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Bolívia tem histórico de golpes e de luta por território

O poder sobre os minérios do país é visto com a mesma importância do que o controle das fronteiras bolivianas

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Evo Morales renunciou no último domingo (10)
Evo Morales renunciou no último domingo (10) Evo Morales renunciou no último domingo (10)

Tal qual a altitude de muitas regiões do país, há um equilíbrio rarefeito na atmosfera política na Bolívia. Uma luta permanente pelo poder, impulsionada pela indústria de estanho e de gás natural, principalmente, é o pano de fundo para a ocorrência de golpes atrás de golpes, desde a independência, em 1809.

Leia mais: Evo Morales renuncia ao cargo de presidente da Bolívia

O poder sobre os minérios do país é visto com a mesma importância do que o controle das fronteiras bolivianas.

Isso explica o fato de que, além de suas turbulências internas, a Bolívia é uma nação com um amplo histórico de guerras para não perder seu território para vizinhos como Peru, Argentina, Chile, Paraguai e até Brasil, país que, após conflitos, pagou uma indenização para obter o território do Acre, em 1903, na assinatura do Tratado de Petrópolis.

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A queda de Evo Morales não foi a primeira e nem deverá ser a última em um país que ainda sofre de enormes fissuras sociais. Ao longo da história, foram pelo menos 16 golpes que impediram a continuação de um eleito no poder.

A renúncia de Morales, no último domingo (10), ocorreu mesmo após alguns anos de grande crescimento econômico, quando, em 2006, assim que assumiu, ele nacionalizou os hidrocarbonetos, gerando recursos para o Estado, mas descontentamentos nas regiões mais ricas, essencialmente no leste, nas províncias de Beni, Santa Cruz e Pando.

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O emaranhado político boliviano tem como base nomes de esquerda que, de tempos em tempos, se depararam com forças militares opositoras. Estas, apoiadas pela oligarquia ou por antigos aliados, tomaram o poder.

O primeiro destes nomes foi Victor Paz Estenssoro, do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário). Em 1952, tendo sido impedido de assumir, apesar de ter recebido mais votos, deixou o exílio e tomou o poder após um golpe.

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Estenssoro nacionalizou os recursos minerais e implementou o voto universal, além da reforma agrária. Mas se aliou a militares de direita, tendo colocado, em 1964, o general René Barrientos, que, em meio a uma crise política, o derrubou sem dó.

Essa questão da reeleição, amplificada por Evo Morales após negar resultado de plebiscito que rejeitava mais de uma repetição de mandato, sempre esteve presente na política boliviana.

Foi no governo de Estenssoro que a reeleição foi aprovada e por isso ele voltou e se reelegeu (antes de sofrer o golpe). Havia assumido, pela segunda vez, no lugar de Hernan Siles Suazo (MNR), que manteve políticas similares às dele.

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Em 1969, Barrientos morreu em um acidente de helicóptero que deixou suspeitas. Seu sucessor, general Juan José Torres sofreu um golpe do coronel Hugo Banzer, que comandou um governo de extrema-direita, perseguindo sindicatos e intervindo em minas.

Sucederam-se no poder uma série de governos de curta duração, a maioria militares, e em agosto de 1971 o governo de Juan José Torres foi derrubado por um golpe de Estado encabeçado pelo coronel Hugo Banzer, que permaneceu até 1978.

Banzer foi derrubado por uma junta que, em meio a uma crise econômica, tinha como maior fonte de receitas o comércio clandestino de cocaína, o que fez os Estados Unidos, aliados destes governantes, iniciarem um período de pressão contrária ao tráfico.

O enfraquecimento de militares deu margem à tentativa de forças democráticas retomarem o poder. Isso ocorreu após a direita ter recebido até o apoio do nazista Klaus Barbie, em 1982. Mas neste mesmo ano, Hernan Siles Suazo retoma o poder, eleito.

Depois, foi a vez de Victor Paz Estenssoro ser novamente presidente, entre 1985. Mas o pêndulo com a direita continuava, desta vez em um momento de maior estabilidade. De 1997 a 2001, o direitista Banzer voltou à presidência.

Morreu pouco antes do fim do mandato, iniciando um novo processo marcado por golpes, como o sofrido por Gonzalo Sánchez de Lozada (2002-2003) que, pressionado por manifestações, deixou o cargo para o vice-presidente Carlos Mesa, hoje o principal opositor de Morales.

Desde que assumiu, Morales vinha conseguindo manter uma estabilidade aparente. Mas ela não durou tanto quanto ele esperava. Suas cartadas se esgotaram. E a queixa em relação à decisão do Tribunal Constitucional da Bolívia, que em 2017 manteve a reeleição ilimitada, apesar da negativa popular em referendo, fizeram efeito agora.

Na tentativa de se reeleger mais uma vez, foi acusado de fraude. Voltou atrás, propôs nova eleição, mas era tarde. Primeiro representante indígena a assumir, conseguiu mudar o cenário por um tempo.

Mas, para isso, precisou tomar medidas polêmicas, que realçaram novamente a polarização do país. Com os Andes, a altitude e uma oposição ferrenha, Morales resistiu até onde deu, em um país que nunca permitiu que um governo tivesse tanto fôlego.

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