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Bento XVI pede perdão por abusos e erros cometidos pelo clero

Declaração foi feita após divulgação de um relatório sobre casos de pedofilia envolvendo membros da Igreja Católica na Alemanha

Internacional|Do R7, com informações da Agência EFE

Papa emérito Bento XVI pediu perdão pelos abusos e erros cometidos pela Igreja Católica
Papa emérito Bento XVI pediu perdão pelos abusos e erros cometidos pela Igreja Católica

O papa emérito Bento XVI pediu perdão nesta terça-feira (8) e afirmou sentir dor pelos abusos e erros ocorridos durante o tempo em que exerceu diferentes funções na Igreja Católica.

A declaração foi feita através de uma carta, publicada depois da divulgação de um relatório sobre os abusos sexuais cometidos contra menores de idade na Alemanha, em que é afirmado que Bento XVI soube de quatro casos de pedófilos na igreja, quando era arcebispo de Munique.

"Uma vez mais, apenas posso expressar a todas as vítimas de abusos sexuais minha profunda vergonha, minha grande dor e meus sinceros pedidos de perdão. Tenho uma grande responsabilidade na Igreja Católica", disse o papa emérito.

Joseph Ratzinger, de 94 anos, aponta na carta que a dor que sente é maior pelos abusos e erros que "ocorreram durante o tempo de meu mandato, nos respectivos locais", e garante que é necessário, por parte do clero, "o momento da confissão".


Além disso, Bento XVI pede que "peçamos publicamente ao Deus vivo que perdoe nossas culpas, nossas grandes e grandíssimas culpas".

"Em todos os meus encontros, especialmente durante minhas numerosas viagens apostólicas com vítimas de abusos sexuais cometidos por sacerdotes, olhei nos olhos as consequências de uma culpa muito grande e aprendi a compreender que nós mesmos somos arrastados por essa grande culpa, quando nos descuidamos ou quando não enfrentamos com a necessária decisão e responsabilidade, como aconteceu e acontece com grande frequência", afirmou.


Apesar do pedido de perdão, Bento XVI negou, em um documento publicado também nesta terça-feira por colaboradores, qualquer acusação e saber dos fatos que foram narrados no relatório divulgado na Alemanha.

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Na carta, Ratzinger começa defendendo o "gigantesco" trabalho na redação do documento de resposta à investigação que foi entregue e garante que aconteceu "um descuido" a participação em reunião da arquidiocese de Munique e Freising, em 15 de janeiro de 1980.


Na ocasião, seguindo a apuração feita, foi decidido pela transferência de um sacerdote acusado de abusar sexualmente de menores, identificado como Peter H., que depois voltou a realizar os mesmos crimes quando estava em Munique, o que motivou um novo deslocamento de sede.

Inicialmente, o papa emérito chegou a dizer que não tinha participado da reunião, mas depois se retratou da declaração e disse ter se tratado de um erro.

"Esse erro, que lamentavelmente, aconteceu, não foi intencional. Espero que seja perdoado", escreveu Bento XVI, acrescentando que se surpreendeu "profundamente" que o que classificou como descuido tenha gerado dúvidas sobre a verdade e feito com que fosse chamado de mentiroso.

"Logo, enfrentarei o juiz definitivo a minha vida. Embora, olhando para trás em minha longa vida, tenha muitos motivos de temor e medo, tenho um espírito alegre, porque confio, firmemente, que o Senhor seja, não só um juiz justo, mas também amigo e irmão, que que já tenha sofrido ele mesmo das minhas fraquezas", concluiu.

Investigações por toda Europa

Grandes investigações de casos de abuso sexual na Igreja Católica estão acontecendo em diversos países da Europa, como Alemanha, Bélgica, Espanha, França e Portugal. O relatório Suavé estima que, pelo menos, 330 mil jovens tenham sofrido abusos por parte de religiosos e pessoas ligadas à entidade desde 1950.

A Igreja Católica francesa teve de arrecadar 20 milhões de euros (cerca de R$ 123 milhões) para indenizar famílias de milhares de menores de idade abusados por padres e outros membros da entidade no país. Segundo a agência AFP, a igreja precisará vender bens próprios para poder arcar com estes custos.

Na Espanha, as famílias continuam na luta para que a Igreja Católica do país realize uma investigação mais profunda e encontre os responsáveis pelos casos subnotificados de abuso na entidade. 

Juan Cautrecosas, presidente da Associação para a Infância Roubada (Anir, na sigla em espanhol) destaca que a Igreja da Espanha reporta apenas 220 casos de abuso em investigação, embora este número seja infinitamente menor do que a realidade.

O mestre em direito internacional Acácio Miranda explica que a Igreja Católica poderia ser condenada tanto pela omissão quanto pelo abuso em si. Segundo o especialista, a sistemática seria a mesma para a Europa.

“No Brasil, a Igreja Católica pode ser condenada em dois aspectos: ela pode ser condenada em virtude do fato de ter ciência do cometimento destas condutas e ter se omitido em relação a isso, assim como também pode ser condenada a indenizar as vítimas por conta das agressões em si.”

De acordo com Miranda, é preciso entender a dinâmica da entidade para saber quais dirigentes seriam punidos, como neste caso da Igreja Católica alemã envolvendo Bento XVI.

"É necessário que se comprove antes de qualquer coisa uma eventual omissão, que tais circunstâncias aconteceram e, que mesmo havendo uma robustez de provas, uma robustez de fatos, eles se omitiram na condução destes atos investigatórios. Neste contexto, eles podem responsabilizados como pessoa jurídica e como pessoa física também."

A jurista Vera Chemim acrescenta que o Papa Francisco criminalizou o abuso sexual dentro das leis da Igreja Católica em 2021. Entretanto, pela idade avançada de Bento XVI, dificilmente alguma medida legal seria cumprida contra ele.

“Tenho a impressão que pela idade avançada de Bento XVI, além do tempo que decorreu [desde as reuniões na Alemanha], que o máximo que se pode exigir dele é uma análise do relatório por parte do Vaticano. [...] Não acredito que o Vaticano possa eventualmente processá-lo", conclui Chemim.

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