Como é a Linha de Controle Real, área disputada por China e Índia
Fronteira entre dois países nunca foi bem definida, e a região mais vulnerável da divisa se tornou palco de conflitos armados e de interesse
Internacional|Do R7
Depois de mais de quatro décadas sem conflitos armados, a região inóspita do Vale de Galwan, na fronteira entre a China e a Índia, se tornou palco de um confronto entre soldados dos dois países na última segunda-feira (15).
O vale, que fica na área de Ladakh, na cordilheira do Himalaia, fronteira entre os dois países, era normalmente pacífico e não registrava guerras desde 1962, disputada entre China e Índia.
A área montanhosa é pouco habitada, já que fica a mais de 4,2 mil metros de altura, e é fria, chegando a registrar temperaturas abaixo de zero. A população regular do local são soldados indianos e chineses, que vigiam a fronteira.
Foram justamente esses soldados que se confrontaram no início da semana, usando porretes e pedras. Pelo menos 20 soldados indianos morreram na chamada Linha de Controle Real, a fronteira. A China não divulgou o número de baixas.
O conflito dessa semana aconteceu depois de a China supostamente ter avançado em território indiano para montar tendas, cavar trincheiras e se instalado pela região. A ação não foi vista com bons olhos pela patrulha da fronteira indiana.
A fronteira entre os dois países é montanhosa e cheia de rios, além de que os dois nunca chegaram a um consenso sobre a extensão total da divisa, o que torna a delimitação da área mais complicada. Além disso, ali fica a Caxemira, região altamente militarizada e disputada entre China, Índia e Paquistão.
Com o suposto avanço da China no território, uma nova rodovia indiana e uma disputa territorial nunca resolvida, os dois países estão se preparando para possíveis novos confrontos.
O conflito da demarcação da fronteira
A Linha de Controle Real é a divisa entre o território chinês e o território indiano, mas os dois países nunca entraram em um consenso sobre o tamanho da fronteira e quais regiões pertencem a quem.
Para a Índia, a linha tem 3.488 quilômetros, enquanto a China reconhece apenas 2 mil quilômetros da demarcação. A fronteira é dividida em três setores: Arunachal Pradesh e Sikkin, no leste, Uttarakhand e Himachal Pradesh na zona central e Ladakh no oeste, onde aconteceu o confronto de segunda.
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A definição da fronteira é contestada desde 1956, quando a Índia mencionou a região de Ladakh pela primeira vez para a China. O então primeiro-ministro chinês, Zhou Enlai, não concordava com a demarcação da linha.
No fim dos anos 1950, começaram trocas de agressões entre militares nos dois países, que resultou na Guerra Sino-indiana de 1962, que durou um mês e terminou com uma expressiva vitória da China sobre a Índia. Os chineses chegaram a dominar até o sopé da cordilheira do Himalaia, mas voltaram até o território que ocupavam antes.
Os dois países só entraram em uma espécie de acordo em 1991, depois da visita do premiê chinês Li Peng, que se comprometeu a manter a paz e a tranquilidade na região. Em 1993, os líderes dos dois países assinaram o Acordo para Manter a Paz e a Tranquilidade na Linha de Controle Real.
Ainda assim, até hoje patrulhas e soldados dos dois países se encontram com frequência na região de Ladakh, mas os encontros nunca tinham terminado em confronto.
A estrada indiana
Para a BBC, o especialista militar indiano Ajai Shukla disse que a construção de uma estrada indiana na região de Ladakh pode ter motivado o aumento das tensões entre os dois países. Apesar da falta de delimitação na área, Ladakh era considerada uma região tradicionalmente pacífica.
A Índia construiu uma rodovia bem na área mais vulnerável e remota da fronteira, o que deixou a China desconfiada, já que a estrada, inaugurada em 2019, se conecta a base aérea Daulat Beg Oldi.
Além da base, a estrada também permitiria que tropas indianas chegassem mais rápido na região fronteiriça inóspita caso necessário.