Cientistas desenvolvem rato peludo durante tentativa de recriar mamutes; veja fotos
Roedor geneticamente modificado é passo inicial em projeto de empresa dos Estados Unidos para trazer de volta espécies extintas
Internacional|Do R7

Um pequeno rato de laboratório com bigodes encaracolados e pelos dourados e ondulados pode ser a chave para um dos projetos mais ambiciosos da ciência moderna: trazer de volta o mamute lanoso, espécie que desapareceu do planeta há mais de quatro mil anos.
Desenvolvido por uma empresa privada dos Estados Unidos, o roedor geneticamente modificado exibe características que lembram o antigo mamífero, como pelos longos e cacheados, resultado de edições em oito genes.
O anúncio foi feito nesta terça-feira (4), em um comunicado que detalha os avanços da companhia sediada em Dallas, no Texas.
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A empresa, fundada em 2021 pelo empreendedor Ben Lamm e pelo geneticista George Church, da Universidade de Harvard, já arrecadou US$ 435 milhões (cerca de R$ 2,6 bilhões) para concretizar o plano de ressuscitar espécies extintas, como o mamute, o dodô e o tigre da Tasmânia.
O rato lanoso, segundo a empresa, é uma prova de conceito essencial. Ele permite testar hipóteses sobre como alterações específicas no DNA podem recriar traços que ajudaram o mamute a sobreviver em climas frios, como pelos espessos e maior gordura corporal.
“É um passo importante para validar nossa abordagem de ressuscitar características perdidas para a extinção”, afirmou a Dra. Beth Shapiro, diretora científica da Colossal, em nota à imprensa.
Shapiro, que está de licença de seu cargo como professora na Universidade da Califórnia, destacou no comunicado que o rato é um marco rumo à criação de um animal híbrido entre o mamute e seu parente vivo mais próximo, o elefante asiático.
Como o rato foi criado?
Para desenvolver o roedor, os cientistas identificaram 10 variantes genéticas que diferenciam o mamute do elefante asiático, focando em genes ligados ao comprimento, textura e cor dos pelos, além da gordura corporal.
Um exemplo é o gene FGF5, responsável pelo crescimento capilar, que foi alterado para produzir pelos mais longos e desgrenhados. Outros genes, como o MC1R, foram editados para dar ao rato uma pelagem dourada, distinta do pelo escuro típico dos camundongos de laboratório.

A equipe utilizou três técnicas avançadas de edição genética para modificar sete genes de camundongos simultaneamente, inserindo uma oitava variante derivada do mamute, associada ao aumento de gordura corporal -- embora ainda não haja evidências de que essa última alteração tenha funcionado como esperado.
Os resultados foram descritos em um artigo científico ainda não revisado por pares -- etapa essencial na validação da pesquisa acadêmica --, disponível como pré-print.
Um plano maior: mamutes no Ártico
O objetivo final da empresa vai além de criar ratos peludos. A empresa planeja usar a mesma tecnologia para modificar elefantes asiáticos, tornando-os adaptados ao frio, com pelos longos e maior resistência a baixas temperaturas.
Esses “elefantes peludos” seriam introduzidos na tundra ártica, onde, segundo a companhia, ajudariam a preservar o permafrost, solo congelado que armazena grandes quantidades de carbono.
A presença de criaturas semelhantes a mamutes, argumenta a empresa, compactaria a neve e estimularia o crescimento de gramíneas, reduzindo o degelo e a liberação de gases de efeito estufa.
Ben Lamm, CEO da empresa, afirmou à BBC que o projeto está no caminho certo. “Teremos os primeiros embriões de elefantes adaptados ao frio até o final de 2026, com os primeiros bezerros nascendo em 2028”. A longo prazo, a ideia é criar rebanhos que restaurem o equilíbrio ecológico do Ártico.
Ceticismo
Apesar do entusiasmo, o projeto enfrenta críticas. Cientistas independentes questionam a viabilidade de escalonar as alterações dos camundongos para elefantes em tão pouco tempo. Há também preocupações éticas: edições genéticas que funcionam em ratos podem causar anormalidades ou sofrimento em elefantes, e os animais híbridos poderiam ser rejeitados por outros membros de suas espécies.
Críticos apontam ainda que os US$ 435 milhões investidos poderiam ser direcionados para a conservação de espécies ameaçadas, em vez de recriar animais extintos. Para eles, o projeto seria mais uma façanha publicitária do que uma solução ambiental prática.
A empresa rebate as acusações. “Nosso rato é uma ferramenta para testar alterações genéticas com segurança antes de aplicá-las em elefantes”, disse Shapiro. Ela destaca que a empresa também trabalha em tecnologias como úteros artificiais e vacinas para elefantes, além de projetos para aumentar a biodiversidade, como a reintrodução de diversidade genética em espécies em risco.