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Brasileiros retidos na Itália fazem vídeo com pedido de socorro

Grupo de 51 pessoas, parte delas embarcadas em navio, produziu material pedindo ajuda para voltar e citou falta de recursos e problemas de saúde

Internacional|Clarice Sá, do R7

Beatriz Campilongo, de 26 anos, é uma das brasileiras retidas na Itália
Beatriz Campilongo, de 26 anos, é uma das brasileiras retidas na Itália

Um grupo de brasileiros que está retido em diferentes regiões da Itália em meio à pandemia do novo coronavírus produziu um vídeo para fazer um pedido de socorro e um apelo ao governo federal por ajuda para voltar ao país. "Não apenas estar longe de casa e da família é difícil, mas depois de tanto tempo fora do país os recursos estão ficando escassos", declara o grupo. "Precisamos de ajuda para voltar para o nosso país!", registra o vídeo. A Itália declarou quarentena no dia 9 de março e apertou ainda mais as regras no final do mês.

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Atualmente o grupo reúne 51 pessoas, sendo que 16 estão embarcadas no navio Costa Victoria, ancorado em Roma. Eles se encontraram por meio das redes sociais e o número vem crescendo. Quando o vídeo foi produzido, o número registrado era de 47 pessoas. "Cada dia aparece alguém novo, o grupo só aumenta. Com certeza há mais pessoas pedindo ajuda. Cada um tem um problema, uma necessidade ou prioridade diferente. Tem gente que é do grupo de risco, tem diabético, gente tomando remédio controlado, tem criança, tem idosa", conta Beatriz Campilongo, de 26 anos. De acordo com o Itamaraty, há 260 brasileiros não residentes retidos na Itália. 

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Beatriz é de São Paulo, mas atualmente mora em Brisbane, na Áustralia. Veio para o Brasil passar férias e, no caminho de volta, seguiu para a Itália, onde precisava buscar um documento. Ela chegou no dia 25 de fevereiro em terras italianas e partiria em 25 de março. Mas as fronteiras da Austrália foram fechadas no dia 20 do mês passado. Assim que o anúncio ocorreu, comprou passagem para o Brasil com embarque previsto para 3 de abril. O voo, porém, foi cancelado. Só há previsão de partidas para maio. "Estou aqui 15 dias a mais do que me planejei para financeiramente para ficar. Mas tem gente que está ficando sem remédio", alertou.

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O grupo reclama da falta de retorno da representação brasileira. "Imaginamos que estejam sobrecarregados, com muita gente mandando mensagem ao mesmo tempo, muito trabalho", diz Beatriz. "Eles não respondem nossas mensagens, mandam formulário pra gente preencher. A gente preenche, mas, no fim das contas, não recebe nenhum retorno dizendo se deu efeito. E a gente fica de mãos atadas porque a gente não tem voo para o Brasil durante um mês. O que vai acontecer com as pessoas?".

Nayara, à esquerda, com a filha Lavínia, de 12 anos, e a mãe, Antonieta, de 66 anos
Nayara, à esquerda, com a filha Lavínia, de 12 anos, e a mãe, Antonieta, de 66 anos

A coordenadora pedagógica Nayara Cerqueira, de 34 anos, já perdeu as contas de quantos formulários preencheu. "O Consulado só manda que a gente preencha formulários e mais formulários e responde os e-mails, não dão nenhuma ajuda concreta. Não nos dão esperança se vai ter voo de repatriação ou não." Nayara está na cidade de Formia, a uma hora de Roma com a mãe, de 66 anos, a tia, de 57, e a filha, de 12 anos. As quatro partiriam com destino a Salvador no dia 17 de março. O voo foi cancelado no dia 12. Desde então, seguem hospedadas na casa da irmã de Nayara, que mora com o marido e um bebê de seis meses, que foi o grande motivo da viagem em família. 


Sem contar com o apoio de parentes, a relações públicas Julia Lima, de 31 anos, não sabe para onde vai daqui a cinco dias, quando terá de deixar a casa onde está abrigada, no sul da Itália. Julia viajou ao país em junho do ano passado para conseguir o reconhecimento da cidadania italiana. Mas o processo foi concluído no início de março. Em seguida, veio a quarentena. Sem ter onde ficar, Julia diz que não consegue contar com o suporte do governo brasileiro.

Em resposta enviada a ela na quarta-feira (8), o Consulado-Geral do Brasil em Roma afirma que "o espaço aéreo italiano, diferentemente do que ocorreu em Wuhan e em outros países, nunca foi fechado. No momento, há voos da Lufthansa e da KLM operando de Roma com destino ao Brasil, cujos bilhetes podem ser adquiridos diretamente no site dessas companhias." Os voos previstos para abril, no entanto, estão sendo cancelados. Com o adiamento do retorno, Julia tem medo de ficar sem a medicação controlada que toma para depressão e ansiedade.

Outro lado

Acionado pela reportagem, o Consulado-Geral do Brasil em Roma afirma em mensagem automática que "a força tarefa do Covid-19 entrará em contato tão logo possível", envia um endereço para preenchimento de um formulário e pede informações sobre bilhetes de voos suspensos, remarcados ou cancelados.

O Ministério das Relações Exteriores tem um Grupo Especial de Crise COVID-19 com contatos específicos para brasileiros que estão na Europa, América do Sul, América do Norte, Central e Caribe, África e Oriente Médio e Ásia e Oceania. Os contatos estão disponíveis aqui. O R7 foi prontamente atendido ao entrar em contato, mas como o serviço é destinado apenas aos brasileiros fora do país, foi orientado a procurar o Itamaraty. Nayara, ao buscar o serviço, foi orientada a procurar o Consulado.

O Itamaraty afirmou que os "Consulados do Brasil na Itália, em Roma e em Milão, estão trabalhando para lograr o retorno dos brasileiros não residentes retidos na Itália e, simultaneamente, para buscar formas de poder ajudar aos brasileiros residentes que se encontrem em situação de desvalimento financeiro."

Formulários

Sobre o pedido de preenchimento de formulários, o Itamaraty informa "que permitem maior produtividade no tratamento do pedido de assistência. Já munido das informações sobre a demanda, o que é propiciado pelo preenchimento do formulário, o funcionário entrará em contato com o interessado somente após reunir conjunto de informações suficiente para tornar mais rápido o procedimento." 

Assim como o Consulado, o Itamaraty informa ainda que há voos comerciais disponíveis para o Brasil. "Sabemos haver severas restrições de movimentação no interior do país e normas estritas de isolamento social em vigor, o que reduz o leque de opções disponíveis para a repatriação. A situação está sendo considerada pelo governo brasileiro e continuamos a explorar todas as possibilidades que permitam a repatriação dos brasileiros."

A recomendação para quem teve voos cancelados é procurar a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) ao chegar ao Brasil para consultar os procedimentos legais em relação à companhia aérea.

O Itamaraty informou ainda que cerca de 30 famílias residentes na Itália foram beneficiadas com entrega de alimentos pelo Consulado em Roma e outras 40 devem receber nos próximos dias. "No que diz respeito aos migrantes brasileiros residentes permanentemente no exterior, é importante ressaltar que as representações no exterior dispõem de verbas de assistência para casos emergenciais, mas não há previsão orçamentária para a concessão de auxílio continuado. Tendo em vista a maior incidência de casos de desvalimento, em decorrência da crise econômica que acompanha as medidas de isolamento social decretadas, outras soluções estão sendo exploradas, como a organização de redes de assistência, com auxílio de organizações religiosas, associações, cidadãos brasileiros e locais", declara o órgão.

Nesta quinta-feira (8), a Itália registrava 17.669 mortes. Há uma tendência de baixa nos últimos dias. Desde que o coronavírus foi identificado no país, em 20 de fevereiro, foram confirmados 139.422 casos.

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