Bolívia: Sobe número de mortos pela polícia nesta terça (19)
Defensoria confirmou 3 mortos em ação policial em distribuidora de combustíveis em distrito de El Alto; vídeos na internet falam em até 9 vítimas
Internacional|Cristina Charão, do R7, com EFE
O número de mortos durante a repressão policial aos protestos na Bolívia voltou a subir nesta terça-feira (19). De acordo com a Defensoria do Povo do país, ao menos três pessoas morreram durante uma ação da polícia para liberar o acesso a uma refinaria de gasolina e gás em Senkata, distrito de El Alto. Vídeos que circulam na internet mostram mais corpos e denunciam até nove vítimas fatais, todas por munição letal disparada pelos policiais.
O confronto aconteceu durante uma operação das forças de segurança para facilitar a saída de caminhões tanque para abastecer de combustível a capital, La Paz, em meio à crise política no país que culminou na renúncia do presidente Evo Morales.
Desde as eleições de 20 de outubro, protestos contra o resultados da votação começaram a sacudir o país. Uma auditoria da Organização dos Estados Americanos indicou fraudes na contagem de votos, vencida por Morales. Ele acabou renunciando, após a Polícia Nacional e as Forças Armadas apoiarem sua saída do governo.
Repressão em Senkata
Ainda de acordo com a Defensoria do Povo, há pelo menos 30 feridos por disparos de armas de fogo após a ação da polícia na refinaria em Senkata.
"De acordo com informações preliminares, as três pessoas que morreram teriam sido atingidas por disparos com arma de fogo. Não sabemos as circunstências em que isso aconteceu", informou a Defensoria do Povo da Bolívia em comunicado.
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Os feridos foram levados a hospitais de El Alto e La Paz. Alguns casos são graves e "necessitam de cirugias", segundo a Defensoria.
Desde o início dos protestos em outubro, segundo a entidade, a Bolívia soma 27 vítimas fatais.
Relatos falam em 'massacre' em El Alto
Porém, os relatos publicados por moradores e profissionais de saúde da região de Senkata, em El Alto, indicam que o número de mortes é ainda maior.
Em um vídeo publicado no Twitter, um médico, que seria o responsável por um posto improvisado de atendimento aos feridos no confronto, afirma ter atendido dezenas de feridos e que seis pessoas morreram em seus braços.
Um jornalista argentino que acompanha a crise na Bolívia também mostrou imagens de uma capela, onde pelo menos cinco pessoas estavam sendo veladas depois de serem carregadas pelos manifestantes.
Outros relatos feitos por moradores a veículos locais falam em "um massacre". Um dos moradores diz ter cruzado por pelo menos 10 mortos nas ruas.
Defensoria cobra fim de ação das Forças Armadas
A entidade cobrou que as Forças Armadas deixem as atividades de patrulhamento nas ruas "a fim de evitar mais mortes", por entender que a situación no país "requer apenas a intervenção policial com fins dissuasivos e de diálogo".
Por sua vez, as Forças Armadas disseram também em comunicado que receberam "informações de inteligência" sobre o risco de que a refinaria onde houve o confronto, da empresa estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), fosse tomada e destruída.
O Exército e a Polícia realizaram uma operação conjunta para preservar "um serviço público essencial estratégico", que se desenvolvia "de forma pacífica" até que "vândalos destruíram parte das instalações", segundo os militares.
Os manifestantes violentos - acrescenta a nota - utilizaram "explosivos de alto poder", com risco de "uma explosão em cadeia".
Os incidentes aconteceram depois que militares e policiais, com veículos blindados e o apoio de um helicóptero, escoltaram um comboio de caminhões tanque que saíam rumo a La Paz para abastecer postos da capital, onde há escassez de combustível.
Desde o último dia 11 são realizadas operações conjuntas entre as forças de segurança para conter a violência no país, onde desde as eleições de 20 de outubro morreram ao menos 27 pessoas e mais de 700 ficaram feridas, segundo dados oficiais.
Em 10 de novembro, Evo Morales anunciou a renúncia após quase 14 anos no poder, após pressão das Forças Armadas, e no dia seguinte viajou ao México, onde está asilado.