Bento 16 confessa participação em reunião sobre padre pedófilo
Papa emérito voltou atrás e admitiu estar em encontro para discutir casos de abuso envolvendo religioso alemão em 1980
Internacional|Do R7
O papa emérito Bento 16 admitiu nesta segunda-feira (24) que participou de uma reunião fundamental em 1980 sobre um padre alemão acusado de abuso infantil, ao contrário do que disse aos autores de um relatório na Alemanha que o acusa de encobrir vários sacerdotes.
Em carta assinada por seu secretário particular, monsenhor Georg Gänswein, divulgada nesta segunda-feira pela agência católica alemã KNA e pelo portal de imprensa do Vaticano, Vatican News, Bento 16 "quer esclarecer que, ao contrário do que foi dito aos autores do relatório, participou da reunião de 15 de janeiro de 1980".
As declarações dadas aos autores do relatório, publicado em 20 de janeiro e preparado pelo escritório de advocacia WSW (Westpfahl Spilker Wastl), estavam "factualmente incorretas", diz Gänswein.
Bento 16 enfatiza que não foi por "má-fé" e que foi um "erro", o "resultado de uma omissão na edição de suas declarações". O papa emérito, de 94 anos, pede "perdão por esse erro".
Pelo menos 497 pessoas sofreram abusos na arquidiocese de Munique-Freising, em um período de quase 74 anos (de 1945 a 2019), segundo um resumo do relatório. A maioria das vítimas era do sexo masculino e 60% delas tinham entre 8 e 14 anos.
De acordo com o documento, o papa emérito não fez nada para impedir que vários padres abusassem sexualmente de menores na arquidiocese alemã que liderou nos anos 1980. Os advogados consideram que Bento 16, que foi arcebispo de Munique e Freising entre 1977 e 1982, não agiu contra quatro clérigos suspeitos.
Dois desses casos envolvem religiosos que cometeram vários abusos comprovados pelos tribunais, mas foram autorizados a continuar seus deveres pastorais, de acordo com o relatório.
Os autores do relatório disseram estar "convencidos" de que Joseph Ratzinger, nome de batismo do papa emérito, estava ciente do passado pedófilo do padre Peter Hullermann.
O padre foi acusado em 1980 de abuso sexual grave de menores, mas as autoridades eclesiásticas o transferiram para a Baviera, onde, apesar da terapia psiquiátrica, continuou com os abusos. Em 2010, ele foi finalmente forçado a se aposentar.
"Não foi tomada nenhuma decisão sobre a atribuição de uma missão pastoral ao sacerdote em questão", destacou Bento 16. "Apenas o pedido de acomodação durante sua terapia em Munique foi aceito", disse ele.
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O papa emérito, que reside no Vaticano desde sua renúncia em 2013 e que está com problemas de saúde, não reagiu diretamente ao conteúdo do relatório.
Por meio de seu secretário particular, ele expressou "choque e vergonha" pela pedofilia na igreja após o relatório e garantiu que "ainda não havia lido o relatório de mil páginas" que o envolve.
O Vaticano reiterou sua "vergonha" e "remorso" pelo abuso sexual de crianças na Igreja, após a publicação do relatório.