Carlos Ghosn será investigado no Líbano, afirma ministro
Ex-presidente da Renault-Nissan é considerado fugitivo internacional, após ter deixado o Japão, onde responde a processos criminais
Internacional|Fernando Mellis, do R7, com agências internacionais
O ministro interino da Justiça do Líbano, Albert Aziz Serhan afirmou nesta quinta-feira (2), em entrevista à emissora de TV japonesa NHK, que autoridades libanesas irão investigar o ex-presidente da Renault-Nissan, abrigado no país após fugir do Japão, onde responde a processos criminais. Segundo ele, o ex-executivo deve ser interrogado.
Também nesta quinta-feira, o Líbano foi notificado pela Interpol de que Ghosn é considerado foragido no Japão e teve seu nome incluído na lista de difusão vermelha.
Questionada pelo R7, a Interpol diz que "não comenta casos ou indivíduos específicos, exceto em circunstâncias especiais e com a aprovação do país membro em questão". Afirmou ainda que o Aviso Vermelho é uma solicitação para prender provisoriamente um indivíduo pendente de extradição, renúncia ou ação legal semelhante. Não é um mandado de captura internacional."
Dessa forma, esclarece a organização, "cada país decide por si mesmo qual o valor legal para dar a um Aviso Vermelho dentro de suas fronteiras".
O pedido de prisão ainda será encaminhado à justiça do Líbano, mas não há precedentes de detenções em casos semelhantes no país.
O ex-executivo, que tem cidadanias brasileira, libanesa e francesa, estava proibido de deixar o Japão. Ele saiu da cadeia em abril do ano passado, em um acordo de fiança de US$ 14 milhões (R$ 54 milhões) que consistia na entrega dos passaportes.
No entanto, um dos dois passaportes franceses dele foi mantido em uma mala com uma chave, que estava com seus advogados. Isso teria ocorrido porque cidadãos estrangeiros não podem ficar sem um documento no Japão.
Na terça-feira, Salim Jreissati, ministro de Estado libanês para assuntos presidenciais, afirmou à imprensa local que Ghosn entrou legalmente no Líbano com um passaporte francês e documento de identidade libanês.
A lei libanesa prevê que cidadãos possam ser processados localmente por crimes cometidos em outros países desde que esses delitos existam também nas leis do Líbano, o que parece ser o caso.
No Japão, Carlos Ghosn, que comandou a aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, é acusado de má conduta financeira, o que inclui processos de desvio de dinheiro da Nissan para fins pessoais e ocultação de rendimentos das autoridades de fiscalização.
O ex-titã da indústria automotiva ficou preso por 130 dias preso, período em que a família dele fez duras críticas ao sistema de justiça japonês.
Uma das queixas era a proibição de Ghosn se encontrar com a mulher, Carole, mesmo depois de ser solto. A única ocasião em que se viram foi por meio de uma videoconferência autorizada pela justiça.
Recentemente, o ex-executivo teria ficado descontente com o fato de saber que seu julgamento ocorreria apenas em 2021.
Ele emitiu um comunicado na terça-feira, confirmando que estava no Líbano.
"Agora estou no Líbano e não vou mais ser refém de um sistema judicial japonês fraudulento, onde se presume culpa, a discriminação é galopante e direitos humanos básicos são negados", disse Ghosn, de 65 anos.
"Não fugi da justiça, escapei da injustiça e da perseguição política. Agora posso finalmente me comunicar livremente com a mídia e estou ansioso para começar na próxima semana", acrescento.
O Líbano não tem tratado de extradição com o Japão. Uma secretária de governo da França, país que Ghosn também tem cidadania, afirmou nesta quinta-feira que o empresário não seria extraditado, caso fosse a território francês.
O ex-executivo deve conceder uma entrevista coletiva na próxima quarta-feira (8), em que possivelmente dará mais detalhes sobre a fuga.
Julgamento adiado
Fontes próximas a Ghosn disseram à agência Reuters que ele decidiu fugir após uma recente audiência judicial em que soube que o segundo dos dois julgamentos que enfrenta seria adiado até abril de 2021.
"Eles disseram que precisavam de mais um ano inteiro para se preparar para isso... Ele ficou angustiado por não poder ver ou falar com a esposa", disse uma das fontes próximas a Ghosn.
Um pedido para ver ou falar com a esposa no Natal também foi negado, acrescentaram as fontes, como parte das rígidas condições estabelecidas na fiança do executivo.
As fontes disseram ainda que Ghosn ficou angustiado porque as autoridades estavam pressionando sua família de forma a obter uma confissão dele, depois que sua filha e seu filho foram interrogados por promotores japoneses nos Estados Unidos no início de dezembro.
Em sua segunda declaração pública desde o desembarque em Beirute, Ghosn disse em um comunicado que sua família não teve nenhum papel em sua saída do Japão. "Eu organizei sozinho minha partida", disse.
Ghosn foi preso pela primeira vez em Tóquio em novembro de 2018 e enfrenta quatro acusações no Japão por supostos crimes financeiros, incluindo ocultação de renda e enriquecimento através de pagamentos a concessionárias de carros no Oriente Médio. Ele nega as acusações.