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Chileno que mora na Suécia vai à Síria em busca dos 7 netos órfãos

Pai das crianças era um jihadista sueco que se juntou ao Daesh. Suécia não possui acordo de repatriação de órfãos e avô não sabe se pode levar os netos

Internacional|Da EFE

Patrício Gálvez encontrando seus netos
Patrício Gálvez encontrando seus netos

Patricio Gálvez é chileno e há 30 anos mora na Suécia. Há poucos dias, ele decidiu ir para a Síria para resgatar os sete netos, frutos do relacionamento da sua filha com um conhecido jihadista sueco-norueguês, no campo de refugiados de Al-Hawl.

Administrado por autoridades curdas, aproximadamente, 80 mil deslocados — entre eles milhares de estrangeiros — vivem no local, de acordo com a Cruz Vermelha.

Eles são, em sua maioria, familiares de combatentes do Daesh que fugiram após a derrota dos jihadistas, há pouco menos de um mês, em Baghouz, último reduto do grupo, que criou um califado no norte da Síria e do Iraque.

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A rendição no dia 23 de março fez com que Gálvez se convencesse de que tinha que ir à Síria, aonde chegou sem saber onde e como estavam as crianças.


"Não tive ajuda de ninguém, apenas de um guia", contou ele, em conversa através de mensagens de texto com a Agência Efe, sobre a viagem a um lugar que possui limitações de movimento e de comunicação e onde a desconfiança é constante.

O drama de Gálvez recebeu grande atenção da imprensa sueca. No início da semana, ele conseguiu reencontrar os netos, que tem entre um e oito anos, e a experiência produziu sentimentos contraditórios.


"Foi maravilhoso ver que estão todos vivos, mas, ao mesmo tempo, foi muito angustiante perceber que estão desnutridos e doentes. Os curdos não têm recursos para ajudar", lamentou o avô, que não sabe se poderá ter contato direto novamente com os pequenos.

Com poucas esperanças, Gálvez reconheceu que as crianças "morrerão uma após outra" se ele não conseguir tirá-las de Al-Hawl o quanto antes. Mas isso não depende exclusivamente da sua vontade. Os trâmites de retorno só avançarão se as autoridades suecas entrarem em contato com as Forças da Síria Democrática (FSD), aliança de milícias majoritariamente curdas que controla a região, para providenciar a documentação e as permissões necessárias.


Diferentemente de países como a França, a Suécia não contempla ainda a repatriação de órfãos de jihadistas suecos que foram para a Síria para se unir ao Daesh, justificando que as situações jurídica e de segurança são muito complicadas.

"São covardes que não respeitam a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança. Hoje, não se trata de passaporte nem de documentos consulares. É uma ação humanitária", enfatizou Gálvez, de 50 anos e que inicialmente foi para terras suecas fazer uma visita ao irmão.

Na Suécia, onde uma numerosa colônia chilena existe desde a década de 70 — muitos exilados da ditadura de Pinochet —, vozes críticas à hipotética repatriação de familiares de jihadistas surgiram, da mesma forma que acontece em outros países. Para ele, essa é uma postura incompreensível.

"Deveriam aprender um pouco mais sobre humanidade e fazer um curso de empatia. As crianças já sofreram o suficiente e são inocentes nisso tudo. São apenas vítimas", ressaltou Gálvez, cuja filha, Amanda, morreu em dezembro do ano passado em um ataque aéreo.

Ela tinha ido para a Síria de férias, em 2014, com seus quatro filhos — outros três nasceram na Síria — e o marido, Michael Skråmo, ambos convertidos ao islã.

Nascido na Noruega, mas criado na cidade sueca de Gotemburgo, Skråmo ficou famoso por gravar vídeos convidando outros suecos a se juntarem ao Daesh para atacar à Suécia, país que faz parte da coalizão internacional contra esse grupo jihadista.

Segundo a mãe de Skråmo, em declarações à TV pública sueca "SVT", seu filho morreu em meados de março em um ataque à Baghouz.

Chegar ao nordeste da Síria representou um sacrifício econômico para Gálvez, que faz todos os esforços necessários para estar perto das crianças, apesar de acreditar que as autoridades curdas não o deixarão ver os netos de novo por enquanto.

O avô, cujos familiares na Suécia criaram um abaixo-assinado online para pedir a repatriação das crianças, no entanto, garantiu ter uma certeza. "Daqui eu não saio sem as crianças", frisou.

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