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Como o Haiti mergulhou em um banho de sangue promovido por gangues

Violência de grupos criminosos matou mais de 5.600 pessoas no Haiti em 2024, diz ONU

Internacional|Heytor Campezzi, do R7

Carro queimado serve como barricada em rua de Porto Príncipe, no Haiti Giles Clarke/UNOCHA

Pelo menos 5.601 pessoas foram mortas no Haiti em 2024 em meio à crescente onda de violência entre gangues na qual o país vive mergulhado, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

O Haiti atravessa há décadas uma crise política e econômica que se agravou nos últimos anos por causa do aumento de grupos criminosos. Hoje, a maior parte da capital Porto Príncipe é dominada por gangues armadas, que controlam as estradas que conectam a cidade ao resto do país.

Nesse contexto, o número de assassinatos em território haitiano aumentou mais de 20% em comparação com o ano de 2023, de acordo com o Gabinete de Direitos Humanos da ONU. Além disso, mais de 2.200 outras pessoas foram feridas e quase 1.500 foram sequestradas no ano passado.

“Esses números por si só não conseguem capturar os horrores absolutos que estão sendo perpetrados no Haiti, mas mostram a violência incessante à qual as pessoas estão sendo submetidas”, disse Volker Türk, o alto comissário da ONU para os direitos humanos, nesta terça-feira, 7.


Exemplo de violência que os números mostram

Entre as vítimas do ano passado, estão 207 pessoas, a maioria delas idosas, que foram mortas em um massacre conduzido por membros do grupo criminoso Wharf Jeremie na área de Cité Soleil, um dos bairros mais pobres da capital, no início de dezembro. Muitas delas foram acusadas pelo líder do grupo, Manoel Félix, de envolvimento na morte do filho dele.

As vítimas também incluem dois jornalistas e um policial mortos quando homens armados abriram fogo contra uma multidão que se reuniu para a reabertura do maior hospital público do país, na véspera do Natal.


Viatura da Polícia Nacional do Haiti baleada em protesto no centro de Porto Príncipe Giles Clarke/OCHA

A ONU ainda contabiliza 315 linchamentos de membros de gangues e supostos integrantes desses grupos e mais de 280 assassinatos cometidos pela polícia em supostas execuções sumárias.

“Há muito tempo está claro que a impunidade por violações e abusos de direitos humanos, bem como a corrupção, continuam prevalecendo no Haiti, constituindo alguns dos principais impulsionadores da crise multidimensional que o país enfrenta, juntamente com desigualdades econômicas e sociais arraigadas”, disse Türk.


Como surgiram os grupos criminosos no Haiti

Segundo a ONU, mais de 150 gangues atuam dentro e ao redor do país caribenho. São grupos que operam como organizações criminosas, acusados de assassinatos, sequestros e tráfico de drogas.

“O crime organizado foi se estabelecendo e fortalecendo a atuação no Haiti nos últimos dez anos, principalmente porque as gangues substituem o papel do Estado no oferecimento de proteção, comida, escola etc.”, diz Vanessa Matijascic, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (NUPRI) da Universidade de São Paulo (USP).

Mas a violência é ainda mais antiga no país, segundo a pesquisadora. “A Guerra Fria foi um momento no qual o regime duvalierista (referência a ditadura de François Duvalier e Jean-Claude Duvalier, pai e filho, respectivamente, que controlaram o Haiti entre 1957 e 1986) impôs forte centralização e perseguiu opositores. Com o colapso de regime, vários grupos surgiram para disputar o poder e a violência cresceu. Com a presença das operações de paz da ONU, a segurança foi restabelecida. No entanto, longos anos de operações não puderam camuflar que, durante os anos 90 e 2000, a violência voltara novamente”, diz.

Por que a crise de segurança pública piorou agora?

A crise de segurança pública se agravou mais recentemente, depois do assassinato do ex-presidente Jovenel Moïse, em 2021. Desde então, o governo sofreu disputas políticas internas. Ao mesmo tempo, a polícia haitiana também tem sido acusada de agir violentamente contra suspeitos de integrar grupos criminosos.

Em 2022, o Haiti solicitou apoio à ONU para conter a violência das gangues. O pedido foi aprovado um ano depois e, desde junho de 2024, o país recebe uma Missão Multinacional de Apoio à Segurança (MSS, na sigla em inglês) que é liderada por policiais do Quênia e apoiada pelas Nações Unidas.

Pessoas que fugiram de casa agora vivem em escolas no Haiti WFP Haiti

A missão, porém, foi parcialmente implantada até agora. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse no ano passado que os recursos disponíveis ainda são insuficientes para a plena operação da missão.

No ano passado, líderes haitianos e os Estados Unidos pediram para que a ONU assumisse a missão e a convertesse em uma operação oficial de manutenção da paz, o que permitiria financiamento contínuo, e não voluntário, como ocorre hoje. No entanto, Rússia e China rejeitaram a proposta no Conselho de Segurança.

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