Cometa 3I/Atlas foi transformado por bilhões de anos de radiação espacial
Pesquisadores descobriram que o corpo interestelar teve sua estrutura química alterada por raios cósmicos
Internacional|Do R7
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O telescópio espacial James Webb revelou que o cometa interestelar 3I/Atlas passou por uma profunda transformação ao longo de bilhões de anos vagando pela Via Láctea.
O corpo celeste, formado em outro sistema estelar, acumulou tanta radiação cósmica durante sua trajetória que desenvolveu uma crosta irradiada de dezenas de metros, completamente diferente de sua composição original.
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Os cientistas explicam que os raios cósmicos galácticos, que são partículas altamente energéticas vindas de fora do Sistema Solar, interagem com o gelo e o monóxido de carbono presentes em cometas. Ao longo do tempo, essas colisões convertem óxido de carbono (CO) em dióxido de carbono (CO₂), alterando a química da superfície.
Enquanto os planetas e cometas do nosso sistema são protegidos pela heliosfera, uma bolha criada pelo Sol que bloqueia parte da radiação, o 3I/Atlas não teve essa proteção durante sua longa jornada interestelar.
O estudo liderado por Romain Maggiolo, do Instituto Real Belga de Aeronomia Espacial, concluiu que a crosta modificada do 3I/Atlas atinge entre 15 e 20 metros de profundidade. “É um processo muito lento, mas, ao longo de bilhões de anos, produz um efeito muito intenso”, explicou Maggiolo. Segundo ele, o cometa é agora mais um produto de sua viagem pelo espaço do que do ambiente em que nasceu.
A descoberta representa uma mudança de paradigma no estudo de objetos interestelares. Até recentemente, acreditava-se que cometas vindos de fora do Sistema Solar preservavam materiais “primitivos”, semelhantes aos do seu sistema original. A nova análise sugere o oposto: esses corpos podem ter sido amplamente remodelados pela exposição prolongada aos raios cósmicos, tornando-se testemunhos das condições extremas do espaço entre as estrelas.
O 3I/Atlas encontra-se atualmente em órbita ao redor do Sol, após atingir o periélio, o ponto mais próximo da estrela, em 29 de outubro. Ao se aproximar, o calor solar fez o gelo irradiado sublimar, liberando gases e poeira. Os pesquisadores esperam que a erosão causada pela radiação solar possa, eventualmente, expor camadas internas ainda intactas, permitindo análises sobre sua composição original.
“Será muito interessante comparar as observações antes e depois do periélio”, afirmou Maggiolo. “Talvez possamos ter indícios da composição inicial do cometa se o material mais profundo for revelado.” Essa possibilidade pode fornecer novas pistas sobre as condições químicas do espaço interestelar primitivo, e até sobre o nascimento da própria Via Láctea.
Descoberto em julho, o 3I/Atlas atravessa o Sistema Solar a mais de 210 mil quilômetros por hora em uma trajetória incomum, quase retilínea. Astrônomos estimam que ele seja cerca de 3 bilhões de anos mais antigo que o próprio Sistema Solar, tornando-o talvez o cometa mais antigo já observado. Suas imagens mais recentes foram obtidas pelo espectrógrafo infravermelho do James Webb, que detectou grandes concentrações de dióxido de carbono.
O novo estudo amplia trabalhos anteriores que já indicavam a presença abundante desse composto. A equipe de Maggiolo utilizou modelos de laboratório e simulações baseadas em estudos do cometa 67P, conhecido pela missão Rosetta, para estimar o impacto cumulativo da radiação cósmica. As simulações mostraram que um bilhão de anos de exposição já seria suficiente para formar a crosta profunda observada.
Mesmo envelhecido e transformado, o 3I/Atlas continua sendo um objeto valioso para a astronomia moderna. “Precisamos levar em conta os efeitos do envelhecimento cósmico, o que dá mais trabalho aos cientistas, mas [o cometa] ainda é muito interessante”, disse Maggiolo. Para os pesquisadores, cada partícula de sua superfície carrega um registro da história energética da galáxia.
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