encaminha à deportação.

— Eles falaram meu nome e que tinham de me levar até Burlington (cidade onde fica a sede regional da ICE em Massachusetts). Disseram para a minha advogada que era só para preencher uma documentação. Quando chegamos lá, me falaram que eu poderia ligar para a advogada, que ficaria detida lá e me prenderam. Aquilo é um presídio, não tem outro nome, eu vivia uma rotina de presídio.,


Segundo ela, a tal rotina incluia banhos de sol controlados e uma longa permanência na cela.

A vida na cela


Lucimar passou 98 dias em uma unidade feminina do centro de detenção da ICE em Burlington. Segundo ela, havia oito brasileiras na mesma situação, assim como dezenas de imigrantes de outras nacionalidades. Um retrato do endurecimento das leis imigratórias dos EUA na administração de Donald Trump.

— Nunca pensei que iria viver uma situação assim. Foi muito dramático, não tinha noção de como era uma rotina dessas. Tinha direito a três visitas por semana. Toda sexta-feira, meu filho fazia questão de ir lá me ver, mas era muito doloroso.

Na detenção, Lucimar passou a ser representada pela ACLU (sigla para União Americana pelas Liberdades Civis), ONG que defende os direitos civis nos EUA e que tem atuado a favor dos imigrantes, detidos em número cada vez maior no país.

'Prisão ilegal'

Na última terça-feira (9), em uma audiência em Boston, o juiz federal Mark Wolf ordenou a libertação de Lucimar, entendendo que a ICE fez uma detenção ilegal no caso dela e de outros quatro imigrantes que foram detidos enquanto tentavam encaminhar seus processos de pedido de residência por terem cônjuges que são cidadãos dos EUA.

Segundo Wolf, as pessoas foram detidas antes que o prazo legal para que apresentassem a documentação adequada fosse cumprido. Além disso, por terem residência fixa, emprego e laços familiares estabelecidos, não representariam risco de fuga das autoridades de imigração, como alegava a ICE.

— Fiquei emocionada porque o juiz viu que eu estava tentando fazer as coisas corretamente. Quero muito continuar aqui, minha vida é aqui. Seria muito difícil ficar longe do meu filho, do meu marido, e ainda mais difícil se eles tivessem que se mudar para o Brasil por minha causa. Quero ficar e ser cidadã americana.

Ao chegar em casa, na noite de terça, Lucimar recebeu um abraço emocionado do filho Anthony.

— Achei que ele ficaria só feliz, mas ele chorou demais, foi um desabafo dele, esse período foi muito difícil. Sonhei todos aqueles dias com esse momento.

A audiência que irá definir se Lucimar será aprovada para a cidadania norte-americana deve acontecer em junho.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.